A Palavra Escola

Uma cidade cheia de morros
Gostaria muito de escrever algo hoje, porém as palavras foram embora, deixando dentro de mim um grande vazio, um grande buraco. Talvez elas tenham resolvido tirar férias, ou entraram no recesso de final de ano, de forma que estou aqui, sem palavras para escrever, apenas sentindo dentro de mim um profundo vazio de palavras. Sem palavras não consigo dizer o que sinto, sem palavras apenas o silêncio em mim, voltem palavras, voltem, por favor, confesso que preciso tanto de cada uma de vocês, através de vocês consigo expressar o que vai na minha alma, porém, sem vocês, palavrinhas amigas, apenas um vazio, um vazio de palavras. Sem palavras sou um homem sedento diante de um poço seco, sem palavras sou um homem muito triste em uma festa cheia de alegria, sem palavras sou um errante, um homem vazio, tão pobre e faminto de Deus, sem palavras, sou uma árvore morta, sem flores, sem frutos, sem sombra, sem frescor, sem palavras as letras ficam todas mortas, sem vida, sem luz. Agora vou descer, vou ao mercado comprar algumas frutas, quem sabe encontre por lá a palavra que estou buscando. E saindo do mercado, pagando as compras, ouço uma palavra, a palavra que estava buscando para o dia de hoje....
A escola ficava no alto de um morro, em uma cidade cheia de morros, era uma escola pública, os alunos que lá estudavam faziam uma prova para o ingresso, e não era fácil entrar lá, a porta era estreita, a única forma de ingresso era pelo esforço pessoal. Naquela escola estudavam alunos de toda a cidade, desde as áreas mais nobres, até a periferia, naquela escola estudava o filho do médico, do dentista, do advogado, do engenheiro, do diretor da indústria, bem como o filho da empregada doméstica, da costureira, do operário da indústria, filho do comerciante, filho do comerciário, enfim, estudavam inúmeras crianças que, vindas de realidades tão diferentes, eram todas rigorosamente iguais dentro daquela escola. Uma vez fechado os portões, durante cinco horas os alunos ficavam entregues à escola e seus professores, e os professores.... Ai de ti aluno daquela escola se não levasse o seu atlas nas aulas da professora Neide, e se não estudasse, poderia ser chamado de "vagabundante", ai de ti estudante daquela escola se não tivesse na ponta da língua as lições de inglês do professor Aldo, ai de ti estudante daquela escola se não estudasse as lições da professora de português, a professora Josepha. E até os dias de hoje eu ainda pagaria para ver se quaisquer dos meus colegas teriam a coragem de entrar na sala do professor de química, o Pache Brandão sem as lições na ponta da língua, podia se o filho do médico, do diretor da usina, do padeiro, do presidente da república, ou mesmo o filho do homem mais poderoso da terra, todos eram rigorosamente iguais e educados da mesma forma, na escola havia disciplina, e todos os alunos sabiam da autoridade de cada professor, e esta autoridade era respeitada. Todo aluno daquela escola sentia orgulho por estudar lá, era uma escola por excelência, os professores eram bons e dedicados, o crescimento era constante, a educação era algo muito sério, ministrado por sérios professores. E passados tantos e tantos anos, descubro, que daquela escola de alunos tão diversos saíram médicos, advogados, engenheiros, empresários, técnicos, dentistas, poliglotas e um sem número de jovens que encontraram com base naquela educação maravilhosa um caminho seguro na vida. Que saudades da minha escola maravilhosa no alto do morro, que saudades daquele mestres por excelência, que Deus o tenha professor Pache, fiz parte da sua última turma e sou grato pela sua humanidade, obrigado professora Neide pelas magistrais aulas de geografia, obrigado Frei Mário pelo rigor e disciplina, obrigado professora Geralda pelas suaves aulas de técnicas comercias nas manhãs das sextas feiras, na última aula, quando estávamos todos já exaustos e famintos, obrigado professor Jamil pelas aulas práticas nas oficinas, com você mestre perdido no tempo aprendi técnicas de cerâmica, marcenaria, carpintaria, eletricidade e tantas outras coisas, obrigado professora Josepha por suas rigorosas aulas de português, obrigado professor João Paulo, professor Ênio, professor Rômulo, professor... Palavra, estava mesmo no dia de hoje sem palavras para escrever, porém, na saída do mercado ouvi a palavra que despertou minhas emoções, a palavra escola. Era uma vez um menino pobre que estudou com outros meninos pobres e ricos, no alto de um morro, numa belíssima escola. O morro era tão alto que a escola ficava mesmo era perto do céu, daí a sua grandeza escola, Escola Municipal Getúlio Vargas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Agricultor e a Poetisa Ferida

O Marido, a Mulher, o Rio e a Calça

A Finitude das Redes e a Infinitude do Mar