O Amor Nos Tempos das Louças
É cedo e faz muito frio, louças sujas sobre a pia, preciso ir para o campo cuidar das árvores, minhas eternas amadas, a amada dorme. A ansiedade é grande, os vira-latas já estão latindo, querem ir para o campo também, louças sujas sobre a pia, preciso lavar estas louças, preciso merecer o amor da amada, a amada dorme. Começo a lavar as louças sujas de hoje, que foram as louças limpas de ontem, louças que passaram pelas mãos da amada, que com o seu amado jeito preparou o jantar que nutriu o meu corpo, meu coração e a minha alma, a amada dorme. Os vira-latas estão esperando resignados debaixo da mesa, querem ir logo para o campo; a água da pia está muito fria, vou lavando bem devagar, poupando as mãos da amada que são belas e sensíveis; mãos que tocam e curam, mãos que lavam e tecem, mãos que amparam; mãos que mais se parecem ferramentas divinas, mãos que acenam triste quando parto; mãos que se abrem felizes quando eu regresso...