O Importante é a Rosa

Costureira, a saudade é imensa, maior que suas rosas...
A costureira acordava sempre muito cedo; costurava muito ao longo do dia, o trabalho era muito, muitos vestidos e calças para fazer, era uma correria só. Esta rotina foi seguida à risca durante muitos anos, ela mergulhava no seu trabalho, e ali ficava completamente absorta por muitas horas. 

Mas uma coisa curiosa sempre acontecia, apesar dos afazeres da casa; a costureira amava as plantas de um modo geral, e as rosas, em particular, de forma que, de tempos em tempos, ela saia do quarto de costura, abandonava por algumas horas seus afazeres profissionais, chamava seu fiel ajudante, o menino, e ambos iam para o quintal cuidar das plantas, da horta, das árvores, das galinhas, e claro, das suas amadas rosas. Rosas brancas, vermelhas, amarelas; rosas miúdas e graúdas, muitas rosas. 

Se o mês fosse agosto, e a lua fosse a nova, ela ia retirando ramos das roseiras e plantando as estacas, com o menino sempre ao seu lado, um fiel aprendiz. Ela explicava para ele como era feito o plantio, e o menino encantado ia aprendendo tudo aquilo, de forma simples e feliz, com a mãe amiga. Ela lhe dizia que se a estaca brotasse muito rapidamente, a roseira não vingaria, e de fato, o menino percebia que isto acontecia, ficando mesmo encantado com o conhecimento da mãe. 

O tempo ia passando de forma suave e agradável; agora ambos estavam no galinheiro, e então a costureira pegava alguns ovos, sempre em número ímpar, e os colocava debaixo de uma galinha choca, e dizia para a criança que em vinte e um dias os pintinhos iriam aparecer;  dito e feito, passada as três semanas, lá estavam os pintinhos piando em torno da galinha, e a mãe ainda dizia que, se a galinha fosse preta, em função do calor, os pintinhos chegariam em dezenove ou vinte dias no máximo. O menino ia contando os dias, e de fato, a mãe acertava novamente, e precocemente os pintinhos nasciam. 

Eram assim aqueles dias em que juntos, mãe e filho andavam pelo quintal cuidando de tudo um pouco, a mãe, com amor e carinho, sempre ensinando, e o menino, sempre muito atento, absorvendo o conhecimento. 

Hoje, passados tantos e tanto anos, o menino transformado em homem, lembra com saudades daqueles tempos, do quintal, das galinhas, das plantas, e o que mais o encanta em tudo isto era realmente a entrega de sua mãe àqueles momentos; ela, de fato, abandonava todos os problemas e as preocupações cotidianas, e ficava ali com ele no quintal, de forma integral, mergulhada naqueles momentos de lazer nos fundos da casa, onde o mais importante era a vida.

Naqueles instantes mágicos e inesquecíveis, a vida para ela era rosa, tudo era rosa: seus filhos, suas galinhas, suas flores e plantas, sua casa; seus vizinhos, seus amigos e parentes, seu marido, o caminhoneiro solitário, e obviamente, suas roseiras com sua rosas. Realmente, para a sábia mãe, o mais importante era a rosa, e para ela, com sua sabedoria, a existência era rosa,  tudo era rosa, apesar de todos os pesares.

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