A Pitangueira, o Menino e a Chuva
Era comum para o menino naqueles dias de sua infância, ao entardecer, dirigir-se a uma grota deserta no sopé de um morro, e lá ficar até ao anoitecer, solitariamente, empoleirado como um passarinho lá no alto daquela pitangueira frondosa e solitária, tão solitária quanto ele mesmo.
O menino gostava demais das pitangueiras, saiu um dia então para o quintal, encheu uma garrafa com água, cavou um buraco, e lá dentro, carinhosamente plantou a muda da árvore que ele tanto amava. Com a água da garrafa ele regou a pequenina planta, desejando muito que ela pudesse vingar e crescer. Terminada a tarefa, fechou a tampa da garrafa e foi seguindo o seu caminho em direção à sua casa, rodeado por pitangueiras de outrora e muitas outras árvores também.
O menino, na sua inocência, observou ainda um pingo de água dentro da garrafa fechada. Olhando lá para dentro do vasilhame transparente e vendo o pingo preso ali dentro, sentiu compaixão, lá no fundo do seu coração ele sentia que o pingo deveria amar a liberdade, tal como os passarinhos do céu.
O pingo preso no vasilhame sentiu a vibração amorosa do coração do menino, e era tanto amor que ele foi relaxando e ficando leve, muito leve, transformando-se em vapor e subindo para o céu, e lá em cima, lá do alto, era tanta beleza e liberdade, era tanto encantamento, era tanta gratidão pelo amor daquele menino, que aquele pingo contagiou com sua alegria outros pingos também, e então eles não resistiram, e em determinado momento humanizaram-se, condensaram-se e choraram, pingando todos juntos, precipitando-se céu abaixo em forma de lágrimas, absolutamente confiantes, tão somente para regar a pitangueira daquele menino, num choro da mais sincera alegria, em uma chuva da mais profunda gratidão.
No princípio, antes de conhecer as pitangueiras, o menino já amava a chuva, e já se encantava com todos os pingos que caiam do céu.
No princípio, antes de conhecer as pitangueiras, o menino já amava a chuva, e já se encantava com todos os pingos que caiam do céu.
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