Os Baldes da Esperança
De vez em quando, nas suas andanças, o Agricultor costumava encontrar pelos seus públicos bosques velhos baldes comumente utilizados na construção civil — baldes sem alças, com alças, inúteis, rachados, furados, desprezados, abandonados...
Para muitos aquilo não servia para nada, mas o Agricultor recolhia-os, um por um. Vozes mudas — se existe um Agricultor Urbano invisível e anônimo, não é improvável então a existência de mudas vozes — olhando aquela cena corriqueira e insólita diziam: "Ele não é muito certo da cabeça; ele gosta de juntar entulho; ele não tem nada mais interessante para fazer; ele é muito estranho; ele deve trabalhar com plástico reciclado...".
Um dia, notando tudo aquilo, enquanto brincava na praça próxima ao bosque, uma criança comentou com a sua mãe:
— Mamãe, o Agricultor não chuta os baldes! lá vai ele com os seus velhos baldes cheios nas mãos.
A mãe observou a cena e não comentou absolutamente nada; cada um daqueles velhos baldes eram posteriormente enchidos com terra e, neles, ano após ano, o Agricultor plantava suas amadas sementes, fazendo de cada um deles um berçário de árvores. Depois da semeadura, dia após dia, o Agricultor carinhosamente regava a terra contida naqueles berços improvisados, até que, depois de algum tempo, a natureza começava a responder através de pequeninos brotos: Jabuticabeiras, sibipirunas, ipês, cedros, jacarandás, palmeiras, araucárias, araçás, pitangueiras, goiabeiras, eritrinas...
Cada uma daquelas pequeninas mudas eram posteriormente plantadas em saquinhos individuais, e lá ficavam até atingirem o tamanho adequado para o plantio nos campos. Meses depois, alguns daqueles baldes berços eram transformados em baldes recipientes, nos quais eram conduzidas as pequeninas árvores, e lá ia novamente o Agricultor Urbano com os seus velhos baldes cheios de mudas de árvores nas mãos.
Apesar do tempo, novamente a mesma mãe, a mesma rua, a mesma praça e a mesma criança, que ao observar o Agricultor retornando por ali, comentou com sua genitora:
— Mamãe, o Agricultor não chuta os baldes! Lá vem ele novamente com todos eles cheios em suas mãos, como de costume.
— Meu filho — comentou a mãe desta vez — você está cometendo um erro: Meses atrás — a mãe possuía uma excelente memória — ele partiu daqui com os baldes vazios, e somente agora os baldes estão cheios.
— Ledo engano mamãe, ledo engano... Meses atrás os baldes estavam cheios de esperança, e agora estão cheios de árvores.
Obrigada. Muito lindo! Parabéns! Amo os seus textos. Só por hoje eu sou a pessoa mais importante da minha vida.
ResponderExcluirUm dia de cada vez.
Que lindo!
ResponderExcluirFormidável!
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