João, Aquele Abraço

Tempo bom para um abraço
E naquele seis de maio, lá nas entranhas da Serra da Mantiqueira, o menino levanta com uma certeza... Estava frio e chuvoso, ele liga para o pai e pergunta pelo tempo. Estava instável, diz o pai do outro lado da linha, a duzentos e cinquenta quilômetros de distância, mas o sol estava querendo dar o ar da graça. E então apesar do frio e das chuvas esparsas, ele sobe em sua motocicleta e vai aos poucos cruzando a Mantiqueira, passando ao largo de suas cristas, de suas águas, de suas árvores, de sua gente... E pouco a pouco a serra vai ficando para trás, e agora para trás já ficou o Estado de Minas, já é o planalto paulista, outrora rico em cafezais, e ele ele vai firme pela grande rodovia, sempre em direção ao sol, em direção ao leste, em direção ao pai, guiado pelo velho Rio Paraíba, o do sul, rio tão útil, tão amigo e tão desprezado pelos homens, e seguindo o rio, ele chega no estado, o do Rio, deixando São Paulo pelo retrovisor, e continuando sempre vai finalmente aproximando-se do seu destino, depois de onde a Barra do rio é Mansa, chegando finalmente onde o rio faz uma volta, uma Volta Redonda. E naquele sábado compartilha o seu tempo com os pais, e almoçam juntos e contam casos da vida, e o menino é bom de conversa, como seu bisavô, o outro João, o Pereira, e apesar da juventude já demonstra uma certa maturidade, e o pai olha para o filho e sente-se feliz pela cria. E no dia seguinte, o dia do dom, o domingo, pai, filho e familiares ainda passam juntos aquela manhã tão agradável, e chegada a hora do menino voltar, ele abraça o pai, monta no seu cavalo mecânico, e com a devida benção, segue novamente o seu caminho, agora em direção ao poente, buscando novamente a serra das águas, a Mantiqueira. Ele poderia simplesmente ter ligado, poderia ter enviado um Zap, poderia ter redigido um lindo e-mail, poderia também ter escrito algumas palavras e postado algumas fotos pelo face, com fadas, sinos, árvores, estrelas... Mas o menino na sua humanidade, no seu jeito tão autêntico, tão simples, tão João, resolveu comparecer para dar um abraço no pai, afinal de contas era o seis de maio, um abraço afetuoso e inesquecível, um abraço mais alto que a Mantiqueira, que o abriga como o ventre de uma mãe, e mais profundo que o Paraíba, que como um pai, sustenta todo um vale, um abraço cheio da graça, da graça de um filho, da graça de um João, de um João de Deus.

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