A Natural Expressão do Amor

Era março, mas veio uma estiagem fora de época, e o estio castigou as plantas recém plantadas pelo Agricultor Urbano. Caminhando pelo campo naquele dia seco, ele observou próximo a uma cerca uma pequenina muda completamente triste e murcha. Não demorou muito e o lado urbano do Agricultor retirou de seu bolso um aparelho celular, e em poucos segundos lá estava ele abaixado próximo à planta sofrida, e do seu aparelho eletrônico ecoava uma música de Bach.

Naquele mesmo instante passavam por ali Sicrano e Beltrano; ambos ouviram a música que vinha do campo, e ficaram curiosos com a cena do Agricultor sentado no chão, com seu celular próximo à pequenina árvore.

— Algum problema meu senhor? Perdeu alguma coisa? — questionou Sicrano.

— Não — respondeu com naturalidade o Agricultor completamente atento à árvore —, estou apenas levando um pouco de música a este diminuto pé de guaçatonga que vem sofrendo muito com a seca, na esperança de mitigar o seu sofrimento.

"Meu Deus do céu" — pensou Beltrano —, "ele deve sofrer de algum problema mental, até onde eu sei, as árvores não possuem ouvidos."

Algumas semanas depois, Beltrano e Sicrano passaram pelo mesmo local; ambos observaram que a pequenina árvore estava verdinha em folhas, e completamente revigorada próxima à cerca. Sicrano comentou com entusiasmo...

— Olhe Beltrano, a planta está bem agora! Ela deve ter gostado da música de Bach.

— Bobagem Sicrano; você não percebeu que tem chovido bastante nos últimos dias?

Para Sicrano, o renascimento da árvore foi devido a bela música de Johann Sebastian Bach; para Beltrano, foi tão somente pelo casual fato de ter chovido; para o Agricultor Urbano, a planta ressurgindo das raízes, tal como fênix das cinzas, foi simplesmente a natural expressão do amor universal.

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