O Agricultor e as Árvores do Morro
Um dos grandes prazeres do Agricultor Urbano era visitar a loja de produtos agropecuários do bairro onde morava; ficava lá um bom tempo olhando aqueles produtos da roça, aquelas sementes, aquelas ferramentas, aquelas botas, ficava lá sentindo aqueles aromas... Numa destas visitas foi gentilmente abordado por alguém que havia ido até lá para comprar ração para o seu cão.
Era um vizinho das cercanias que morava a aproximadamente um quilômetro de distância da casa do Agricultor, em um morro próximo — a cidade do Agricultor era muito rica em morros.
— Senhor, há muitos anos tenho observado seus movimentos no morro nos fundos de sua casa, sempre acompanhado por alguns cães, ora subindo o morro, ora descendo o morro, ora abaixado no morro, ora de pé no morro, ora ativo e cavando o morro, ora contemplativo e sentado no morro... Na minha curiosidade sempre perguntava para minha mulher o que afinal de contas você fazia naquele morro de forma tão constante e determinada, mas nunca obtive nenhuma resposta para esta pergunta — comentou o vizinho do outro morro com o Agricultor Urbano.
Ouvindo tudo atentamente enquanto examinava algumas ferramentas, o Agricultor Urbano simplesmente respondeu sorrindo.
— Senhor... — continuou falando o vizinho do morro ao lado — tenho agora observado que quando olho para o morro não mais consigo observá-lo por lá, e por mais que aguce minha visão e procure não consigo encontrá-lo, e então torno a perguntar a minha mulher o que teria acontecido, e mais uma vez não obtenho respostas. Sou um homem obstinado e enfiei o seguinte pensamento em minha cabeça: "Eu não morro sem saber o que aquele homem tanto fazia naquele morro".
— Eu continuo lá no morro, cotidianamente fazendo as mesmas coisas.
— Mas senhor, agora eu não consigo mais observá-lo por lá, pois o morro está tomado de árvores de cima abaixo, uma pequena floresta verdejante em um mar de morros degradados, um verdadeiro milagre da natureza. Desculpe a minha insistência, mas afinal de contas o que o senhor tanto faz naquele morro por tantos anos?
— Eu não sou santo, mas faço o milagre!
— Como assim senhor, não compreendi.
— Enquanto não morro, eu simplesmente planto as árvores do morro! — respondeu bem vivo e sorridente o Agricultor Urbano.
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