O desejo do agricultor
Caroba Branca, com oito anos de idade |
Na passagem do ano, quase nos minutos finais de 2015, o agricultor solitariamente subiu o morro de seu quintal e, próximo a um pé de pitanga, avistou ao longe os fogos de artifício saudando o ano que estava começando, o 2016. Foi só, seus acompanhantes, os vira latas não o acompanharam, menos pela escuridão e pela hora avançada, o barulho dos fogos os incomodavam, e eles resolveram ficar sob a mesa da cozinha, tentando fugir da agitação. Naquele instante, pensou o agricultor, muitos e muitos pedidos, promessas e desejos estavam sendo feitos, as pessoas de um modo geral, sempre desejavam um mundo melhor, cheio de paz e alegria. O agricultor observou os fogos silenciosamente, fez também um desejo, não fez nenhuma promessa, o ano estava acabando, e ele havia tentado viver cada minuto do velho ano da melhor maneira possível, e era isto também que ele tentaria fazer para o ano seguinte. Momentos depois ele retornou para sua casa, já era agora ano novo, e no dia seguinte, um domingo, ele deveria acordar cedo para ir cuidar da terra. E no outro dia, bem cedinho, enquanto todos dormiam, o agricultor levantou bem cedo e saiu para o campo, a fim de cuidar das árvores passadas e plantar as futuras. E lá naquela mata, observava ele com alegria árvores de 2015, 2014, 2013..., haviam mesmo ali árvores plantadas em 1999, todas crescendo, e agora ele começaria a plantar as de 2016, e isto o enchia de felicidade. E se naquele momento, naquele primeiro dia do ano, alguém passasse por aquele local e observasse o agricultor solitário plantando e plantado, certamente pensaria que ele deveria ser algum maluco, doido, lelé da cuca, ou qualquer coisa assim, afinal de contas, pensaria este alguém, como poderia um homem levantar tão cedo no primeiro dia do ano, um feriado mundial, para ir ao mato cultivar mato? E o transeunte ficaria ainda mais pasmo ao saber que o agricultor repetia aquele gesto de forma cotidiana, já por alguns anos. Enquanto isto, lá na colina, ele ia cavando os buracos e plantando as árvores, e se os que passassem pela rua pudessem ler os seus pensamentos, leriam coisas asim: "A felicidade é aqui e agora, está dentro de mim, independe de qualquer fator externo, independe da virada dos anos, das décadas, dos séculos, é atemporal, é presente, e neste exato momento, no meio deste campo solitário eu, solidariamente com as árvores, sinto-me o homem mais feliz do mundo." E enquanto ele ia ali naquela manhã lidando com as coisas do campo, a cada árvore que ele plantava, brotava dentro dele um profundo sentimento de gratidão pela vida e pela realização de seu desejo mais profundo, que era basicamente possuir saúde para ao longo de sua vida, deixar um rastro verde pelos caminhos por onde passasse. Este era, enfim, o desejo do agricultor para o 2016, e todos os anos vindouros.
Eu sempre admirei seu gesto de retribuir à vida, por ela ter lhe dado a alegria de viver.
ResponderExcluirSonho que algum dia também retribuirei de alguma maneira...
...quando a alegria de viver vier para dentro de mim, ou quando eu souber o que eu devo fazer.
Sonho e vejo coisas além deste mundo, que gostaria de dividir com o maior número de pessoas que eu pudesse, mas não sei como.
Grande abraço, agricultor amigo.
Angelo Novarino Britto
Venho procurando transformar minha angústia e meus medos em palavras, a fim de me encontrar e ajudar também a outros a encontrarem a saída do poço das emoções...
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