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O Agricultor e o Palito de Fósforo

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Era uma vez uma caixa de fósforos onde moravam duzentos e quarenta palitos rigorosamente idênticos, exceto um, que por algum defeito de fabricação possuía um tamanho inferior, estava lascado e tinha uma cabeça bem pequena — infeliz palito. — Você é a ovelha negra da família; você é diferente de todos nós; você não será capaz de gerar sua própria chama; você denigre a imagem do nosso fabricante; você nunca será ninguém na vida — era isto o que o pobre palito ouvia diariamente dos demais palitos da caixa  —   insanos palitos. Depois de tanto ouvir isto dos seus companheiros, o pobre palito passou a acreditar em tudo aquilo, e acreditando, caiu em um profundo estado de tristeza, temendo sobremaneira o vexame futuro pelo qual passaria, quando fosse chamado para o seu único trabalho em sua vida, o de gerar uma pequena chama  — deprimido palito. Todos os dias um ou mais palitos eram retirados da caixa e, depois de riscados, cumpriam sua missão gerando sua chama; ao observa...

O Agricultor Urbano e o Seu Velho Ego

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Eram quase onze horas da manhã, o sol de verão estava escaldante, e o Agricultor estava cansado. Havia acordado cedo e cedo plantou muitas árvores, mas a hora avançou e ainda faltavam algumas mudas aguardando o aconchego do solo. Sua garrafa d'água estava quase no final  — somente um único gole — , ao seu redor nenhuma sombra amiga, somente pasto e algumas moitas dispersas de capim. De vez em quando Tição, seu fiel e velho vira lata, chegava perto dele com a boca aberta, transpirando pela língua e com um olhar triste que poderia ser traduzido como: "Amigo, vamos para casa, senão morreremos assados aqui neste campo desolado." Tentando abrigar-se um pouco do sol atrás da moita de capim colonião, o Agricultor Urbano ficou ali pensativo e parado, e neste momento de fatiga e indecisão sobre o que fazer, foi visitado pelo seu velho ego que raramente aparecia no campo. — Bom dia meu grande Agricultor Urbano. — Bom dia velho ego. — Já passam das onze horas da manhã, e você ainda ...

O Barbeiro, o Agricultor e o Rio Paraíba do Sul

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O Rio Paraíba do Sul nasce no estado de São Paulo, corre sereno por terras fluminenses, faz uma breve visita ao estado de Minas Gerais, volta ao estado do Rio de Janeiro, até finalmente encontrar sua foz em São João da Barra. Tão grande foi a alegria dos mineiros pela visita do rio, que foi criado em uma região da Zona da Mata, onde viveram os índios Puris, um município outrora chamado São José do Além Paraíba — atualmente Além Paraíba. Foi nesta cidade, às margens do Paraíba, que viveu um barbeiro com sua esposa e uma numerosa prole. O barbeiro amava sua família, sua barbearia, sua tesoura, sua navalha e todos os seus demais instrumentos de trabalho; mas ele também amava a terra, o rio próximo e os fundos do seu quintal e, quem ama estas coisas, acaba amando também uma enxada, um enxadão, uma pá... Quero dizer que, além de barbeiro de Além Paraíba, ele também era um agricultor às margens do rio Paraíba. Lá está o barbeiro no salão atendendo sua clientela; chega um, chega outro e ainda...

O Agricultor e a Pequena Goiabeira

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Naquela manhã de sábado de verão do ano da graça de dois mil e vinte e um, o Agricultor Urbano estava terminando de preparar o terreno para o plantio das árvores no dia seguinte; em decorrência do elevado calor, estava exausto, a hora avançava e estava na hora de terminar por aquele dia. A alguns metros do capim carpido, o Agricultor avistou um pé de goiabeira completamente queimado e abafado pelo rude e inculto capim braquiária. "Bem, apesar do meu cansaço, vou limpar ainda o entorno daquela goiabeira morta e, amanhã plantarei uma outra árvore no local", pensou o Agricultor enquanto cortava o capim. Grande foi sua alegria ao perceber, depois da capina, que um pequenino broto verdejante da suposta goiabeira morta crescia com vigor a partir das raízes da planta. A alegria foi recíproca, pois, ao ficar completamente livre do capim que a sufocava, a diminuta goiabeira exclamou: — Gratidão Agricultor Urbano! — Sinto-me feliz por você ter conseguido resistir ao fogo e ao capim peq...

O Agricultor, o Hibisco e a Vaca

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Era uma quarta-feira de cinzas; o Agricultor Urbano acordou cedo e cedo resolveu visitar as árvores no campo; não levou nenhuma ferramenta. Não demorou muito e encontrou subitamente no seu caminho a vaca do pasto ao lado — isso mesmo, uma vaca — que, ao deparar-se com um grande vão na cerca de arame farpado, resolveu tomar o seu café matinal no campo alheio. Após reconduzir o ruminante para o seu devido lado da cerca e posteriormente consertá-la, o Agricultor constatou que muitas mudas haviam sido pisoteadas, e este fato acinzentou um pouquinho o seu coração. Continuando suas andanças, percebeu pela escassez das chuvas que o solo estava muito seco, dificultando sobremaneira o desenvolvimento das plantas, levando mesmo algumas à morte, e isto acinzentou mais um pouquinho o seu coração. Não demorou muito e ele observou algumas árvores que foram duramente  atacadas pelas saúvas, e outras lutando para sobreviver em meio ao rústico e hostil capim africano que crescia desenfreadamente, l...

Plantar Não é Preciso

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Era um domingo de verão; o Agricultor Urbano, como de costume, estava no campo cultivando árvores,  acompanhado como de costume pelo seu inseparável vira lata Tição. Estava prestes a terminar sua lida sob um calor escaldante, quando foi abordado por alguém que desfrutava a sombra de uma gameleira nas bordas bosque. — Bom dia Agricultor! — exclamou o desconhecido. — Bom dia senhor — respondeu o Agricultor. — Moro aqui perto e venho observando a alguns anos o seu trabalho no campo, e percebo muitas perdas. — Perdas? Como assim perdas? — inquiriu o Agricultor com sua enxada na mão. — Tenho uma visão matemática sobre o seu trabalho; observando o campo ao longo dos anos, percebo que está havendo uma perda de mais ou menos 40 por cento das mudas plantadas, ou seja, para cada dez mudas que o senhor planta, quatro são perdidas. Creio que esteja ocorrendo uma operação matemática denominada subtração. Ao comentar sobre isto o matemático fez um movimento parabólico com o seu braço em direçã...

O Marido, a Mulher, o Rio e a Calça

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O incidente narrado não ocorreu em Antares, uma cidade fictícia onde se passa a trama do magistral romance  de Érico Veríssimo , porém, numa outra  cidade, uma cidade real cortada pelo rio Paraíba do Sul, que faz uma volta redonda na tentativa de voltar para a sua nascente — nostalgia, talvez —, mas, logo em seguida muda de ideia, assume suas responsabilidades, faz uma segunda volta redonda e segue naturalmente o seu curso. A mulher chegou do seu trabalho por volta das 12 horas, e, encontrando o marido trabalhando no computador, resolveu falar para ele sobre um fato ocorrido naquela manhã. — Onde já se viu isto — falou a mulher —, fui criticada hoje por um colega de trabalho por estar usando uma calça rasgada e desbotada. Observando a calça da mulher, o marido constatou que o colega dela de fato não havia mentido, mas, obviamente ele não comentou isto com ela . — Marido, meu colega não entende nada de vestuário feminino; esta calça está na moda, é nova e cara, e foi comprada r...