Deus te abençoe meu filho, Deus te abençoe!

Ipê Branco da Casa da Minha Mãe
Sua Benção mãe, falou o agricultor urbano, porém somente o silêncio, nenhuma resposta. Ele foi à casa da mãe, entrou, andou pela mesma, quarto por quarto, cômodo a cômodo, mas sua mãe não estava lá. Foi até o quintal, olhou para o alto e viu o Ipê branquinho, todo florido, uma beleza. Jogou água nas plantas dos vasos, muitas plantas, as plantas gostam de carinho e de água, sempre foram muito bem cuidadas, e ele regou cada uma delas. A saudade apertava no peito, a casa tão grande e tão vazia, sem a presença fundamental de sua mãe. Seu pai estava em casa, mas, não podia mais conversar com ele, o olhar distante, ausente, o peso dos anos se fazendo presente. Gostaria tanto de ter encontrado sua mãe, dizer para ela que o neto havia voltado lá das terras canadenses, das terras geladas da América do Norte, das terras do urso polar, dos pinheiros, dos álamos, esquilos...  que o menino estava bem, estava alegre, feliz, falando fluentemente a língua dos gringos, cheio de vontade de comer arroz com feijão, couve, mandioca, beber caldo de cana, tomar guaraná, estas coisas tão à gosto dos brasileiros. Pensou que ela ficaria radiante ao saber que o menino, tal como ela, havia estreitado laços de amizade com os canadenses, americanos, africanos, árabes, indianos e mais uma legião de estrangeiros, que ele, tal como ela, relacionava-se tão bem com as pessoas e os lugares por onde passava. Pensou que ela desejava tanto dar um abraço nele, acariciá-lo por entre os braços cansados, correr para a cozinha que era o centro de seu império, seu quartel general do amor, e preparar para ele uma comidinha bem brasileira, um arroz com feijão, bastante verduras e legumes, angu, e ovos fritos. Penso que ela perguntaria para ele: "João, você quer os ovos duros ou moles", e o menino responderia, como na infância: Mais ou menos duro, mais ou menos mole vovó", e ela ficaria tão alegre de poder preparar o alimento para o neto. E depois ainda ofereceria com todo o amor de seu coração a doçura de seus inúmeros doces caseiros, e faria bolo, broa e mais uma infinidade de coisas para alegrar o neto que ficou tanto tempo ausente. Passei pelo quarto de costura, local onde ela por tantos anos trabalhou ajudando no sustento da família, vi a máquina, a Singer, que máquina maravilhosa, pensei em tantas roupas que ela fez para mim, e sobretudo para os outros, em como havia amor em todos os seus gestos, e a saudade foi apertando. Teria dito para ela: Mamãe, o menino tá lá em casa, nesta manhã, sentou-se e tocou aquela música bonita do John, Imagine, que música bonita mamãe, o som foi enchendo toda a casa, como é bonita a música do John. Pensei ainda comigo, é  bem possível que mamãe, lá no lugar onde ela esteja agora, com aquele seu jeito tão cativante corra à casa do John e diga para ele, não em inglês, mas naquela língua universal falada por todas as almas simples da terra: "John, meu neto voltou, hoje de manhã tocou aquela sua bela canção enchendo o ambiente de alegria". Provavelmente John diria para ela: "Vamos entrar Dona Nely, vamos tomar o chá das 4, ou quem sabe a Senhora prepara um cafezinho, um cafezinho brasileiro,  com aqueles seus adoráveis bolinhos de chuva". Estava chegando a hora de ir embora, fui preparando-me para sair, e não sei se foi imaginação, imaginem, mas além do silêncio creio ter ouvido uma voz, a mais doce voz que um filho pode ouvir: 
- Deus te abençoe meu filho, Deus te abençoe!


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