Nina, a cadela folgada

Nina a cadela folgada
O agricultor estava preparando uma sementeira em um carrinho de mão velho e cansado de tanto trabalho. Com o passar do anos, ficou todo enferrujado e cheio de buracos, depois de transportar tantas mudas e terra havia chegado ao final de sua jornada, não tinha mais como continuar. Como o agricultor é muito sentimental, não desejou jogar o amigo fora, ou vender seus restos mortais para um ferro velho qualquer, então, pensou lá com os seus botões, e descobriu que o velho amigo ainda poderia ser muito útil, mesmo não podendo sair do lugar, poderia servir como sementeira para futuras árvores. E o agricultor foi enchendo o carrinho com terra, e Nina, sua vira lata atrás dele querendo carinho, e o agricultor não dava atenção a ela, precisava buscar mais terra, depois areia, depois as sementes para o plantio, e assim por diante, e Nina atrás dele reclamando atenção. Todos os seus vira latas tem personalidade própria, são todos irmãos, filhos da velha Alegria, e a Nina é dessas que entram sem pedir licença, late quando quer latir, come a ração dos irmãos, fura a fila do carinho do agricultor, achando que tem prioridade, mesmo não tendo ainda atingido a terceira idade, e por aí afora. Pois então o agricultor não dava a mínima atenção para ela naquele dia, suas atenções estavam todas voltadas para o velho carrinho de mão, até que, em determinado instante, ela resolver subir dentro do carrinho, onde estava sendo preparada a sementeira, como a dizer: "E ai agricultor, vai me dar carinho ou não, caso sua resposta seja negativa, continuarei aqui dentro, sei que você não vai me bater, que não vai gritar comigo, que não vai me expulsar daqui, logo, permanecerei aqui até que você pare alguns minutinhos e me de um pouquinho, só um pouquinho da sua atenção." Como o agricultor conseguia entende-la perfeitamente bem, percebeu que seria inútil continuar com o trabalho, resignado, tirou o celular do bolso, tirou uma foto, em seguida abaixou-se e fez bastante carinho no bicho, olhou nos olhos dela, deu atenção ao animal, chegou mesmo a falar com ela, fica a dúvida se ela entendeu ou não, porém, depois de algum tempo, Nina, espontaneamente desceu do carrinho e foi deitar num canto sob a sombra de um cajueiro. E o agricultor terminou sua sementeira em paz, no velho amigo agora transformado em berçário foram plantadas sementes de ipê amarelo, ipê roxo, pata de vaca e figueira brava, tudo é claro, com as bençãos da Nina, a cadela mais folgada e carinhosa do pedaço. 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A Varinha de Guaximba, ou A Autoridade da Costureira, ou ainda Sábia, Sabiá, Sabia

A Chama da Vida

O Marido, a Mulher, o Rio e a Calça