O Menino Lampião e o Pássaro da Ilusão
Era uma vez, lá naqueles tempos remotos da guerra da escuridão, um menino de nome Lampião, que em uma certa manhã plantava árvores em um campo, acompanhado por Luz, sua vira lata e constante companheira. O menino carregava um balaio de taquara com as mudas que seriam plantadas naquele dia, e conforme fazia uma nova cova, retirava feliz do balaio uma pequenina árvore.
Luz, ora ficava por ali, perto dele, e de vez em quando dava umas voltas latindo para os pássaros, para as folhas, para o vento... em determinado momento Luz começou a farejar o chão e foi aos poucos afastando-se do menino, e enquanto distanciava-se, latia, e aquilo chamou a atenção de Lampião, que deixou seu balaio e suas mudas de lado, e correu no encalço de sua amiga, seria um outro jacu? Não, não era um jacu... aproximando-se de Luz que ainda farejava, Lampião começou a ouvir um abafado grito: "Socorro, socorro, alguém pode me ajudar? Socorro..." De onde estaria vindo aquele grito? Instantes depois Luz chegava no local do pedido de socorro: era um poço emocional, ou ainda, um ninho de ilusões, algo muito comum por aquele floresta do Reino do Meio, nos tempos da guerra da escuridão.
Lampião chegou na borda do poço; olhou lá para dentro - era uma escuridão só. - Tem alguém aí? - Gritou o menino.
Luz, ora ficava por ali, perto dele, e de vez em quando dava umas voltas latindo para os pássaros, para as folhas, para o vento... em determinado momento Luz começou a farejar o chão e foi aos poucos afastando-se do menino, e enquanto distanciava-se, latia, e aquilo chamou a atenção de Lampião, que deixou seu balaio e suas mudas de lado, e correu no encalço de sua amiga, seria um outro jacu? Não, não era um jacu... aproximando-se de Luz que ainda farejava, Lampião começou a ouvir um abafado grito: "Socorro, socorro, alguém pode me ajudar? Socorro..." De onde estaria vindo aquele grito? Instantes depois Luz chegava no local do pedido de socorro: era um poço emocional, ou ainda, um ninho de ilusões, algo muito comum por aquele floresta do Reino do Meio, nos tempos da guerra da escuridão.
Lampião chegou na borda do poço; olhou lá para dentro - era uma escuridão só. - Tem alguém aí? - Gritou o menino.
- Sim... - gritou a voz no fundo do poço -, pode me ajudar a sair daqui?
- Qual o seu nome?
- Chamo-me André.
- André, meu nome é Lampião. Se eu jogar um cipó, você consegue subir através dele?
- Qual o seu nome?
- Chamo-me André.
- André, meu nome é Lampião. Se eu jogar um cipó, você consegue subir através dele?
- Acho que não Lampião, estou muito fraco, e além do mais, estou coberto de entulhos aqui no fundo do poço.
O menino refletiu um pouco sobre aquele problema. Como tirar o pobre André do fundo do poço emocional, ou do ninho das ilusões? Então ocorreu lhe uma ideia.
- Escute André... Tenho um cesto que acho que pode ser útil. Vou descê-lo cheio de terra amarrado no cipó, você aí embaixo então deposita a terra no fundo do poço, e em seguida carregue o cesto com os entulhos, e eu aqui em cima puxo de volta. Compreendeu André?
- Sim Lampião, perfeitamente...
E assim, ao longo daquele dia, inúmeras vezes o cesto desceu com terra e subiu com entulho, e aos poucos o poço foi ficando menos entulhado, e cada vez mais raso. O sol começava a declinar no horizonte, quando finalmente o menino Lampião pode avistar André, e mais alguns balaios depois, conseguia finalmente tocar em suas mãos, e finalmente retirá-lo em definitivo do ninho das ilusões, que agora não passava de um poço raso.
- Sim Lampião, perfeitamente...
E assim, ao longo daquele dia, inúmeras vezes o cesto desceu com terra e subiu com entulho, e aos poucos o poço foi ficando menos entulhado, e cada vez mais raso. O sol começava a declinar no horizonte, quando finalmente o menino Lampião pode avistar André, e mais alguns balaios depois, conseguia finalmente tocar em suas mãos, e finalmente retirá-lo em definitivo do ninho das ilusões, que agora não passava de um poço raso.
André olhou para o menino com profundo sentimento de gratidão.
- Você salvou minha vida menino, serei eternamente grato a ti.
- Agradeça sobretudo a Luz, André, foi ela quem te localizou no fundo do poço, enquanto eu plantava algumas árvores.
Com lágrimas nos olhos André aproximou-se de Luz, e afagou sua cabeça com enorme carinho. Luz retribuiu lambendo-lhe as mãos e abanando o seu rabo.
- Como você caiu neste poço André? - perguntou o menino Lampião.
- Andava tranquilamente pela floresta menino, quando me deparei com um pássaro em uma árvore; uma ave multicolorida, de uma beleza infinita...
- Sim... - falou Lampião - e com um canto maravilhoso...
- Isto menino... ouvi o seu canto, e fiquei completamente inebriado, completamente ébrio e encantado; nunca ouvi canto tão bonito em toda a minha vida.
- Um canto de promessas futuras, de felicidade distante; um canto de um amanhã maravilhoso...
- Sim Lampião, sim... Conforme fui ouvindo o canto do pássaro fui me distanciando mais e mais de meus problemas e de minha realidade.
- Um canto André, onde todos os sonhos são realizados, onde o paraíso surge como em um passo de mágica; um canto de um mundo perfeito e cheio de paz, um canto de um lugar onde tudo é perfeição e alegria, sem nenhum grande esforço...
- Sim Lampião... um canto onde eu era o herói, um canto onde todas as luzes do mundo brilhavam para mim, um canto onde eu era o centro de todo o universo, o homem mais poderoso e feliz do mundo, eu era o centro e o Rei...
- E você foi se encantando com o canto André?
- Isso menino, isso... porém, por mais que eu ouvia e me aproximava do pássaro, mais ele se distanciava, carregando consigo todas as minhas aspirações de felicidade; Lampião... a cada instante, cada vez mais sequioso de viver em mim todas as maravilhosas promessas trazidas pelo canto do grande pássaro, ia, aos poucos esquecendo de mim mesmo, e paulatinamente penetrando mais e mais na grande floresta, com a desagradável sensação de que a cada instante estava me afastando cada vez mais de minha própria natureza, perdendo-me cada vez mais, e me afundando aos poucos em um grande e escuro poço.
- E quando você deu por si André, estava mesmo no fundo do poço emocional, de onde, graças a Luz, eu consegui te resgatar.
- Sim Lampião. Não sei quanto tempo fiquei lá dentro, mas foi grande o meu sofrimento. E depois de algum tempo menino, o pássaro continuava ainda cantando promessas em meu ouvido, porém. eu estava tão cansado e desanimado, que não tinha mesmo mais forças para ir em seu encalço, e fui, pouco a pouco me afundando mais e mais no escuro poço, vivendo cada dia com menos esperança e mais angústia. A propósito menino, qual é o nome deste pássaro que me levou ao fundo do poço.
- O nome do pássaro é ilusão André, e ele é muito comum por aqui; de vez em quando, completamente ligados ao seu canto, e desligados da realidade, muitos acabam mesmo andando por aí completamente absortos, e então, acabam - como aconteceu com você -, caindo nestes ninhos, também muito comuns aqui na floresta.
- Ninho Lampião? Eu estava no ninho do pássaro?
- Sim André, você estava no ninho, e por mais paradoxal que possa parecer, era você quem o atraia e o alimentava, dai o fato de você estar sempre ouvindo o seu canto.
-Não compreendo Lampião... como eu preso em seu ninho poderia alimentá-lo?
- Estes pássaros André, via de regra, alimentam-se de nossos entulhos mentais, nossos pensamentos negativos e derrotistas.
André olhou ao lado e viu então a grande pilha com todos os entulhos que estavam sobre ele lá no fundo do poço. O menino Lampião notou o seu olhar.
- André, aí estão os entulhos que te sufocavam no fundo do poço: Mágoa, ressentimento, medo, solidão, indiferença, ansiedade, angústia, inveja, desânimo... nesta pilha André, está o alimento vital do pássaro da ilusão.
- Inacreditável isso Lampião, inacreditável...
- Se você André, não conseguir mudar os padrões mentais, brevemente poderá estar novamente produzindo este alimento tão desejado pelo pássaro, e poderá estar novamente ouvindo o seu canto, e de novo habitando o seu ninho de dores e sofrimento.
- Se você André, não conseguir mudar os padrões mentais, brevemente poderá estar novamente produzindo este alimento tão desejado pelo pássaro, e poderá estar novamente ouvindo o seu canto, e de novo habitando o seu ninho de dores e sofrimento.
- Sinto-me bem mais leve agora Lampião, sem todos estes entulhos em cima de mim. Bem... já estou a bastante tempo longe de minha casa e de minha gente, estou muito ansioso por voltar.
- É sempre muito bom voltar para casa André... cuidado companheiro com o Pássaro da ilusão, e se por ventura você encontrá-lo novamente, procure ficar atento para não recair e novamente cair no conto de seu ilusório canto. Jamais esqueça André, que o pássaro pode até passar perto de você, mas a responsabilidade de alimentá-lo ou não é sua. Sempre é bom olharmos para o céu e sonharmos André, mas é fundamental também olharmos atentamente para o chão, a fim de sabermos onde pisam os nossos pés.
- Obrigado Lampião - falou André, fazendo ainda um último carinho em Luz, e finalmente partindo. Notou então sobre as árvores muitos daqueles pássaros com seus lindos cantos, porém, ao menos naquele instante estava consciente e não os alimentou com seus pensamentos; o sincero desejo de voltar para sua casa e os seus era mesmo mais real do que o mais belo canto daquela linda ave.
Instantes depois Luz e Lampião também partiram, e olhando para trás, o menino percebeu que muitas das aves pousavam próximas àquela pilha de entulhos a fim de se alimentarem. Luz, já bastante fatigada no final daquele dia, apenas observou e nem mesmo latiu, simplesmente caminhando ao lado do menino; brevemente a escuridão cairia.
Feliz quem tem o menino Lampião por perto, padrinho ...
ResponderExcluirGrupos Anônimos, socorro certo!