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Mostrando postagens de agosto, 2017

O Amor Nos Tempos das Louças

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É cedo e faz muito frio, louças sujas sobre a pia,  preciso ir para o campo cuidar das árvores, minhas eternas amadas,  a amada dorme. A ansiedade é grande, os vira-latas já estão latindo, querem ir para o  campo também, louças sujas sobre a pia,  preciso lavar estas louças, preciso merecer o amor da amada,  a amada dorme. Começo a lavar as louças sujas de hoje, que foram as louças limpas de ontem, louças que passaram pelas mãos da amada, que com o seu amado jeito preparou o jantar que nutriu o meu corpo, meu coração e a minha alma,  a amada dorme. Os vira-latas estão esperando resignados debaixo da mesa, querem ir logo para o campo; a água da pia  está muito fria, vou lavando bem devagar, poupando as mãos da amada que são belas e sensíveis;  mãos que tocam e curam, mãos que lavam e tecem, mãos que amparam; mãos que mais se parecem ferramentas divinas, mãos que acenam triste quando parto; mãos que se abrem felizes quando eu regresso...

O Sorriso do Sebastião

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Centro do Rio de Janeiro Era domingo à noite, e debaixo de muita chuva o Agricultor Urbano chegou ao Rio de Janeiro. Não era muito comum chover em agosto, mas era um bom sinal, certamente a primavera chegaria mais cedo, trazendo o verde e as flores, renovando a beleza do viver. Choveu noite a dentro sem parar, mais parecia as águas de março, o Agricultor amava a chuva, e dormir ouvindo os pingos caindo sobre o telhado da casa era para ele uma benção, um presente divino. Amanheceu, segunda-feira e ainda chovia bastante. Adeus romantismo de poeta, a realidade bateu à porta, estava frio e ventava muito, o tempo convidava para ficar na cama sonhando debaixo das cobertas, "onde já se viu meu Deus do céu, segunda-feira com chuva", bradava o homem velho dentro do Agricultor. Ele levantou da cama meio a contra gosto, preparou e tomou o seu café, e a chuva caindo no telhado; tomou seu banho e a chuva caindo no telhado; arrumou-se, estava pronto para sair, mais a chuva teimosa...

Um Certo "Seu Manoel"

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Nina, Tição e Miúda O agricultor, terminando a lida do dia, feliz da vida com as plantas bem cuidadas, o mato carpido, as árvores crescendo com vigor sob a luz do sol, vai subindo o morro em direção à sua casa, e então vem à sua memória lembranças de sua infância, lembranças daquele homem...  "Não sei de onde ele veio, sei somente que um dia passou lá pela casa de meus avós a procura de trabalho e lá foi ficando, ajudando nas atividades do campo, e com o tempo e sobretudo pela generosidade de João e Francisca, "Seu Manoel" acabou instalado de forma definitiva, arrumaram um quarto para ele, - em casa de pobre sempre cabe mais um - de forma que passou a fazer parte da família. "Seu Manoel" era analfabeto e coxo, nunca consegui precisar sua idade, mas com suas calejadas e habilidosas mãos manejava a enxada como poucos, era muito trabalhador, e depois de algum tempo dava mesmo gosto de ver o roçado todo carpido, uma beleza. Apesar da falta de instrução, era ...

A Catedral do Agricultor

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Naquela manhã, andando pela mata nos fundos do seu quintal, o Agricultor Urbano ficou indignado, enfurecido, muito triste, aborrecido... O vizinho do lado, após uma obra, resolveu despejar lá dentro daquele bosque o seu entulho, espalhando pedras, restos de tijolos e telhas —   dentre outras coisas  — , por todos os lados.  Ao longo daquele dia o Agricultor passava por ali e olhava aquilo e logo vinha à sua mente aquela ação nefasta, "que vizinho inconsciente, que vizinho porco, que vizinho que não alugava uma caçamba, que vizinho que...". Nos dias seguintes a visão negativa do vizinho foi passando, ele era tão humano quanto ele mesmo  —  pensava o Agricultor  — , mas o entulho físico e a mágoa continuavam lá, e aquilo o incomodava, precisava fazer alguma coisa.  Então, veio à sua mente a imagem da Santa; ele tinha devoção e carinho por ela e, desde criança aprendeu através de sua mãe a amá-la, e naquele instante o seu coração disse a ele o ...

Meu Amigo Passarinho, Meu Amigo João

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No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus...  Assim começa o evangelho de João, o evangelista. João para o meu coração é um nome sagrado, João Pereira foi o meu avô, João de Oliveira foi o meu outro avô,  João é o meu filho, e um dia,  pela graça de Deus conheci o pequenino João, que desde o primeiro olhar passou a ser meu  amigo, como se aquele primeiro encontro fosse simplesmente o despertar de uma amizade que já existia a milênios. João era de uma simplicidade e sinceridade extrema, coisa de João, sorriso farto, jeito alegre, olhar profundo, contagiante e verdadeiro, uma simpatia. Acordava sempre cedinho, trabalhava como construtor, sobretudo de casas, sua principal ferramenta de trabalho era uma pequena colher de pedreiro, que ele manejava com elegância  e destreza, comia só um pouquinho, seus sapatos eram do tamanho dos sapatos dos meninos, ou menor, seu passo era mínimo, seu andar era máximo e leve, sua altura pod...