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O Galo da Costureira

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A mãe costurava muito, dependia daquele trabalho para complementar o orçamento doméstico, e de quando em quando algum cliente não pagava pelo serviço,  e ai então era acionado o menino, que além de brincar com os seus soldadinhos amados e baratos,  também fazia o trabalho de cobrador oficial da costureira. E lá vai ele a pedido da mãe na casa de Dona Fulana de Tal, não gostava daquilo,  onde já se viu sair pelas portas do mundo cobrando os outros, no fundo o que ele sentia era que cada um devia mesmo cumprir com suas  obrigações e saldar seus débitos, porém...  - Dona Fulana de Tal, minha minha mãe pediu para eu vir aqui. É sobre o dinheiro da costura... - Fale com a sua mãe menino que estou de mudança, vou embora amanhã, e deixarei no galinheiro lá nos fundos do quintal um galo, assim que a mudança sair pode vir aqui e pegá-lo, esta é a forma como tenho de pagar pela costura. E o menino foi-se embora, no fundo não era tão ruim assim, ele gostava...

O Amor Nos Tempos dos Pregos

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É manhã agora; lá está o velho caminhoneiro com sua mente exaurida pelas longas viagens da vida, homem que andou pelos campos da Europa combatendo  —    quem sabe?  —   os alemães, seus irmãos em  humanidade. Acompanhado agora está pelo outro alemão  —    o Alzheimer  —    com seu corpo ainda ativo, desamassando pregos...  Desamassa com capricho um por um, e com todo o carinho vai colocando cada um deles em uma lata próxima, examinando todos metodicamente, uma tarefa que beira a perfeição; o alemão não o incomoda. Apesar de todas as limitações impostas pela mente em desalinho, consegue ainda fazer o que fez com amor por toda a sua vida, consegue ainda trabalhar. É tarde agora; lá está o cuidador do caminhoneiro, seu filho, mente ativa e criativa, mente de cientista e coração de anjo, doando com todo amor o seu tempo, amassando ao longo da tarde todos os pregos que o pai desamassou por toda a manhã. Ele carinho...

Agricultor Tão Urbano, Tão Brasileiro

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Interrompa agora a leitura do seu jornal agricultor e vá, vá e leia outros jornais, leia os jornais dos olhares humanos, olhares sem esperança, olhares tão cheios da ilusão do mundo, olhares de medo e desconfiança, olhares tão vazios... Vá agricultor, plante suas árvores, não desista, continue sempre, não tema, plante suas mudas pelo chão, enterre suas mudas - jamais sua dignidade, seu caráter, sua honestidade, sua hombridade... - Não tema agricultor, não tema nada, tu não estás só, tenha coragem, não se deixe envolver pelo medo, pois este pode turvar a sua visão, acredite agricultor, acredite na vida, acredite em tudo o que está dentro de você, acredite nos homens, acredite nos brasileiros, existem muitos e muitos deles agricultor, cheios de boa vontade e dignidade também. A crise moral vai passar, preserve sua integridade para os dias que virão, onde os homens de bem estarão nas escolas, nos hospitais, nos gabinetes, nos campos, nas praças, estarão em todos os lugares, construindo...

O Aviador e a Normalista

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Paulo possuía em si o espírito da aventura, era um homem avançado para o seu tempo, e lá pelos anos cinquenta já pilotava avião e fazia contato com várias pessoas ao redor do mundo através do radioamadorismo. E naquele dia distante, dia armazenado nos escaninhos do tempo, dia ensolarado, talvez, Paulo sobe em seu teco teco e parte em direção ao planalto, deixando para trás a costa e a planície, voando para o sul de Minas Gerais, lá pelas bandas da Serra da Mantiqueira. Naquela região as festas religiosas, festas de aniversário das cidades, festas dos padroeiros, festas..., eram muito tradicionais, havia sempre muita música, comida de boa qualidade, boas conversas, moças bonitas, havia mesmo a boa e inigualável forma mineira de passar o tempo, de passar o dia, de passar a vida. Depois de algum tempo de voo, sobrevoa Pouso Alegre, segue mais além, e  então finalmente pousa o seu avião na cidade de São Gonçalo do Sapucaí, outrora tão rica em ouro, como tantos outros municípios das ...

João, Aquele Abraço

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Tempo bom para um abraço E naquele seis de maio, lá nas entranhas da Serra da Mantiqueira, o menino levanta com uma certeza... Estava frio e chuvoso, ele liga para o pai e pergunta pelo tempo. Estava instável, diz o pai do outro lado da linha, a duzentos e cinquenta quilômetros de distância, mas o sol estava querendo dar o ar da graça. E então apesar do frio e das chuvas esparsas, ele sobe em sua motocicleta e vai aos poucos cruzando a Mantiqueira, passando ao largo de suas cristas, de suas águas, de suas árvores, de sua gente... E pouco a pouco a serra vai ficando para trás, e agora para trás já ficou o Estado de Minas, já é o planalto paulista, outrora rico em cafezais, e ele ele vai firme pela grande rodovia, sempre em direção ao sol, em direção ao leste, em direção ao pai, guiado pelo velho Rio Paraíba, o do sul, rio tão útil, tão amigo e tão desprezado pelos homens, e seguindo o rio, ele chega no estado, o do Rio, deixando São Paulo pelo retrovisor, e continuando sempre vai...

O Voo do Rouxinol

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Voe Rouxinol, voe alto, é maio ainda, e  o céu está azul, muito azul. Renove suas forças rouxinol, e prepare-se para voar mais uma vez, um voo leve e feliz, um voo para seu ninho, para seus filhos, netos, parentes e infinitos amigos, um voo para todos aqueles que a amam. Voe rouxinol, voe o voo dos justos e bons, voe sem medo, não tema os ventos, não tema a tempestade e a escuridão, não tema o frio e os obstáculos da vida, muitos esperam ansiosamente pelo seu regresso, pelo seu canto e encanto. Sabe Rouxinol querido, nestes dias de chumbo em que estamos vivendo, todos necessitam muito dos pássaros, de todos os pássaros do céu, a fim de aliviar as aflições da vida, afinal de contas, estes sempre encantam e trazem constantemente a esperança de dias luminosos e felizes. Voe rouxinol, e por onde passar, vá doando de seu amor e de sua alegria, voe pelo universo que a recebeu, voe por você mesma, e sobretudo voe pela Graça,  pela eterna Graça de Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírit...

Os Baldes da Doutora

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Era um domingo e o Agricultor preparava-se para ir para o campo plantar suas árvores. Muitas mudas já estavam preparadas para a pequena viagem de oito minutos entre sua casa e sua roça, porém faltavam ainda algumas e ele não sabia ainda como levá-las, até que,  na presença de seus vira-latas observou os baldes da doutora... Sim... os baldes resolveriam o problema; poderia levar as mudas ali, mas aqueles baldes bonitos e coloridos eram baldes de roupas e não de plantas, e se a doutora descobrisse... Ele já havia sido avisado diversas vezes, "Não leve os meus baldes meu bem, não leve os meus baldes..." Mas o Agricultor, como todos os demais humanos era humano também... "Ela não descobrirá, antes das dez estarei em casa, e antes dela acordar os baldes já estarão de volta e limpinhos lá na área, fácil, fácil, será um pequenino segredo, sabido apenas por mim, e claro, pelo meu Pai, o Criador."  Enquanto ia a caminho ele continuava a pensar naquela doutora tão esp...