Postagens

O Hóspede Indesejado

Imagem
A casa daquele homem era muito agradável e arejada, com as portas e janelas sempre destrancadas. Em uma tarde, enquanto descansava, alguém bateu à porta... - Quem bate? - É o Medo... Preciso conversar com você. O homem não conhecia Medo nenhum; nenhum parente, amigo, vizinho, ninguém com aquele nome em suas relações... deveria ser algum vendedor, cobrador não era, pois estava com todas as suas contas em dia.  Correu então até a porta, e a trancou. - Vá embora Medo, não te conheço, estou ocupado, e não quero comprar nada. No dia seguinte, na parte da manhã, o homem ouviu batidas na porta dos fundos. - Quem bate na minha porta? - É o  Medo... Preciso muito trocar algumas palavras com você. - Não é possível isso - falou o homem - já lhe disse para ir embora da minha casa, não quero conversar com você; não te conheço, não estou disponível para conversa fiada, suma de minha residência. Muito aborrecido, dirigiu-se à porta dos fundos e a tranco...

O Menino Lampião no Reino do Feiticeiro Queirós

Imagem
Era uma vez uma tarde de inverno, no Reino do Meio, onde habitavam, entre outros, o menino Lampião e sua inseparável amiga, a cadelinha Luz. Havia muita névoa naquele dia, Lampião já havia coletado muitas sementes, estava voltando para sua casa, e com a baixa visibilidade acabou enveredando por outros caminhos dentro da mata; quando deu por si, estava em um local nada familiar, bem árido, com muitas pedras e quase nenhuma árvore. Ali, por teimosia, somente alguns arbustos cresciam no meio daquela desolação. - Creio que estamos perdidos Luz, - falou o menino - vamos andar por aí a fim de procurarmos o caminho de volta, ou ainda, alguém que possa nos dizer onde estamos. O menino e sua amiga começaram a andar por aquela região, e então, pouco a pouco, começaram a encontrar pelo caminho inúmeras estátuas de pedra, todas elas, sem exceção, com uma expressão de medo e terror no olhar - seria algum capricho de algum artista? Enquanto andavam naquele local estranho, Lamp...

O Rato Silvestre, a Gata de Olhos Verdes e a Bruxa Vassorilda

Imagem
Era uma vez, há muito tempo atrás, lá no distante Reino Grandioso do Norte da Escuridão, o Reino do Norte , um menino que andava pelas ruas da aldeia vendendo bananas. Havia, naquela época, uma crise financeira geral, e para ajudar a família a equilibrar o orçamento doméstico, era comum o menino sair pelas ruas e praças vendendo o que tinha, geralmente frutas, legumes, ovos e verduras. Naquele mesmo dia, Vassorilda, a bruxa do Reino do Norte, estava de muito mal humor, como era bastante comum. Estava mais dura do que um coco da Bahia, sem  nenhum dinheiro  para comprar cobras, morcegos, sapos e lagartos para novos feitiços. Sua vassoura já estava penhorada, seu nome já estava sujo na praça, e por tanto desgosto, já havia mesmo enfeitiçado uma bela garota que havia passado perto de sua casa, - comprou o feitiço na loja de magias, em doze vezes sem juros, no cartão -  e sem alguém mais se atrevesse a se aproximar, receberia também uma pequena carga de desgraç...

O Homem que Fugiu

Imagem
Não era uma vez, era mesmo um homem que não suportava mais a vida que estava levando. Seu casamento havia sido um erro, pensava ele, a mulher, que era tão agradável e tão doce, transformou-se, segundo sua visão, em um grande estorvo em sua vida. Ele não conseguia suportá-la mais, sua presença trazia sempre muito incômodo para ele, queria, a todo e qualquer preço, ficar bem longe dela, se possível, para sempre. Mas ele foi protelando a separação, e veio o primeiro filho, e com este, a sua situação piorou. Conforme aquele menino crescia, sentia em si mais e mais dificuldades em conviver com ele, não conseguia sentir-se bem em sua presença, e na medida do possível, sempre o evitava; a companhia do filho trazia para ele um permanente desconforto em seu coração.  A ideia da evasão era cada dia mais presente, porém, veio o segundo filho, uma menina, suas responsabilidades então cresceram, como também cresceu a filha, e com o crescimento desta, nasceu entre eles o mais profundo...

A Árvore da Felicidade

Imagem
Era uma vez em uma cidade não muito distante, uma festa de bodas; o dia estava lindo, todos estavam felizes, os noivos, no esplendor da juventude, eram a própria imagem da alegria. Naquele dia eles receberam muitos presentes, cada um mais bonito do que o outro. No final da festa, quando todos começaram a partir, surgiu, com sua tez morena e seu chapéu e sorriso largo, o avô do noivo - não cabem aqui palavras para descrever o amor que aquele jovem sentia por aquele homem. - Meus filhos... - falou o avô. Trago para vocês um presente muito raro. Muitos o procuram palmo a palmo pelos campos, florestas e caminhos da vida, e não conseguem jamais encontrá-lo. O avô, que era lavrador, lenhador, sábio, e carpinteiro por ofício, entregou para o neto e sua esposa duas mudas de árvores muito pequeninas, porém, de uma beleza estonteante. - Cuidem destas plantas crianças. São as árvores da felicidade, o bem mais procurado pela humanidade, desde os tempos mais remotos. Para que a f...

Primeiro a Luz

Imagem
Primeiro a luz depois o raio, depois o trovão, depois a chuva Primeiro a chuva depois os brotos, depois as flores, depois os frutos Primeiro os frutos depois as árvores, depois a sombra, depois o abrigo Primeiro o abrigo depois os passarinhos, depois os ninhos, depois os filhos Primeiro os filhos depois o olhar,  depois o desejo, depois o beijo Primeiro o beijo depois o abraço, depois o afeto, depois o amor Primeiro o amor depois o cativar,  depois o semear, depois as sementes Primeiro as sementes depois o chão, depois o trigo, depois o pão   Primeiro o pão depois o crescer, depois o viver, depois o saber Primeiro o saber depois o despertar, depois o ser, depois a luz Primeiro a luz...

A Greve da Angústia

Imagem
Era uma vez um homem que estava sentindo muita, muita angústia, então... - Pode ir parando por ai, sem mais então. - Quem está interrompendo a minha escrita? - Sou eu! - Eu quem? - Sou eu, a Angústia. Não quero continuar no seu texto. - E desde quando amiga Angústia, você tem autonomia para dizer se vai ou não participar da crônica? - Desde agora. Eu me recuso a continuar, por favor, busque outra emoção, existem várias... - Mas por que amiga, você está dificultando o meu trabalho no dia de hoje? - Ora escritor... Costumeiramente você me inclui nos seus textos, Angústia para cá, Angústia para lá... confesso que já ando um pouco cansada disto,  afinal de contas, ninguém gosta mesmo muito de mim; todos aqueles que sentem minha presença tentam fugir e me esquecer, tentam me esconder nos porões de sua alma, fazem de tudo, enfim, para negar a minha existência; melhor então eu ficar quietinha e despercebida. Não quero, pelo menos no dia de hoje, tira...