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O Barbeiro, o Agricultor e o Rio Paraíba do Sul

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O Rio Paraíba do Sul nasce no estado de São Paulo, corre sereno por terras fluminenses, faz uma breve visita ao estado de Minas Gerais, volta ao estado do Rio de Janeiro, até finalmente encontrar sua foz em São João da Barra. Tão grande foi a alegria dos mineiros pela visita do rio, que foi criado em uma região da Zona da Mata, onde viveram os índios Puris, um município outrora chamado São José do Além Paraíba — atualmente Além Paraíba. Foi nesta cidade, às margens do Paraíba, que viveu um barbeiro com sua esposa e uma numerosa prole. O barbeiro amava sua família, sua barbearia, sua tesoura, sua navalha e todos os seus demais instrumentos de trabalho; mas ele também amava a terra, o rio próximo e os fundos do seu quintal e, quem ama estas coisas, acaba amando também uma enxada, um enxadão, uma pá... Quero dizer que, além de barbeiro de Além Paraíba, ele também era um agricultor às margens do rio Paraíba. Lá está o barbeiro no salão atendendo sua clientela; chega um, chega outro e ainda...

O Agricultor e a Pequena Goiabeira

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Naquela manhã de sábado de verão do ano da graça de dois mil e vinte e um, o Agricultor Urbano estava terminando de preparar o terreno para o plantio das árvores no dia seguinte; em decorrência do elevado calor, estava exausto, a hora avançava e estava na hora de terminar por aquele dia. A alguns metros do capim carpido, o Agricultor avistou um pé de goiabeira completamente queimado e abafado pelo rude e inculto capim braquiária. "Bem, apesar do meu cansaço, vou limpar ainda o entorno daquela goiabeira morta e, amanhã plantarei uma outra árvore no local", pensou o Agricultor enquanto cortava o capim. Grande foi sua alegria ao perceber, depois da capina, que um pequenino broto verdejante da suposta goiabeira morta crescia com vigor a partir das raízes da planta. A alegria foi recíproca, pois, ao ficar completamente livre do capim que a sufocava, a diminuta goiabeira exclamou: — Gratidão Agricultor Urbano! — Sinto-me feliz por você ter conseguido resistir ao fogo e ao capim peq...

O Agricultor, o Hibisco e a Vaca

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Era uma quarta-feira de cinzas; o Agricultor Urbano acordou cedo e cedo resolveu visitar as árvores no campo; não levou nenhuma ferramenta. Não demorou muito e encontrou subitamente no seu caminho a vaca do pasto ao lado — isso mesmo, uma vaca — que, ao deparar-se com um grande vão na cerca de arame farpado, resolveu tomar o seu café matinal no campo alheio. Após reconduzir o ruminante para o seu devido lado da cerca e posteriormente consertá-la, o Agricultor constatou que muitas mudas haviam sido pisoteadas, e este fato acinzentou um pouquinho o seu coração. Continuando suas andanças, percebeu pela escassez das chuvas que o solo estava muito seco, dificultando sobremaneira o desenvolvimento das plantas, levando mesmo algumas à morte, e isto acinzentou mais um pouquinho o seu coração. Não demorou muito e ele observou algumas árvores que foram duramente  atacadas pelas saúvas, e outras lutando para sobreviver em meio ao rústico e hostil capim africano que crescia desenfreadamente, l...

Plantar Não é Preciso

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Era um domingo de verão; o Agricultor Urbano, como de costume, estava no campo cultivando árvores,  acompanhado como de costume pelo seu inseparável vira lata Tição. Estava prestes a terminar sua lida sob um calor escaldante, quando foi abordado por alguém que desfrutava a sombra de uma gameleira nas bordas bosque. — Bom dia Agricultor! — exclamou o desconhecido. — Bom dia senhor — respondeu o Agricultor. — Moro aqui perto e venho observando a alguns anos o seu trabalho no campo, e percebo muitas perdas. — Perdas? Como assim perdas? — inquiriu o Agricultor com sua enxada na mão. — Tenho uma visão matemática sobre o seu trabalho; observando o campo ao longo dos anos, percebo que está havendo uma perda de mais ou menos 40 por cento das mudas plantadas, ou seja, para cada dez mudas que o senhor planta, quatro são perdidas. Creio que esteja ocorrendo uma operação matemática denominada subtração. Ao comentar sobre isto o matemático fez um movimento parabólico com o seu braço em direçã...

O Marido, a Mulher, o Rio e a Calça

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O incidente narrado não ocorreu em Antares, uma cidade fictícia onde se passa a trama do magistral romance  de Érico Veríssimo , porém, numa outra  cidade, uma cidade real cortada pelo rio Paraíba do Sul, que faz uma volta redonda na tentativa de voltar para a sua nascente — nostalgia, talvez —, mas, logo em seguida muda de ideia, assume suas responsabilidades, faz uma segunda volta redonda e segue naturalmente o seu curso. A mulher chegou do seu trabalho por volta das 12 horas, e, encontrando o marido trabalhando no computador, resolveu falar para ele sobre um fato ocorrido naquela manhã. — Onde já se viu isto — falou a mulher —, fui criticada hoje por um colega de trabalho por estar usando uma calça rasgada e desbotada. Observando a calça da mulher, o marido constatou que o colega dela de fato não havia mentido, mas, obviamente ele não comentou isto com ela . — Marido, meu colega não entende nada de vestuário feminino; esta calça está na moda, é nova e cara, e foi comprada r...

O Homem que falava com as árvores

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Era uma vez, em uma destas primaveras já passadas, um vaqueiro no alto de um morro e de seu cavalo; enquanto cuidava do seu gado e de sua vida, observou ele pela primeira vez, ao longe, em uma área pública e completamente tomada por capim africano, um homem solitário detendo-se por algum tempo na observação do tronco de uma árvore queimada e sem copa  —  a única árvore naquele local.  Ao longo dos meses seguintes, o vaqueiro constatou que de forma sistemática e disciplinada, aquele solitário homem tão somente acompanhado por um fiel cão sempre voltava àquele pasto, observava bem de pertinho e por algum tempo  o tronco queimado e depois, com sua enxada carpia o capim no seu entorno, e com sua cavadeira cavava pequenas covas, onde pacientemente plantava mudas de árvores — "alguns homens gostam de cuidar das árvores, outros, como eu, gostam de lidar com o gado", pensava o vaqueiro no seu silêncio de homem do campo. Notou então o vaqueiro, alguns meses depois, que o c...

O Agricultor, a Semente, o Broto e a Voz

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O Guapuruvu  ( Schizolobium parahyba),  é uma árvore nativa da mata atlântica, e sua semente, tão dura quanto uma pedra, pode demorar muitos meses para germinar. A futura árvore, em estado potencial no interior do seu invólucro, de alguma forma  obedece plenamente a uma  sábia voz interior, determinando o momento do fim da dormência e o princípio do processo de germinação, quando a sorte é finalmente lançada, sem possibilidade nenhuma de retorno  —  isto não é uma afirmação atestada por rigorosos padrões científicos.  "Aguarde mais um pouco, agora é inverno", diria a voz para a árvore virtual; "este ano teremos um grande período de seca, não germine ainda", continua soando a voz, ou ainda "você está em um terreno pedregoso, aguarde o andar dos acontecimentos." A semente confia plenamente na sua voz interior, e permanece adormecida, confortável e segura, tal como uma criança no colo de sua amada genitora  — em decorrência do silêncio das crianças,...