Uma Foto de Amor
Foto: José Carlos de Oliveira |
Tia Lourdinha, estava ontem cerrando madeira, estava ontem carpindo, podando e cortando, mas minha mente não estava lá, minha mente estava longe, muito longe, minha mente estava em ti. Por mais que eu tentasse concentrar-me, as lembranças iam sempre até ti. Nestas horas titia, eu sei que preciso agir, nestas horas, eu sei que estou sendo chamado para um compromisso, e neste momento, o compromisso é com a senhora. Estaria mentindo se dissesse que eu estou sentindo a sua dor, uma dor infinita e tão elevada, que somente as mães conseguem sentir.
Tento medir a sua dor voltando à minha infância, relembrando momentos tristes, onde imaginava como seria a minha vida sem a presença de minha doce mãe por perto, como seria a minha vida com a minha mãe sendo chamada para o segundo andar da vida — eu sentia este terrível medo na infância titia, uma verdadeira assombração. Esta minha assombrosa dor titia, teria sido a dor mais profunda de minha vida, a dor do vazio, da distância, da orfandade, do desamparo e da saudade eterna, mas o bondoso Deus poupou-me desta dor, e então titia, de forma natural vi mamãe partir um dia — é natural os filhos se despedirem dos pais —, mas aqui do meu ponto de vista do mundo titia, eu sinto que o inverso disto não é tão natural, e por isso deve ser muito, muito doloroso uma mãe observar o seu filho partindo.
O que eu posso então fazer em relação a isto amada titia? Posso largar as ferramentas e todos os meus afazeres e deveres e simplesmente escrever para a senhora agora, dizendo que eu não tenho a solução, que sou completamente impotente com relação a isto, mas que sinto que Deus tem, e então eu peço ao Senhor meu Deus, peço ao Senhor nosso Deus...
Deus do meu coração, Deus que me tirou do poço mais escuro e profundo, o desterro das almas, o poço da humana depressão, estenda a sua amorosa mão e ampare a minha querida tia, dando a ela muitas forças para suportar tão funda dor;
Deus de minha alma, ajude aquela mãe, mãe de Júlio, de Eliza, de Sérgio, de Marco Aurélio, ampare a esposa do mecânico Jorcy, mãe de outro Jorcy, mãe de Jarbina, mãe de Zezé;
Deus de infinito amor, leve através dos astros e do espaço, leve através das ondas das telecomunicações, leve através de todos os anjos, santos e arcanjos do céu, leve através dos homens de boa vontade, leve através de minha própria dor, saudade e gratidão esta mensagem de amparo, esperança, fé, conforto e carinho para a querida professora dos cafezais capixaba;
Deus que conhece todos os humanos endereços, não preciso nem dizer, mas é lá na rua Sete, lá em Alegre, ali pertinho daquela Igreja, aquela Igreja que o meu querido primo imortalizou através de uma foto com raios que vinham do céu; é para lá Senhor que dirijo minhas preces, é para lá que eu suplico a Ti que derrame raios de esperança e luz, pois é lá neste momento que sofre a minha querida tia.
Querida e amada tia, mãe e mulher; seu menino possuía o divino dom de fotografar o mundo exterior com rara maestria, e através de suas sensíveis lentes físicas e emocionais, legou para nós um mar de profunda beleza e sensibilidade.
Tia Lourdinha que eu admiro e respeito tanto, seu sobrinho possuí também um dom, o dom de fotografar o mundo de dentro, o mundo onde habitam as humanas emoções, e neste momento querida, a foto revela muita dor.
Ave Lourdinha cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito todos os frutos do vosso ventre e de vossa vida.
Eu sinto titia, que o seu amado menino ficará bem, sinto que a vida é uma eterna sucessão de fotografias que passam, e sinto, já agora, o dia em que virá uma foto que não passará, a gloriosa foto em que todos nós humanos, os humanos de todos os tempos e de todas as épocas estaremos imensamente felizes, na divina revelação da maravilhosa fotografia que somos cada um de nós, o mais puro reflexo da luz de Deus.
A foto que vejo da senhora agora titia, não sei se é três por quatro, não sei se é cinco por sete, não sei se é dois por dois, não sei se é colorida ou em preto em branco, não sei se é analógica ou digital, somente sei que é uma foto muito bonita, tão bonita quanto o seu beija-flor, uma foto de mãe, uma foto de amor.
Gratidão por revelar para todos nós o nosso amado Zezé; gratidão por tanto carinho e acolhimento nas vezes em que estive na sua casa junto aos seus; gratidão querida titia pela sua humana natureza e beleza. Sua benção querida esposa do meu padrinho, minha madrinha de coração, que Deus lhe abençoe e fortaleça agora e para todo o sempre.
Lindo texto Aloísio! DEUS abençoe este seu dom!
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