O impossível Chão
Palmeira Jerivá |
O agricultor sabe, o solo é pobre, degradado, desprovido de qualquer matéria orgânica, lavado ano após ano pelas águas pluviais, abandonado e esquecido por todos. O agricultor também sabe que este mesmo solo, no passado foi o lar de uma das mais belas florestas do planeta, a mata atlântica. Depois de décadas da ação predatória e inconsequente dos homens, seus irmãos, pensou o agricultor, não restou quase nada, a terra abandonada começa a entrar, quem sabe, em um processo de desertificação. E ele vai fazendo o que pode, uma paineira plantada aqui, um pau jacaré plantado lá, uma embaúba semeada ali, e assim por diante, e pouco a pouco, as pequenas mudas, com todas as dificuldades possíveis em função da pobreza do solo, vão superando as adversidades e crescendo. É como se a terra guardasse em si a memória da mata que ali já existiu, e conforme as mudas vão sendo plantadas, esta memória natural vai despertando, e o ambiente vai mudando, tudo vai ficando bonito e agradável, o frescor vai voltando, os pássaros começam a aparecer, o chão vai ficando mais escuro, com minhocas e outros pequenos insetos que vão ajudando no processo de recuperação. O agricultor não utiliza qualquer adubo químico, vai recuperando o chão com folhas, galhos secos, capim cortado, cascas de frutas, pedaços de papelão, estrume de boi... E a terra devagarinho vai respondendo, e o agricultor vai cuidando da natureza, e a natureza por sua vez, cuida também do agricultor, em uma bonita relação de amizade mútua. E o amor, sente o agricultor, este sentimento poderoso, fará um dia uma minúscula floresta brotar de um impossível chão.
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