A Visita do Agricultor Urbano
Dezembro já ia avançado, e como a vida, como o tempo e como o vento, estava também em constante movimento, bem próximo de janeiro. Naquele dia, uma brisa constante vinha da enseada, refrescando todo o entorno. O Agricultor Urbano estava por ali, pelas ruas de Botafogo, no Rio de Janeiro, resolveu então fazer uma visita ao Moço das Letras, seu grande amigo, que residia pelas proximidades.
Chegou na vila, passou pela entrada principal, seguiu adiante, na casa abriu o portão e entrou devagarinho, sem anunciar, ele era sempre muito bem vindo, sua amizade com o Moço dispensava cerimônias. Na sala avistou o amigo sentado em uma cadeira, e sobre a mesa uma folha de papel e uma caneta. O Moço das Letras estava cochilando, possivelmente estava cansado, o Agricultor observou a folha, estava em branco ainda, sentou-se então, de mansinho, tirou o seu chapéu, pegou a caneta e começou a escrever sobre a folha...
"Seja como uma semente que no interior do solo confia plenamente na vida, entregando-se incondicionalmente, deixando vir através de si a árvore que buscará constantemente o sol, que crescerá sempre em direção à luz.
Não tente controlar absolutamente nada, principalmente os outros, tudo isto é esforço em vão. Procure pela plenitude dentro de você, todo o universo habita em ti.
Abra constantemente sua mente, como se fossem as janelas de sua casa, e tendo chegado o vento, deixe que penetre e areje todo o ambiente, todo o seu pensar, permita sobretudo que ele leve para bem longe todo o seu lixo mental, pois este entulho obstrui os caminhos da alma em direção ao Divino.
E estando ainda ventando, não brigue com ele, não tente detê-lo ou controlá-lo, ao invés disto, faça uma pipa e suba a colina mais próxima, e estando lá em cima, dê muita linha à pipa, deixe que ela ganhe as alturas, dê toda a linha possível, deixe que o vento leve a pipa, deixe que ele leve, e então, sem nenhum medo ou apego, corte a linha e dê liberdade à pipa e deixe que ela vá com o vento, pois as pipas, assim como a alma humana, não gostam de amarras, e amam, assim como o vento, infinitamente a liberdade.
Nas matas co-existem na mais perfeita harmonia deste a planta mais diminuta, até as gigantes da floresta, e todas elas ajudam-se mutuamente, formando uma maravilhosa fraternidade, uma irmandade. Na floresta urbana, na floresta humana onde você vive, seja também uma semente que confia e entrega-se à vida, deixando nascer a árvore divina que coopera incondicionalmente com todos os demais.
Quando você descobrir a essência de sua própria semente, você será como o vento, será sopro também, e será finalmente livre e eternamente feliz."
Quando você descobrir a essência de sua própria semente, você será como o vento, será sopro também, e será finalmente livre e eternamente feliz."
O Agricultor Urbano pousou a caneta sobre a mesa, pegou o seu chapéu, e assim como entrou, saiu, seu grande amigo cochilava ainda, somente Deus poderia mesmo definir como ele amava aquele Moço.
Algum tempo depois o Moço das Letras despertou, estava preocupado com o texto daquele dia, algo sobre uma bolha que explodia no espaço, olhou então para a folha toda escrita, seu coração disparou de contentamento e gratidão, seu amigo o havia visitado, havia deixado para ele um presente no papel, ele conhecia aquela escrita.
Olhou ao redor e não o encontrou mais, ele já havia partido, porém, descobriu a prova incontestável de que ele realmente havia estado ali, sua inconfundível assinatura, algumas sementes de árvores nativas coletadas pelas ruas de Botafogo, espalhadas sobre a toalha pintada em tons florais que cobria a mesa. Era muito gratificante possuir um amigo assim, sorriu o Moço.
Levantou-se e foi até a sala, abriu a porta e saiu até a varanda na esperança de encontrar o amigo. Não viu ninguém, a rua estreita da vila estava completamente deserta, ou quase, o vento vindo da enseada soprava ainda...
Somente Deus poderia mesmo definir como ele amava aquele Agricultor.
Olhou ao redor e não o encontrou mais, ele já havia partido, porém, descobriu a prova incontestável de que ele realmente havia estado ali, sua inconfundível assinatura, algumas sementes de árvores nativas coletadas pelas ruas de Botafogo, espalhadas sobre a toalha pintada em tons florais que cobria a mesa. Era muito gratificante possuir um amigo assim, sorriu o Moço.
Levantou-se e foi até a sala, abriu a porta e saiu até a varanda na esperança de encontrar o amigo. Não viu ninguém, a rua estreita da vila estava completamente deserta, ou quase, o vento vindo da enseada soprava ainda...
Somente Deus poderia mesmo definir como ele amava aquele Agricultor.
Isto é o amor pleno, amizade sem cobrança ou apego, querer bem, apenas!
ResponderExcluirMe lembrei do Pequeno Príncipe e a lição da raposa sobre a rosa se tornar única, embora possa existir milhões de rosas. Mas nenhuma será a sua 🌹, aquela que você gastou tempo com ela...