O Miado da Gata e o Rugido da Onça
Naquela manhã de sábado de verão, o Agricultor Urbano solitariamente — seus vira-latas haviam partido desta para a melhor — plantava suas árvores numa área pública de sua cidade. Não demorou muito e foi abordado por um jovem que passava pela rua.
— Moço, moço... — falou o rapaz — Por que o senhor planta sistematicamente árvores neste local por mais de 25 anos?
O Agricultor interrompeu o seu trabalho — estava plantando uma paineira rosa naquele momento —, olhou para o jovem, abriu um sorriso e um diálogo.
— Você é muito jovem, como soube disto?
— Meus pais e todos os antigos moradores do bairro sabem disto, e as enormes árvores que crescem por aqui atestam de forma indubitável o seu trabalho.
— Infelizmente eu não tenho agora a resposta para a sua pergunta.
— Como assim? Não entendi!
— Meu jovem, se me permite... você tem uma namorada?
— Mais do que uma namorada moço, digamos que uma linda gata.
— Você visita a sua gata com frequência?
— Ah moço... sempre que posso; estou indo agora ao encontro dela.
— E você faz isto por gostar dela, creio eu.
— Sim, sem dúvida nenhuma, sou apaixonado por ela.
— Certamente que a presença dela é muito agradável para você?
— Obviamente que sim moço.
— Suponho que você pretenda casar-se com ela um dia.
— Sem a menor sombra de dúvida moço.
— Bem... se daqui a 25 anos você retornar para sua casa e ao chegar lá ouvir o suave miado de sua linda gata, e na presença dela continuar sentindo o que sente agora, então neste dia você finalmente compreenderá por si mesmo o porquê eu planto as árvores todos os dias, encontrando, enfim, a resposta para a sua pergunta, mas...
— Mas o que moço? — questionou o namorado ansioso.
Mas se você ao retornar para sua casa e ao chegar lá ouvir o sonoro rugido de uma onça brava, e desejar fugir dela alucinadamente tal como o diabo foge da cruz, então lamento dizer-lhe que a resposta para a sua pergunta ainda estará em aberto.
Fechado o diálogo, o Agricultor Urbano voltou a cuidar de sua paineira rosa, e o jovem enamorado foi visitar a sua presente gata, ou quem sabe, a sua futura onça.
Beleza de criatividade Aloisio.
ResponderExcluirHumor, reflexão e uma pitada de *brincadeira lingüística* dão sabor a mais essa ótima crônica . Parabéns meu querido! Abraços