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Um Sopro de Deus

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Havia uma grande pedra no fundo daquele poço, onde aquele homem muitas vezes passava dias e dias sentado, sempre calado, triste, melancólico, nostálgico, encolhidinho, sofrido... Ele estava cansado de viver dentro poço, o poço das suas próprias emoções, onde habitava medo, angústia, melancolia, solidão, ressentimento, indiferença e uma infinidade de sentimentos negativos.  Descobriu que estava no poço porque todos aqueles sentimentos do poço eram na verdade as suas próprias emoções, ou seja, ele não havia sido colocado lá por ninguém, no fundo do poço ele era poço e fundo também. Com o passar do tempo ele descobriu que não fazia mais sentido estar ali dentro, já não tinha mais medo, já não sentia mais solidão, angústia ou indiferença, ele estava mudado e precisava então mudar de ambiente, sentia-se agora como um inquilino em casa alheia, precisava sair do poço, sua alma dizia isto para ele.  No fundo daquele poço ele era o seu próprio e pequenino deus, e...

Era um Sábado

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Era um sábado, muito cedo, todos dormiam. Com as chuvas de novembro, a primavera finalmente havia chegado, o viveiro do Agricultor estava cheio de mudas, estava então na hora de levar aquelas amadas para o campo, a terra estava pronta, o Agricultor e suas ferramentas também. O Agricultor amava os sábados, era um dia especial, depois dele viria o domingo, e antes dele havia sido uma sexta feira, portanto um dia muito especial, entre dois outros dias igualmente especiais, e neste dia sua mente começava aos poucos a desligar-se da rotina da semana, os sábados poderiam ser eternos, pensava o Agricultor.  Pegou inúmeras mudas no viveiro e saiu pelo campo, todos dormiam ainda, o sol não havia ainda despontado no horizonte, talvez estivesse adormecido também, o Agricultor amava aquelas primeiras horas matinais, conseguia ouvir o canto de muitos passarinhos, sem a interferência dos ruídos urbanos e humanos, uma graça.  Passando agora pela beira da rua, percebeu a mangueira pl...

O Doutor Que Veio do Céu

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O que vou contar agora já se perdeu nas noites do tempo, porém a emoção de quem me relatou era presente e profunda, como se o fato tivesse acontecido nos dias atuais. Vamos então voltar no passado, sessenta ou setenta anos atrás, lá pelas bandas da Serra da Mantiqueira, no sul das Minas Gerais, naquelas terras onde a água jorra com abundância e alegria do chão. Antônio, o vaqueiro, estava doente, o desânimo havia tomado conta de sua vida, não tinha mais forças para cuidar de sua família, de seu gado, de sua lavoura, de suas criações, não tinha mais forças tocar sua viola e contar seus "causos", não tinha forças para mais nada, dia a dia sentia-se cada vez mais fraco, e isto enchia o seu coração de tristeza. Ele que sempre havia sido tão ativo, passava agora horas e horas do seu dia sentado em uma cadeira, tomado pelo mais profundo desânimo, olhando para fora, para as terras, para as serras, olhando para tudo ao redor, sem coragem para fazer nada, como se estivess...

O Esfriamento dos Corações

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O Agricultor Urbano, naquele domingo pela manhã plantava suas árvores na beira da rua, quando então alguém que passava indagou... - Agricultor, você não está preocupado com o aquecimento da terra? O Agricultor sorriu para ele e respondeu... - O que me preocupa não é o aquecimento do planeta, mas sim o constante esfriamento dos corações humanos. Pegou então sua cavadeira e voltou a cavar, muitas árvores ainda seriam plantadas naquela manhã de primavera.

As Bolotas Divinas

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Manhã de Sexta feira, tudo cinza, um cansaço mortal, o lado urbano do agricultor abre a guarda, o pessimismo toma conta de sua alma, está cansado, está sedento de luz e paz. Ao longo da semana que está chegando ao fim leu jornais, bebeu um pouco do pessimismo do mundo, teve mesmo dificuldade de lidar com algumas pessoas carentes de compreensão, pessoas autoritárias e cheias de razão, sua alma está agora em frangalhos, precisa muito de liberdade, precisa desesperadamente sair de sua prisão interior. Já é a terceira semana de novembro, a primavera chegou, as chuvas não, sem chuvas, sem árvores, meu Deus do céu... Arruma sua bolsa e sai como um ébrio pelas ruas de Botafogo rumo ao metrô, desce a Assunção, cruza a Niemeyer, passando pelo hospital Samaritano, doente como está, o desejo é quase o de entrar e pedir para passar ali algum tempo, precisa urgentemente de uma transfusão, não de sangue, de celulose, porém ele sabe que aquele hospital é para o corpo e não para a alma, segue a...

Não me Siga no Twitter

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       Depois de muita insistência, o Moço das Letras criou uma conta no Twitter para o Agricultor Urbano, na esperança de que este pudesse ser seguido por um mundo de pessoas.     O Agricultor Urbano, com aquele seu jeito meio brejeiro, meio simples, chegou mesmo a postar algumas notas, escreveu sobre árvores da mata atlântica, frutas no pé, pés no chão, dias ensolarados de primavera, água pura da fonte, cheiro de terra molhada, queda das folhas no outono,  floradas dos ipês nos meses de inverno, postou também sobre  alegria, esperança, medo, ansiedade, amizade...    D epois de algum tempo ele acabou desistindo, não conseguiu mais do que três ou quatro seguidores.  Conformado com a situação, e achando mesmo graça naquele pedido do Moço das Letras, resolveu então parar de postar,  e continuar sendo seguido pelos seus três vira latas que o acompanhavam fielmente por todos os lugares, escrevendo ou não alguma coisa...

As Irmãs do Agricultor

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O agricultor urbano deixa para todos uma pequena lembrança de suas irmãs, as árvores, com as quais passou um maravilhoso domingo. Começa a anoitecer, está agora de volta para a outra floresta, a de pedra. Outros domingos virão... Se desejar saber mais sobre as árvores do agricultor e outras crônicas, dê uma olhadinha no livro abaixo. São muitas árvores, muitas emoções...