O Natal do Menino

Hoje é dia 24 de dezembro, véspera de Natal; quando era menino aguardava muito este período do ano para ser feliz, mas nunca consegui. Achava que não vivia o Natal por viver na periferia e não ganhar presentes - Papai Noel nunca ia lá -, ou ainda pela frequente ausência de meu pai, que sempre viajava... Mas mesmo quando meu pai estava em casa, com sua presença marcante e feliz, mesmo nestes Natais eu não conseguia a tal felicidade.

Cresci então sentindo em mim que aqueles Natais não vividos deixaram para sempre uma marca de tristeza, e muitos anos depois, já possuindo um monte de coisas que o dinheiro podia adquirir, já podendo comprar presentes para os filhos, já frequentando ceias com mesas fartas e música alegre, mesmo nestes Natais prevalecia o espírito dos Natais anteriores.

Foram precisos muitos outros Natais para enfim, eu descobrir que não havia nenhum problema no final de ano e nas festas, nada de errado nas comemorações, mas tão somente no meu próprio Natal interior. Quero dizer que eu vivia muito fechadinho em meu próprio mundo, mantendo preso lá dentro um certo menino, que não conseguia sair para expressar e viver com plenitude tudo o que a vida tem sempre a oferecer. O menino estava preso no seu próprio mundo, e de certa forma não havia nascido, então para ele tudo era incerteza e escuridão.

Ainda é 24 de novembro, está chovendo agora e sinto-me bastante em paz. O menino não nasceu ainda em toda a sua plenitude, mas finalmente nasceu e está a cada dia crescendo mais e mais; sua prisão interior não passa agora de um lembrança que não dói mais, já está mesmo engatinhando, e não demora muito, começa a andar e a falar.

Então para você que está lendo agora, eu te desejo o meu próprio Natal, que é algo assim como estar bem apesar de tudo, é algo como estar confiante na vida, nos homens, no futuro e em Deus; é assim como um eterno presente, um presente mais valioso do que estes comprados nas bonitas lojas natalinas, um maravilho presente de liberdade.

Finalizo dizendo que posso oferecer o presente para você, não por tê-lo comprado, mas tão somente por possuí-lo dentro de mim mesmo, e este presente somente pode ser traduzido em sorriso, abraço, amizade, gratidão, presença, solidariedade, paz, amor...

Com toda a sinceridade e alegria do meu coração, desejo muito que você também encontre o seu próprio e maravilhoso Natal, e que possa também compartilhá-lo com os demais, pois seguramente, dividir o que se tem interiormente, é infinitamente melhor do que multiplicar para si mesmo todos os tesouros do mundo.

Fonte: Blog do Agricultor Urbano
Crônica: O Natal do Menino
Endereço:https://oisiola.blogspot.com/2018/12/o-natal-do-menino.html


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Agricultor e a Poetisa Ferida

O Marido, a Mulher, o Rio e a Calça

A Finitude das Redes e a Infinitude do Mar