O Agricultor Urbano e seu amigo, o Sol

Vou relatar um caso ocorrido entre dois amigos, o Agricultor e o Sol; como era muito cedo, as únicas testemunhas do caso foram alguns pássaros, umas poucas vacas que pastavam mansamente no pasto próximo, e o velho vira-lata do próprio Agricultor, que de fato seria uma péssima testemunha, pois em função do avanço da idade cochilou quase todo o tempo do caso. 

Assim começou o caso... 

O incidente ocorreu há muito tempo, na época da pandemia mundial do corona vírus. O Agricultor Urbano e seu fiel vira-lata Tição chegaram ao campo bem cedo, era fim de inverno e o sol não havia ainda dado o ar de sua graça e luz, fato muito raro de acontecer.

No limiar da aurora, com sua enxada na mão O Agricultor olhou para o horizonte sem fim pelo lado leste — ele sabia que seu amigo infalivelmente nascia lá —, e depois de constatar mais uma vez que ele ainda não havia surgido, deu uma boa gargalhada matinal e perguntou:

— Perdeu a hora amigo Sol?

Não obteve nenhuma resposta de imediato, teria se vexado seu amigo, o Sol? Enquanto o velho e fiel Tição cochilava pelas proximidades, o Agricultor começou sua costumeira lida até que, quinze minutos depois o Sol com toda a sua majestade, graça e luminosidade interior — o sol jamais se melindra — pintava todo o horizonte com uma belíssima cor alaranjada;  grande foi neste momento a alegria do Agricultor pela presença do seu recém chegado amigo, o Sol.

Como tinha outros afazeres fora do campo naquela manhã, lá pelas dez horas o Agricultor recolheu sua enxada e chamou pelo são cão, que ainda cochilava sobre as palhas aquecidas do capim carpido, e começou a retirar-se; nesta hora ouviu lá do firmamento sem fim a voz do seu amigo, o Sol:

— Está fugindo do trabalho amigo Agricultor? — perguntou e gargalhou o Sol lá do alto do céu com seus luminosos e radiantes raios.

O Sol não ouviu nenhuma resposta de imediato, teria se vexado seu amigo, O agricultor?

Alguns instantes depois o Agricultor tirava seu chapéu e acenava para seu amigo, o Sol, com profundo sentimento de respeito e alegria...

— Até amanhã meu dileto amigo, a vida não seria possível sem ti, receba hoje e sempre a minha eterna gratidão pela sua majestosa e singular presença — os humildes jamais se melindram.

O Sol respondeu sorrindo com mais calor e luz para o seu amigo, o Agricultor, e sobretudo, para toda a Via Láctea com seus bilhões de estrelas, continuando serenamente sua eterna e iluminada viagem em direção a infinitos ocasos. 

Simplesmente assim terminou o caso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Agricultor e a Poetisa Ferida

O Marido, a Mulher, o Rio e a Calça

A Finitude das Redes e a Infinitude do Mar