Prazer, Agricultor Urbano, um Ser Humano

A linguagem do coração é como uma ponte...
Muito prazer, sou o Agricultor Urbano, filho de caminhoneiro e costureira, neto de agricultores, sobrinho de lavadeira, mecânico de automóveis, eletricista, cozinheira, quitandeiro, pintor de paredes, dona de casa, lanterninha de cinema, caixa de supermercado, sobrinho neto de garçom e empregada doméstica, tataraneto de escravos e por ai afora. Desta família de gente tão simples nasceram médicos, engenheiros, advogados, dentistas, técnicos, motoristas, tradutores, bancários, fotógrafos, funcionários públicos, donas de casa, professores... todos, apesar dos títulos, simples também, talvez a simplicidade seja mesmo uma marca familiar. Não sei se gosto mais de escrever ou de cavar, com a enxada lavro a terra, e com a caneta lavro o solo de minhas emoções. Gosto de gente, gosto de plantas, gosto de bicho, às vezes fico meio quieto pelos cantos, triste e melancólico, sem motivo algum, e de vez em quando também explodo de tanta alegria, também sem razão, sem motivo. Alguns dizem que tenho um certo nível de bipolaridade, ou ainda um pequeno grau de altismo, ou ainda que possuo transtorno de déficit de atenção, e mais um monte de coisas, confesso que não me considero muito normal, mas vou procurando me aceitar, vou tentando a cada dia gostar e gostar mais de mim, pois percebo que quanto mais de mim eu gosto, mais eu consigo também gostar dos outros, e não nego, é muito bom gostar. Metade do meu DNA é de origem européia, e a outra metade africana, portanto não sou branco nem preto, talvez seja moreno, não sou destro nem canhoto, sou ambidestro, nem de direita nem de esquerda, não torço por nada, e procuro a sabedoria para nada distorcer, sou às vezes luz e às vezes trevas. Tenho um profundo amor pelas florestas repletas de árvores, mas contraditoriamente, amo também os pastos desprovidos de verde, gosto do conforto das cidades, das ruas pavimentadas, dos meios de transportes, das casas, praças e prédios, da vida urbana enfim, porém, não consigo ficar muito tempo longe dos campos, das árvores, das fontes de água pura, dos bichos, das estradas de chão, do orvalho, da chuva... Coleto sementes e planto árvores, muitas árvores, e cada semente que brota é um encanto, é como se fosse a primeira vez, algo lindo, extraordinário, gosto das longas caminhadas, principalmente pelos campos, com os pés no chão, gosto de subir os morros e olhar para longe, para o horizonte, o horizonte sempre me enche de esperança, gosto também de voar como os pássaros, voar de avião, lá de cima vejo o céu, as nuvens, vejo rios, vales, serras, casas, cidades, vales, vejo o mar, tudo é tão bonito lá de cima, de avião, consigo chegar em locais distantes, e esta rapidez diminui o tempo da saudade daqueles que vou encontrar. Houve um tempo em que sentia muita, muita solidão, porém este tempo passou, hoje consigo me sentir mais perto das pessoas, consigo olhar para elas,  abraçá-las e ouvir suas histórias, e isto me faz tão bem, e vou descobrindo que quanto mais delas me aproximo, mais próximo de Deus também eu fico, coisa estranha isso. Vou aos poucos descobrindo que possuo um infinito valor, e quanto mais valor em mim eu descubro, mais valor nos outros eu encontro também, estou ao longo da vida aprendendo a falar uma língua muito especial, a língua do coração, e esta língua, como uma ponte, tem o poder de me conectar verdadeiramente com o outro, e isto é extraordinário e revelador. Sabe, de vez em quando vejo alguém triste, e ai algo interessante ocorre comigo, muitas vezes sinto-me triste também, é como se a tristeza do outro fosse também a minha, não sei explicar, o mesmo ocorre com a alegria, muitas vezes a alegria do outro é também a minha, ou seja, você já deve estar percebendo que eu, o agricultor urbano, sou assim, assim... um ser, um ser humano.

Comentários

  1. Bom dia companheiro Aloisio. Gostaria de ler o texto que lestes para mim no dia que nos conhecemos lá no encontro nacional de NA . Não achei .
    Um grande abraço Gilberto

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