A jovem e o Paraíso
Ipê amarelo florido em um belo dia de sol |
A moça era bonita, educada, estudiosa e sonhadora. Todos os dias bem cedo ia para a escola, era uma das melhores alunas, muito inteligente era aquela moça, suas notas eram sempre as melhores da sala, da escola, da cidade... Um dia, passando por um ponto de ônibus perto de sua casa, a moça viu um ônibus que fazia a linha para o bairro Paraíso. Nossa, pensou a moça, este bairro, o Paraíso deve ser algo muito bonito, lá deve ter muitas cachoeiras, rios com água cristalina, muitas árvores da mata atlântica, pássaros, bromélias, samambaias, muitas flores, muita beleza, muita paz, deve ser um encanto este bairro, o Paraíso. Daquele dia em diante, sempre que a jovem passava pelo ponto e via lá o ônibus, ficava a sonhar com aquele Paraíso, logo ali, no ponto final daquela linha. Aquela idéia de visitar o Paraíso foi tomando forma em sua mente, em seu coração, até que, em um certo dia, a jovem chegou da escola, fez a refeição, deixou pronto todos os deveres de casa para o dia seguinte e tomou a grande decisão: Hoje eu vou conhecer o Paraíso! E assim fez, avisou aos familiares que teria que sair para resolver algumas coisas, e foi toda contente, em direção ao ponto de ônibus, claro não era qualquer ponto nem qualquer ônibus, era o ponto do ônibus para o Paraíso. Quando chegou no ponto e entrou no ônibus, percebeu que aquela condução não era assim tão confortável, era muito simples até, um pouco de terra e barro pelas rodas e dentro do veículo também, mas ora, pensou a moça, lá no Paraíso tem terra, tem água, logo tem barro também, mas não qualquer barro, lá tem o barro do Paraíso, quem sabe aquele mesmo barro usado nos moldes de Adão e Eva, imaginou a adolescente. Sentou-se e foi-se embora toda feliz, cheia de ansiedade, não via a hora de chegar. Pelo caminho, lugares comuns como todos os outros, ruas e praças conhecidas, nada de mais, e o ônibus foi seguindo o seu percurso, passageiros subiam e desciam ao longo do trajeto. Depois de algum tempo o veículo passou a circular por ruas que ela não mais conhecia, a paisagem começava a mudar, a cidade, o asfalto, os prédios iam ficando para trás, começaram a surgir casas mais pobres, ruas sem asfalto, esgoto a céu aberto, um sem número de crianças barrigudinhas soltas pelas ruas, cachorros sem dono, botequins repletos de bêbados, pobreza e abandono para todos os lados. A jovem achou aquilo tudo um pouco estranho, cadê o Paraíso, pensou ela, provavelmente passaremos primeiramente pelo inferno para depois chegarmos lá, lá no Paraíso. A ilusão terminou quando o ônibus parou, todos os passageiros desceram exceto a moça, que lá do fundo da condução ouviu o motorista falar: Paraíso, ponto final. A moça desceu, olhou para os lados, quem sabe alguma trilha, algum caminho logo além para levá-la realmente ao Paraíso, mas logo compreendeu pelo que viu ao redor, que estava na periferia pobre de um bairro de uma cidade operária, ali era realmente o Paraíso, não aquele Paraíso tão sonhado e acalentado por ela, mas, o pobre, sujo, feio e periférico Bairro do Paraíso. Aguardou ali mesmo no ponto, quando a porta traseira foi aberta, entrou timidamente, sentou-se num banco qualquer e voltou para sua casa um pouco entristecida e frustrada, e descobriu através de sua própria experiência, que não era possível chegar ao Paraíso através de uma linha de ônibus, pelo visto, o Paraíso era um lugar distante, muito distante, quem sabe, dentro dela mesma.
Aconteceu exatamente assim. Ainda procuro pelo paraíso: entro em vários ônibus, faço vários congressos, leio muito, danço, caminho,procuro ajudar as pessoas, pois quem sabe, uma delas me conta onde fica este paraíso. Eu agora sei que o paraíso está dentro de nós, mas não encontro o caminho.
ResponderExcluirMesmo sem ter visto o comentário da Tia Stela, só pelo título já sabia se tratar dela.
ResponderExcluirTio, seu blog está muito cativante, parabéns! Abraços.