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Foto tirada no dia em que ele partiu |
Este ai na foto é o meu amigo KPY, um gol, que rodou comigo quase 300.000 Km (Trezentos Mil Quilômetros). Depois de 13 anos de convivência, eu o negociei, um Senhor aposentado ficou muito feliz com ele, e o levou para a sua casa. Minha esposa perguntou-me se eu sentia alguma coisa pelo carro, e eu, em um primeiro instante, disse que não, que não sentia nada, que era apenas um carro como outro qualquer, e que os carros não possuíam alma ou vida. Menti, confesso agora. Olho para ele na foto e sinto saudades, foram muitos anos de convivência, rodamos juntos na Rodovia Presidente Dutra mais de Cento e Cinquenta mil quilômetros, algumas vezes ele chegou até mesmo a aquecer, porém, jamais me deixou a pé, sempre cumpriu com retidão o seu compromisso de me levar em todos os lugares onde eu precisava ir. Quando eu o comprei, sua pintura estava bem bonita, achava que ele era meio fraquinho com aquele motor 1.0, mas com o tempo fui me acostumando com ele, e percebi, que mesmo com sua limitação de potência, ele andava muito bem de quinta marcha, chegava facilmente aos 110 KM horas, dentro do limite legal em algumas estradas, sem fazer muito esforço. Com ele levei meus filhos à escola, minha esposa ao trabalho, supermercado, casa da mãe, casa da sogra, casa dos amigos, e por aí afora. Uma vez fizemos juntos, somente eu e ele uma longa viagem, fomos a um lugar bem distante, lá no norte do Espírito Santo, passamos por tantos caminhos, e em determinado ponto, para ganharmos uns 300 Km, entramos por uma estrada de chão, no meio do nada, percorremos aquele fim de mundo por mais de 2 horas, e finalmente, reencontramos o asfalto e também o Rio Doce, que visão bonita a daquele rio e daquele vale. E na volta, passamos pela mesma estrada de terra, e o golzinho, valente, seguiu o seu caminho, derrapava as vezes na lama, mas venceu todos os obstáculos e trouxe-me inteirinho para casa. E houve um dia em que ele já estava ficando meio cansado, e eu precisei dele para ir ao Rio de Janeiro (mais uma vez) buscar as coisas de meu filho que estava de mudança para Minas Gerais, e ele, mesmo velhinho, fez ainda aquela viagem pela Dutra, e entrou na cidade do Rio de Janeiro, e passou pelo Túnel Rebouças, Jardim Botânico, Gávea e Lagoa, e não sentiu nenhum complexo de inferioridade por estar em um local tão bonito com tantos outros carros tão novos e elegantes, era humilde este gol, vivia sua vida, bebia sua gasolina, e estava sempre bem, sempre em paz. E quantas árvores ele carregou, 100, 200, 300... Não, carregou muito mais, carregou milhares de mudas que cresceram e transformaram-se em árvores, muitas vezes, no posto de gasolina, era chamado pelos frentistas de carro floresta. E quando ele ficou lá no canto da rua, sem sua garagem que agora era ocupada por outro veículo, ainda foi muito útil aos meus filhos, que andaram bastante com ele pela cidade. O barulho de seu motor era inconfundível, quando passava próximo à minha casa, os cachorros, pelo som, sabiam que ele estava chegando e latiam e latiam afinal de contas, eles também (os vira latas) andavam nele, ao menos uma vez por ano, para tomar a vacina anti rábica, ou para irem ao veterinário. Enfim, foram muitos anos de muito serviço, e agora ele não está mais nas proximidades, foi se embora, porém, o carinho que eu tenho por ele ficará para sempre dentro de mim, já estou com saudades do meu amigo KPY, o KPY5157.
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O Carro Floresta do Agricultor |
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