O Feliz Servidor do Sol

Nas minhas rotineiras estadas pelo campo vou  tocando em tudo, em tudo... toco com os dedos no chão e brota um ipê; toco com os dedos no solo e nasce um abacateiro; toco novamente com os dedos e cresce uma mangueira; toco mais uma vez e germina uma bananeira;  toco outra vez ainda na terra e na terra — que beleza! — germina milho, feijão, taioba, jaca, paineira, quiabo... 

Continuo tocando, e conforme toco tudo vai brotando, tudo colorido, tudo bonito, tudo crescendo em direção ao céu, no entanto, apesar do meu toque sou também tocado, como se eu fosse apenas mais um instrumento dentro da grande orquestra da natureza, onde  o grandioso regente, o sol, tudo toca, trazendo para a terra a maravilhosa sinfonia da vida. 

Não, não sou um adorador do sol, e nem tenho o dedo verde como o menino Tistu da obra literária de Maurice Druon, sou tão somente um  feliz servidor do sol. Plantar amorosamente sementes no solo através do toque dos meus dedos, nada mais é para mim do que a maravilhosa arte de acolher e dar abrigo à luz do sol, depois de sua longa e cansativa viagem de cento e cinquenta milhões de quilômetros pelo espaço, até finalmente atingir o meu quintal, os meus dedos e, sobretudo, a horta que emerge diretamente do meu coração.


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