O Amor Nos Tempos do Carandiru



O presídio de concreto, o Carandiru, não existe mais...

Ano de mil novecentos e sessenta e nove, um dia de domingo em São Paulo, um dia que já passou, tudo cinza, cidade vazia, muitos partiram para o litoral, muitos estão em suas casas, o vazio da megalópole pode gerar uma sensação de angústia, desconforto,  medo e solidão...

Um presídio na capital de São Paulo, um dia de domingo, um dia cinza, um dia de expectativas, ou angústia talvez, um dia de infinitas saudades, este sentimento tão humano que nos une aos outros...

As detentas estão ansiosas, é o dia das visitas, é o dia da reunião dos doze passos, aquelas pessoas anônimas chegam de vários lugares da cidade e compartilham seu tempo e suas emoções com elas, olhos nos olhos, todos falam de suas experiências em um círculo comum, agora não existem convenções sociais, agora somente seres livres, seres humanos falando de suas vidas, seres humanos presos na prisão de concreto, seres humanos presos na prisão da alma, agora somente humanos...

Muitas das mães que chegaram de fora para a reunião trouxeram suas crianças, e estas com sua alegria inata, transmitem amor e carinho para as mães reclusas, aquelas que estão longe de suas crias, e o calor humano das crianças de fora apascenta e contagia, e então aquelas mães trancadas em si mesmas, aquelas mães encadeadas nas cadeias da vida abrem seus corações, abrem seus colos, abrem suas almas e embalam aqueles pimpolhos dos outros, como se embalassem os próprios filhos que não vieram...

O presídio das emoções, o da alma, existe ainda...

Mas o amor, este anônimo e expressão máxima da liberdade, é imortal e vai muito além de todos os muros, de todas as grades e cadeias, e sempre existirão domingos e mães e crianças, que levarão sorrisos e abraços de liberdade para todos os enclausurados nas prisões de concreto, que levarão esperança para todos os presos nas prisões da alma, por todo o tempo que há de vir... 
Quem viver verá.












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