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O Agricultor Urbano e a Sua Preguiça

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Naquela gelada manhã de inverno,  antes de ir para o campo  o Agricultor sentia um certo desânimo, algo muito pouco comum, estaria doente? Seguindo vagarosa e silenciosamente o seu caminho por entre as árvores, ele notou algo estranho, como se ao seu lado estivesse mais alguém além de seu fiel vira-lata. Neste momento o Agricultor percebeu a sua própria preguiça acompanhando sorrateiramente cada um de seus passos.  Finalmente ele entendeu a razão de seu desânimo e, apesar da sua preguiça, continuou sua jornada em direção a seus afazeres rurais. Chegando no campo o Agricultor  —    apesar da preguiçosa presença  — , pensou "se eu começar a trabalhar ela partirá", e então  começou determinadamente a carpir, roçar, semear, preparar o solo, organizar canteiros, caminhar de um lado para outro... e não demorou muito tempo ele estava novamente bem disposto e, sua preguiça  por simplesmente não suportar nenhum tipo de trabalho,  resolveu cochila...

O Caminhoneiro Solidário e a Viagem para a Eternidade

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"Eu era um menino e me lembro como se fosse hoje do meu pai dirigindo a carreta vermelha na estrada; o limite de velocidade era oitenta quilômetros por hora, e eu ali atento olhando para o velocímetro, setenta e cinco, setenta e seis, setenta e sete, setenta e oito, setenta e nove, quase oitenta, mas ele jamais chegava aos oitenta, e foi assim ao longo de todas as suas viagens. Por muitas vezes eu ouvi-lo dizer com alegria — meu filho, guarde bem as minhas palavras: Eu viverei cem anos e morrerei bem cedinho e discretamente, como um passarinho." — Seu Tião, seu Tião, acorda seu Tião — gritava uma voz no portão da casa. Sebastião ouviu a voz; eram mais ou menos quatro horas da manhã. "Quem será a esta hora, será que alguém está doente? não, não pode ser, já não tenho mais o fusca, devo estar sonhando", pensou Sebastião enquanto tentava reconciliar o sono. — Acorda Sebastião Barra Mansa, está na hora — gritava uma outra voz no portão. Sebastião acordou de vez; "Q...

O Homem da Semente da Laranjeira

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Se não me falha a memória, foi em meados dos anos 90 que eu ouvi alguém falar para mim, que no sul da Bahia havia um homem que plantava toda e qualquer semente que encontrava pelo seu caminho, até mesmo as sementes das laranjeiras. Naquela época, estava nascendo em mim o vivo interesse pelas árvores nativas do Brasil, e então, comecei a plantar sistematicamente um sem número delas pelas áreas públicas de minha cidade — sou um agricultor urbano sem terra —, tendo feito para mim mesmo a promessa de plantar em torno de quinze mil delas. Relato que para cada árvore que plantava, lembrava-me com carinho do homem da semente da laranjeira, mas eu tinha um certo preconceito com relação às árvores exóticas — apesar de amar as laranjas —, portanto, eu era um plantador de árvores puro sangue, plantando tão somente as nativas do Brasil. O tempo avançou, e ao longo de centenas de finais de semanas eu cheguei perto do cumprimento de minha promessa, percebendo com alegria crescer em ambiente urbano ...

Uma Foto de Amor

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Foto: José Carlos de Oliveira Tia Lourdinha, estava ontem cerrando madeira, estava ontem carpindo, podando e cortando, mas minha mente não estava lá, minha mente estava longe, muito longe, minha mente estava em ti. Por mais que eu tentasse concentrar-me, as lembranças iam sempre até ti. Nestas horas titia, eu sei que preciso agir, nestas horas, eu sei que estou sendo chamado para um compromisso, e neste momento, o compromisso é com a senhora. Estaria mentindo se dissesse que eu estou sentindo a sua dor, uma dor infinita e tão elevada, que somente as mães conseguem sentir. Tento medir a sua dor voltando à minha infância, relembrando momentos tristes, onde imaginava como seria a minha vida sem a presença de minha doce mãe por perto, como seria a minha vida com a minha mãe sendo chamada para o segundo andar da vida  —  eu sentia este terrível medo na infância titia, uma verdadeira assombração. Esta minha assombrosa dor titia, teria sido a dor mais profunda de minha vida, a dor d...

A Sabedoria de Jó

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Pergunte, porém, aos animais, e eles o ensinarão, ou às aves do céu, e elas lhe contarão; fale com a terra, e ela o instruirá, deixe que os peixes do mar o informem. Quem de todos eles ignora que a mão do Senhor fez isso? Em sua mão está a vida de cada criatura e o fôlego de toda a humanidade. Jó 12:7-10

A Natural Expressão do Amor

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Era março, mas veio uma estiagem fora de época, e o estio castigou as plantas recém plantadas pelo Agricultor Urbano. Caminhando pelo campo naquele dia seco, ele observou próximo a uma cerca uma pequenina muda completamente triste e murcha. Não demorou muito e o lado urbano do Agricultor retirou de seu bolso um aparelho celular, e em poucos segundos lá estava ele abaixado próximo à planta sofrida, e do seu aparelho eletrônico ecoava uma música de Bach. Naquele mesmo instante passavam por ali Sicrano e Beltrano; ambos ouviram a música que vinha do campo, e ficaram curiosos com a cena do Agricultor sentado no chão, com seu celular próximo à pequenina árvore. — Algum problema meu senhor? Perdeu alguma coisa? — questionou Sicrano. — Não — respondeu com naturalidade o Agricultor completamente atento à árvore —, estou apenas levando um pouco de música a este diminuto pé de guaçatonga que vem sofrendo muito com a seca, na esperança de mitigar o seu sofrimento. "Meu Deus do céu" — pe...

O Agricultor e o Palito de Fósforo

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Era uma vez uma caixa de fósforos onde moravam duzentos e quarenta palitos rigorosamente idênticos, exceto um, que por algum defeito de fabricação possuía um tamanho inferior, estava lascado e tinha uma cabeça bem pequena — infeliz palito. — Você é a ovelha negra da família; você é diferente de todos nós; você não será capaz de gerar sua própria chama; você denigre a imagem do nosso fabricante; você nunca será ninguém na vida — era isto o que o pobre palito ouvia diariamente dos demais palitos da caixa  —   insanos palitos. Depois de tanto ouvir isto dos seus companheiros, o pobre palito passou a acreditar em tudo aquilo, e acreditando, caiu em um profundo estado de tristeza, temendo sobremaneira o vexame futuro pelo qual passaria, quando fosse chamado para o seu único trabalho em sua vida, o de gerar uma pequena chama  — deprimido palito. Todos os dias um ou mais palitos eram retirados da caixa e, depois de riscados, cumpriam sua missão gerando sua chama; ao observa...