Corram e Avisem ao Agricultor
Árvores em Crescimento em uma Área Pública e Abandonada |
Aquele solo estava abandonado, o capim colonião tomava conta de tudo, o lugar era muito seco, haviam sauveiros por todos os lugares, um terreno muito pedregoso, sem nutrientes, depois de décadas de exploração tudo aquilo mais se assemelhava a um deserto. O agricultor passou por lá e percebeu que mesmo sob estas condições tão adversas, algumas remanescentes da antiga mata atlântica ainda brotavam por ali, ora ele via uma goiabeira, ou uma araçá, as vezes encontrava monjouleiros, amendoim do campo e outras árvores mais que desafiavam todos os contratempos e tentavam crescer naquele local. O agricultor era leigo, não havia estudado botânica, nem engenharia florestal, não possuía mesmo nem um curso técnico na área de agricultura, sua formação era outra, mais voltada à ciência dos números. E, cientificamente desconhecendo todas as adversidades daquele solo, apenas com sua vontade, sua enxada e sua cavadeira, começou pouco a pouco a cuidar daquela área, foi cortando o capim, deixando que ele virasse adubo, foi introduzindo árvores nativas das matas brasileiras, de grande resistência, tal qual o povo que vive aqui, e pouco a pouco o capim foi dando lugar aos ipês, cedros, jacarandás, paineiras, começaram a aparecer as jabuticabeiras, pitangueiras, palmeiras e um sem número de outras árvores, quanto mais ele plantava, mais as árvores cresciam. Num processo extraordinário, a natureza começou a cooperar com ele, e dia após dia, o capim ia dando lugar a um bonito bosque com muita biodiversidade, com muitos pássaros, com muita vida. E depois de alguns anos de intenso trabalho, chegou a notícia no departamento de parques e jardins da cidade, que um homem solitário plantava árvores no alto de um morro abandonado. Disseram que, segundos relatos dos que passavam pelo local, era muito comum o trabalhador solitário aparecer sempre aos domingos, bem cedinho, alguns achavam que ele era funcionário público, porém logo perceberam que isto não era possível, pois seria muito raro encontrar um funcionário público trabalhando em um domingo antes das 7 da manhã. Os responsáveis pelo paisagismo na cidade resolveram mandar ao local um técnico especializado para dizer ao pobre agricultor ignorante que naquele local nada poderia crescer, aquele solo, segundo os mapeamentos municipais estava completamente exaurido, e sem adubo e muita técnica agrícola nada seria possível fazer ali, haveria a necessidade de muito investimento e muita verba para a recuperação daquela área. E assim ocorreu, um funcionário de boa vontade, com profundo espírito de solidariedade correu para avisar o agricultor que o trabalho era inútil, porém, quando chegou ao local deparou-se com um lindo bosque com um sem número de árvores da mata atlântica, observou um grande número de pássaros, borboletas e outros insetos, notou que o local nada mais se assemelhava aos registros dos mapas da cidade, uma profunda transformação havia ocorrido, o verde havia vencido o processo de desertificação, o local era simplesmente belo, encantador. O funcionário procurou pelo agricultor, porém não o encontrou, já eram mais de 10 horas da manhã, e ele já havia partido. o Homem partiu aliviado, afinal de contas não tinha mesmo nada a dizer àquele agricultor solitário e obstinado, as árvores estavam lá, e as árvores falavam por ele.
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