O Agricultor e o Ponto Final

Veículo Leve Sobre Trilhos em Exposição
E o agricultor urbano, na cidade do Rio de Janeiro, andando de ônibus diariamente, resolveu fazer como a maioria dos usuários, foi a uma loja para adquirir o bilhete único. Chegou no guichê e solicitou o cartão para a atendente, que o entregou, dizendo para ele, que daquele momento em diante ele poderia andar em qualquer Modal na cidade do Rio de Janeiro, ônibus, barca, trem, Veículo Leve sobre Trilhos, metrô, BRT, e sobretudo que poderia ir  a qualquer ponto. O agricultor ficou encantado, que maravilha aquele cartão, e não demorou muito, fez um teste, voltando para sua casa na metrópole, lá pelas bandas do Maracanã, tomou um ônibus no Largo da Carioca, passou o cartão pelo painel, e que maravilha, o acesso à roleta foi franqueado, e ele foi feliz da vida para a sua residência. Então, pensou ele, a moça do guichê estava realmente falando a verdade, o cartão poderia mesmo levá-lo à muitos lugares. E no dia seguinte, bem cedo, ele pegou o seu cartão mágico, entrou em um ônibus, e alguns minutos depois já estava na Central do Brasil, onde desceu e foi até a Igreja de São Jorge, onde entrou orou para O Santo e cantou para Ogum, encantando-se com a atmosfera do lugar e com todas aquelas pessoas simples e devotas, que entravam em saíam o tempo todo. Saindo da igreja, ele foi caminhando para o seu trabalho, lá na rua Uruguaiana, cruzando o SAARA, centro de comércio popular da cidade, talvez o único lugar no mundo onde árabes e judeus conseguiam convivem em harmonia, bem como chineses, coreanos, bolivianos, brasileiros, enfim todo mundo, era mesmo mágico o lugar, objeto de estudo das Nações Unidas, e como ainda era cedo, ali mesmo no SAARA, ele resolveu tomar um cafezinho num boteco bem pequenininho, onde mal cabiam os clientes dentro, e carinhosamente apelidado de "Bunda de Fora" pelos cariocas, pois literalmente falando, os frequentadores ficavam mesmo com a bunda do lado de fora, enquanto batiam papo e tomavam o café. Onde mais aquele cartão poderia levá-lo, quem sabe em Ipanema, na esquina da Vinícius de Moraes com a Tom Jobim, ou ainda no Maracanã, agora todo reformado, porém lá o agricultor não tinha vontade de ir, Zico, Gerson, Roberto Dinamite e outros craques não jogavam mais, ou ainda poderia dar um passeio lá pela praia de Copacabana, andar pelo calçadão, sentir o cheiro do ar marinho, ou quem sabe fazer uma visita ao Jardim Botânico, passar por lá algumas horas entre as árvores amigas, enfim, o cartão poderia levá-lo mesmo a infinitos pontos, porém, sempre tem um porém, aquele bilhete quase mágico não seria capaz de levá-lo a um ponto muito especial, um ponto onde ele verdadeiramente desejava estar, um ponto muito pessoal, a sua meta definitiva,  onde havia uma eterna paz, onde nenhum ruído externo poderia entrar, um ponto muito desejado onde nada poderia incomodá-lo, este ponto contudo, somente poderia ser alcançado por ele ele, nenhum objeto de fora poderia levá-lo a este ponto tão sonhado, este ponto era na verdade sua verdadeira casa, um ponto dentro dele mesmo, um ponto final.

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