Tição, o vira lata

Tição , o vira lata do agricultor

Tição é um dos meus vira latas. Irmão do Billy, Nina, e Miúda, filho da Alegria. Todos os outros já passaram pelo blog, hoje falarei sobre ele. Quando ele nasceu dei este nome a ele, pois o achei muito feio, e decidi que quando os interessados em levar os bichos aparecessem, este seria o primeiro da fila. E o tempo foi passando, e nenhum candidato apareceu para levar a cachorrada, filhos da Alegria, que resolveu dar uma voltinha, arrumou um namorado, e logo em seguida uma barriguinha bem redondinha. Até que num dia, um primo ligou para mim, dizendo que queria um cachorro. Fiquei tão feliz, e fui também muito prestativo, peguei logo o feio do Tição e levei -o embora todo satisfeito. Chegando na casa do meu primo, deixei lá o Tição, confesso que senti um certo mal estar ao saber que o cachorrinho seria criado preso a uma corrente, mas, pensei lá com os meus botões, ele acaba se adaptando, e fui embora para minha casa, naquele momento era um vira lata a menos na minha coleção. Neste mesmo dia ao anoitecer, meu primo telefonou e disse-me que o cachorro havia conseguido fugir, subiu um morro nos fundos do quintal, e ninguém conseguia aproximar-se dele, estava muito arisco, e fugia das pessoas. Naquela noite dormi com uma leve dor de consciência, aquele vira lata tão feio aos meus olhos agora surgia para mim como um filhote indefeso no meio do mato, longe do dono, da mãe, da casa onde nasceu e dos irmãos. No dia seguinte, liguei de volta para o meu primo, e fiquei sabendo que o cachorro ainda estava lá no mato, e resolvi ir lá para tentar resgatá-lo, e  quando cheguei e parei o carro na beira da calçada, eis que como um raio, o vira lata aparece, e pula em cima de mim, e me lambe, e se entrelaça entre as minhas pernas, e olha para mim com os olhos mais amorosos do mundo, e eu ali, cheio de culpa, cheio de remorso, havia largado de lado aquele cachorro tão bonito, tão amigo, meu vira lata Tição. E ai falei para o meu primo que levaria o cachorro de volta, e fomos juntos no carro, e como estávamos alegres naquele retorno de volta para o lar. Oito anos depois, o Tição continua lá em casa, firme e forte, gosto tanto dele, olhando com os olhos do amor, vejo o quanto ele é bonito e amigo. Por algum tempo eu questionei à vida o por que de tantos vira latas na minha casa, são cinco ao todo, e esta pergunta eu deixei de fazer no dia em que estes adoráveis animais salvaram-me de um dos maiores perigos que eu passei na vida, mas isto fica para um outro dia.