Carta do Jovem Jacarandá da Bahia


Jacarandá da Bahia com as primeiras sementes
Volta Redonda, 19 de Julho de 2015

Prezado agricultor urbano, minhas mais profundas saudações. Sei que o senhor planta muitas e muitas árvores pelos lugares onde passa, e eu sou uma delas. Fui plantada a aproximadamente 10 anos atrás, no alto de um morro, na beirada de um barranco, em um local seco, e cheio de pedregulhos. Por intermédio de outras árvores mais velhas que também cresceram por aqui, sei que minha semente foi cuidadosamente semeada, regada e cuidada por você (perdoe-me a formalidade), e quando eu estava com aproximadamente 30 centímetros fui trazida naquele seu carro verde, o gol, para este campo. Lembro-me bem do dia em que fui retirada do viveiro, onde havia água com regularidade, sentia-me tão protegida naquele saquinho preto e aconchegante, e confesso que tive muito medo ao chegar ao campo, a primeira sensação foi de abandono, senti muita raiva do senhor, nos primeiros dias fiquei muito triste, o que seria de mim ali naquele morro, sem água, sem o seu carinho, tinha saudade de minhas companheiras do viveiro, sentia falta daqueles cachorrinhos que sempre o acompanhavam, e o que mais me aterrorizava é que estava em um local cercado de capim colonião por todos os lados, e certamente, pensava eu, nos dias secos do inverno eu poderia ser facilmente devorada pelas chamas das queimadas, que tragédia meu Deus. Porém o tempo foi passando, fui adaptando me ao novo ambiente, minhas raízes foram ganhando forças, penetrando no solo, descobri que podia conquistar minha própria água, fui crescendo e ficando cada dia mais e mais confiante. Uma outra coisa que me alegrou sobremaneira, foi perceber que não estava ali naquele campo abandonada, era um engando, pois constantemente podia vê-lo por lá cuidando de mim, e de outras árvores mais que cresciam naquele local, sempre solitariamente e sobretudo, com muito carinho. Lembro-me tão bem da sua presença nos protegendo do capim, das saúvas, o senhor não falava nada, mas eu percebia que sua vibração era do mais profundo amor e dedicação, e isto dava-me forças para continuar meu desenvolvimento. Hoje, passado alguns anos, escrevo para dizer que estou muito, muito feliz, estou carregadinha de sementes (as primeiras), e aqui do alto deste morro, elas poderão ser levadas pelo vento, e quem sabe muitas delas possam vir a germinar e crescer assim como eu. Amigo agricultor, quando passar novamente por aqui, procure por mim, sente-se sob minha sombra, colha de minhas sementes, e receba como sentimento de gratidão o perfume adocicado de minhas flores, tão apreciadas pelas abelhas que constantemente me visitam. 
Desejo sinceramente que o  Senhor da Vida possa abençoá-lo eternamente.  Muita paz...

Jacarandá da Bahia.

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