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As Pegadas do Agricultor Urbano

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Era uma vez um menino — um americano do sul — que soltava pipa no alto de um morro; nas suas andanças, o menino encontrou e se encantou com duas grandes e profundas pegadas no chão  —    o menino conhecia aquelas pegadas. Por sentir muita beleza naquilo, resolveu fotografar e postar nas redes sociais, comentando simplesmente que havia encontrado as pegadas do Pé Grande, um grande amigo seu. Com a rapidez da internet as imagens rapidamente correram o mundo. Quando os americanos do norte observaram a foto, logo mandaram um especialista para fazer uma análise mais detalhada. Havia ali indícios muito fortes de que aquelas pegadas pudessem ser do Yeti, o Pé Grande, um ser lendário que deixou suas marcas nas montanhas rochosas americanas e canadenses, porém jamais foi visto por viva alma. Chegando o especialista norte americano ao local, que já estava devidamente isolado da curiosidade dos nativos  —    sugestão da embaixada norte americana  — , com a presen...

Meu Futuro Agora é Presente

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Desperto! Primeiro de janeiro de 2022; sempre ouvi dizer que o Brasil é o país do futuro, mas eu não sei quando chegará o futuro do Brasil, mas o meu futuro finalmente chegou, meu futuro agora é presente. Desejei muito no passado que quando chegasse o meu futuro eu seria intensamente feliz, então é hoje, pois meu futuro agora é presente. Chove só um pouquinho, uma chuvinha miudinha, quase uma neblina. Ouço somente as vozes dos pássaros, as outras vozes, as vozes  da passagem do ano velho para o ano novo estão agora todas adormecidas no passado.  Passo pelo viveiro, pego algumas mudas de árvores e vou para o campo, e no campo passo feliz da vida a primeira manhã do meu futuro do ano de 2022. Lá pelas onze horas olho no meu entorno e observo encantado e em franco crescimento ipês, paineiras, sibipirunas, mangueiras, cajueiros, jaqueiras, bananeiras, pitangueiras, jabuticabeiras, aroeiras, cedros, jacarandás e tantas outras árvores que plantei como agora, no passado de 2021, 2020...

O Menino, a Terapeuta e a Carreira Solo

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A terapeuta amorosamente havia sido clara e direta: — Menino, você tem um pequenino traço de autismo. — O que significa isto — perguntou o menino? — Significa que seu mundo mental interior é muito forte, quase um mundo paralelo, mas no seu grau você consegue entrar e sair de lá de forma corriqueira — foi falando a terapeuta sobre os traços de personalidade do menino  — e, depois de muitos traços ela disse algo que ficou bem gravado em sua mente, mais um traço: — Você tem a tendência de fazer incansavelmente tarefas repetitivas. Aquilo fazia sentido — pensou o menino — ele era capaz de ao longo de um dia transportar areia em um carrinho de mão por muitas horas, sentindo-se bem com aquilo; era capaz de fazer exercícios mentais por muito tempo até finalmente aprender o que estava estudando; era capaz de ir da casa para a escola e da escola para a casa por meses a fio fazendo rigorosamente o mesmo caminho; era capaz de brincar horas a fio com seus ordinários e amados bonequinhos d...

O Agricultor e as Árvores do Morro

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Um dos grandes prazeres do Agricultor Urbano era visitar a loja de produtos agropecuários do bairro onde morava; ficava lá um bom tempo olhando aqueles produtos da roça, aquelas sementes, aquelas ferramentas, aquelas botas, ficava lá sentindo aqueles aromas... Numa destas visitas foi gentilmente abordado por alguém que havia ido até lá para comprar ração para o seu cão. Era um vizinho das cercanias que morava a aproximadamente um quilômetro de distância da casa do Agricultor, em um morro próximo — a cidade do Agricultor era muito rica em morros. — Senhor, há muitos anos tenho observado seus movimentos no morro nos fundos de sua casa, sempre acompanhado por alguns cães, ora subindo o morro, ora descendo o morro, ora abaixado no morro, ora de pé no morro, ora ativo e cavando o morro, ora contemplativo e sentado no morro... Na minha curiosidade sempre perguntava para minha mulher o que afinal de contas você fazia naquele morro de forma tão constante e determinada, mas nunca obtive nenhuma...

Os Mistérios da Palha

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A vida gosta da palha Espalhada pelo chão As plantas necessitam da palha Os agricultores amam a palha O vento brinca com a palha Espalhada pelo chão Homem!  No seu saber, não atrapalhe a palha Na sua erudição, não varra a palha Na sua ciência, não queime a palha Na sua soberba, não maldiga a palha Espalhada pelo chão Espalha que a palha abriga do sol Espalha que a palha protege da chuva Espalha que a palha retém a umidade Espalha que a palha é toda simplicidade Espalha então a palha homem de Deus Pois a vida gosta da palha Espalhada pelo chão

Um Sonho de Mantiqueira

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O menino de 1922 chegou de Curitiba no seu caminhão; trazia um pequenino pianinho de madeira com o desenho de uma araucária  —  a araucária foi a primeira árvore que o menino de 1959 amou na vida, depois vieram todas as outras. O menino de 1922 comentou que a araucária era uma árvore muito bela e majestosa, e que o seu desejo era trazer uma delas para o quintal de sua casa, mas a infinidade do seu tamanho não cabia na finitude do seu caminhão  —  o menino de 1922 também amou as araucárias. Ao longo dos anos que vieram, o menino de 1959 sonhou que um dia moraria em uma floresta cheia de araucárias e outras árvores mais. Mas assim como a araucária era muito grande para o caminhão do menino de 1922, o sonho da floresta de araucárias era maior ainda, um sonho tão grande que o menino de 1959 não conseguiu realizá-lo  —  Estaria em greve, ou surdo aos anseios dos meninos, o grande realizador dos humanos sonhos em algum local do universo? Até que um dia chegou o m...

O Agricultor Imprevidente e a Cerca

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Era uma vez um agricultor que na companhia do seu estimado cão, plantou com sua inseparável enxada um pé de abóbora no seu amado campo. Com o passar dos dias a abobreira cresceu e floriu, e grande foi o encantamento do agricultor com ela.  Todos os dias o agricultor subia a colina onde ficava o seu campo para contemplar suas plantas e, sobretudo, admirar sua abobreira. Neste momento ele humildemente tirava o seu chapéu e agradecia ao Senhor dos céus: — Gratidão Senhor dos céus pelo meu campo, pela abobreira com suas belas flores e por todas as abóboras que virão; agradeço também pelos mansos e dóceis bois que pastam no verdejante campo além da cerca e pelo meu inseparável e fiel vira-lata. A resposta do Senhor dos céus era enigmática, sem palavras e sempre a mesma  —  o agricultor conseguia ouvir com o ouvido de sua intuição: — Olhe a cerca meu filho, olhe a cerca! O agricultor não conseguia entender muito bem aquela resposta. Ele sempre agradecia pela abobreira, pelo seu...