O Amor nos Tempos dos Botões
Era uma vez um tempo em que havia cerração nas manhãs — amada cerração. Era comum nestes dias, bem cedo, com a cerração presente, eu e minha mãe irmos até ao portão para nos despedirmos de meu pai — papai era viajante e saía sempre com a cerração presente, antes mesmo do canto dos primeiros pássaros. Papai, meia hora antes da despedida, ligava o motor e acendia a luz da cabine; naqueles instantes derradeiros antes da partida, eu — já de coração partido — entrava naquele local sagrado para ele, sentava no banco e ficava olhando encantado o volante, os vidros, o teto, os pedais, e sobretudo, o painel com uma infinidade botões, maravilhosos botões — um derradeiro olhar mágico dentro da cabine envolvida pela cerração da manhã. Papai então dizia-me: "Para poder ir e voltar meu filho, é necessário conhecer a função de cada botão, e acioná-los no momento apropriado" — a carreta era a vida do meu pai. Encantado com tudo aquilo, e orgulhoso pela sabedoria do meu pai,...