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Como era verde o meu vale

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Monjoleiro O agricultor chega no bosque em formação e leva um susto. Houve uma queimada por lá, na área onde ainda existia um grande capinzal, colocaram fogo, e este somente não queimou as jovens árvores que cresciam na mata porque foi feito um aceiro - faixa de terra limpa, sem mato, a fim de que o fogo não possa passar - e as plantas ficaram protegidas. Todo os anos o processo repetia-se, pensou o agricultor, já anda tudo tão seco e tão sem vida e as pessoas ainda são capazes de queimar o pouco de verde que ainda existe. O agricultor olha ao redor e percebe somente desolação, todos os morros desmatados e queimados, sentia-se como se estivesse habitando um deserto, somente aridez ao seu redor, tudo foi e vem sendo desmatado ao longo dos séculos, e naquela região onde ele habitava, o processo começou nos últimos 150 anos, a princípio com o ciclo do café, e posteriormente com o processo de industrialização. Percebia o agricultor que os dias ficavam cada vez mais quentes, que as fon...

O Herói da Resistência

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É comum para o Agricultor urbano procurar por sementes, afinal de contas, ele é agricultor, mora na cidade apesar disto, por isto é urbano o agricultor. Ele também estuda, faz cursos como muitos, enfim, é um cidadão comum, talvez o incomum nele seja este gosto, este prazer e desejo infinito de estar sempre coletando sementes, ano após ano, cada semente que germina para ele é como se fosse a primeira vez, a alegria é constante. Pois bem, estava um dia o agricultor em uma sala de aula na faculdade, do lado de um bosque com algumas espécies nativas do Brasil. E o agricultor ficava com um olho no gato e outro no peixe, traduzindo, prestava atenção ao professor, mas constantemente olhava lá para o bosque à procura de uma árvore diferente, uma daquelas que ainda não existiam no seu viveiro de mudas, aquele viveiro sofisticado, construído com tecnologia da Agência Espacial Norte Americana, basicamente um sem número de saquinhos pretos debaixo da meia sombra de algumas árvores. E no intervalo...

Os Meninos da Mangueira

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Mangueira Começou o jogo de futebol, a pelada, lá no campinho de terra do Bairro das Mangueiras, periferia de Barra Mansa e Volta Redonda, e os meninos estão jogando, todos misturados. O menino tímido  chega, fica olhando os outros meninos jogarem, como jogam bem aqueles meninos. Ele fica atrás do gol, alguém chuta, erra o gol, a bola vai longe, e o menino, solícito, corre feliz e vai buscar a bola. Pega, traz de volta e entrega para o goleiro, que a devolve para o lateral direito, e o jogo recomeça. O menino, o tímido, fica olhando atrás do gol, a bola vai longe, ele vai buscar novamente, e volta feliz, e entrega para o goleiro, que a devolve para o zagueiro,  e o jogo recomeça. Dia após dia é assim, até que o menino, o encabulado, o futuro agricultor urbano, aquele que pegava a bola com alegria e solicitude atras do gol, é convidado pelos outros meninos a participar da pelada. E a bola rola, e o preto passa para o branco, e o branco recebe, domina, dá um passe em profun...

Quem é o meu Próximo?

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Gameleira O Agricultor urbano, sob a sombra de uma gameleira pensava em sua própria vida. Vamos a seus pensamentos: No início, sedento de conforto, vazio e sem esperança, tentando fugir desesperadamente do pântano sombrio da depressão, um náufrago da emoção descontrolada, da doença da negação, da doença emocional. É muito triste, desconfortante viver mergulhado na dor, na angústia, na sensação de que o sofrimento emocional é para sempre. A partir de mudanças de atitudes, fui pouco a pouco revelando-me, descobrindo que além de tanta dor e angústia, havia também um ser humano bonito, cheio de dons, com vontade de crescer, viver, lutar, partilhar, participar da vida de forma ativa, muita ativa. Que descoberta extraordinária saber que toda a felicidade que eu sempre busquei sempre esteve dentro de mim, e não fora,  como é reconfortante perceber que posso viver sem ter que fugir de minhas emoções, que o medo é somente uma ilusão, que a vida é aqui e agora. Um dia ocorreu-m...

A Última Pipa

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A maioria das crianças gostam de soltar pipa, é algo prazeroso, e comigo não foi diferente, desde menino aquelas engenhocas voadoras e coloridas me fascinavam. Não sabia como fazê-las, de forma que passei muitos anos dependendo de alguém que fizesse para mim, ajudava da forma que podia, ora trazia o bambu, ou o papel de seda, ora fazia a rabiola e ia levando, achava que era incapaz de fazer uma pipa com qualidade, grande e bem equilibrada, pois se não houver o perfeito equilíbrio aerodinâmico, a pipa não sobe, a pipa não voa. Gostava de soltar minhas pipas solitariamente, geralmente nos dias de outono, bem cedo, quando havia vento, nestes dias subia nos morros e ficava por lá por muito tempo, como era bom. Entre as crianças existe uma espécie de competição, você solta a sua pipa e não demora muito,  muitas outras pipas vão se aproximando, o objetivo é fazer a pipa do adversário literalmente ir para os ares, voar, isto ocorre porque os meninos passam cerol na linha (uma mistura d...

A jovem e o Paraíso

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Ipê amarelo florido em um belo dia de sol A moça era bonita, educada, estudiosa e sonhadora. Todos os dias bem cedo ia para a escola, era uma das melhores alunas, muito inteligente era aquela moça, suas notas eram sempre as melhores da sala, da escola, da cidade... Um dia, passando por um ponto de ônibus perto de sua casa, a moça viu um ônibus que fazia a linha para o bairro Paraíso. Nossa, pensou a moça, este bairro, o Paraíso deve ser algo muito bonito, lá deve ter muitas cachoeiras, rios com água cristalina, muitas árvores da mata atlântica, pássaros, bromélias, samambaias, muitas flores, muita beleza, muita paz, deve ser um encanto este bairro, o Paraíso. Daquele dia em diante, sempre que a jovem passava pelo ponto e via lá o ônibus, ficava a sonhar com aquele Paraíso, logo ali, no ponto final daquela linha. Aquela idéia de visitar o Paraíso foi tomando forma em sua mente, em seu coração, até que, em um certo dia, a jovem chegou da escola, fez a refeição, deixou pronto todo...

O agricultor e a solidão

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Por do Sol no Cerrado O agricultor estava solitário (como sempre) naquela manhã de domingo, cuidando de suas árvores, suas queridas árvores. Estava tudo tão bonito e agradável, ele estava muito feliz, uma felicidade interior, que vinha bem de dentro dele, ia olhando as plantas, preparando novas covas para as próximas mudas, procurando por formigueiros, aqui e ali descansava sob a sombra de suas amigas, tudo em paz. Olhou ao redor e não viu ninguém, nem no bosque, nem na rua próxima, nem no bairro logo abaixo da jovem mata, era muito cedo, naquela hora somente ele e os pássaros. Nem sempre havia sido assim, pensou o agricultor consigo mesmo, houve um tempo em que ele sentia um sentimento que doía profundamente, vamos chamar este sentimento de solidão. O agricultor cultivava dentro dele um grande vazio, e achava ele que este sentimento era causado pela ausência das pessoas ao seu redor, quando não haviam pessoas por perto, o agricultor sentia a tal da solidão. Posto isto, ele sempre...