Postagens

Os Baldes da Doutora

Imagem
Era um domingo e o Agricultor preparava-se para ir para o campo plantar suas árvores. Muitas mudas já estavam preparadas para a pequena viagem de oito minutos entre sua casa e sua roça, porém faltavam ainda algumas e ele não sabia ainda como levá-las, até que,  na presença de seus vira-latas observou os baldes da doutora... Sim... os baldes resolveriam o problema; poderia levar as mudas ali, mas aqueles baldes bonitos e coloridos eram baldes de roupas e não de plantas, e se a doutora descobrisse... Ele já havia sido avisado diversas vezes, "Não leve os meus baldes meu bem, não leve os meus baldes..." Mas o Agricultor, como todos os demais humanos era humano também... "Ela não descobrirá, antes das dez estarei em casa, e antes dela acordar os baldes já estarão de volta e limpinhos lá na área, fácil, fácil, será um pequenino segredo, sabido apenas por mim, e claro, pelo meu Pai, o Criador."  Enquanto ia a caminho ele continuava a pensar naquela doutora tão esp...

Botafogo, Estação Terminal

Imagem
Diziam que além de Botafogo havia um escuro túnel, e o homem preso na estação trazia em si o mais profundo medo, o medo de atravessar  aquele túnel...  Ele estava cansado, muito cansado, cansado de andar por todas aquelas estações ao longo de tantos anos. Ele havia deixado de acreditar nos trens, havia deixado de acreditar naquele ir e vir, havia deixado de acreditar na vida, havia sobretudo deixado de acreditar em si mesmo, nada mais fazia sentido. E dia após dia, parado naquela estação, para ele terminal, a do metrô de Botafogo, ele sempre esperava pelo próximo trem a fim de voltar, e jurava de pés juntos que embarcaria, porém... Imaginou todos os trens possíveis, sempre o próximo trem, sempre um trem com algum traço especial, e todos estes trens passaram, e ele paralisado na estação, queria embarcar mas não conseguia, estava preso, preso no tempo, preso na vida, preso na estação, preso em si mesmo, vivendo no seu vazio, no seu cárcere pessoal, c...

Os Fios da Emoção

Imagem
Ninguém soube ao certo como aconteceu, foi tudo muito rápido, talvez uma revolução, ou um devaneio qualquer, ou quem sabe ainda um curto circuito; sabe-se somente que naquele dia, naquele primeiro momento de consciência, houve para aquele homem um rompimento com o canal de suas emoções, canal por onde passavam seus sentimentos, ligando sua mente ao seu coração através de minúsculos fios. Ocorreu então uma ruptura entre o seu pensar e o seu sentir, e desde então, passou ele a viver somente de forma mental, não vivenciando mais nenhuma, ou quase nenhuma das emoções existentes em si mesmo.  No momento em que o canal foi fechado, isolando o seu coração, nem todos os fios condutores das emoções foram rompidos, restou ainda intacto o fio da angústia, de forma que daquele dia em diante, com o seu coração quase transformado em um local abandonado, quase um deserto, o homem passou a viver somente com a sua mente e esta única emoção restante.  Transformou-se então em uma...

A Professora dos Cafezais

Imagem
A Professora amava o céu, as flores... O Sul do Espírito Santo é cortado por uma rodovia, a BR dois meia dois, que liga sua capital Vitória, à capital dos mineiros, Belo Horizonte. Quem segue por esta estrada no sentido capixaba, a certa altura passará por uma região cafeeira, próxima à serra do mar, lá pelas proximidades de Lajinha, Espera Feliz, Iúna e outros municípios mais. Contam os antigos que nesta região, na cidade de Ibatiba, outrora distrito de Iúna, a algum tempo atrás viveu uma professora de nome Egmar, filha de trabalhadores rurais lá das bandas de Alegre, que após concluir o seu curso normal, ainda na flor da idade, foi ministrar suas aulas naquele local ermo e desolado, um fim de mundo, uma terra de plantadores de cafés e pistoleiros, onde posteriormente contraiu matrimônio, fincou suas raízes e constituiu sua família. Contam ainda os mais velhos que, Iúna no passado era considerada umas das cidades mais violentas do Brasil, tendo mesmo ganhado fama nacional em funç...

O Agricultor e as Orquídeas

Imagem
  Ao longo dos anos, o Agricultor andava pela mata  e de vez em quando deparava-se com uma espécie de planta pelo chão, geralmente nos lugares com menos sol e mais matéria orgânica. Ele olhava para aquilo que assemelhava-se a uma espada de são jorge, e na sua ignorância não dava lá muita importância para aquele vegetal. Este processo ocorreu durante alguns anos, a mata foi crescendo, a sombra chegando, a beleza surgindo de todas as partes, os pássaros cantando, frutos, flores, umidade, vários tons de verdes, as minhocas no fundo da terra, as cigarras com seu canto de primavera e verão... Até que em determinado dia, passando ao lado de uma árvore morta ele ficou maravilhado com uma flor que crescia ali, uma linda e solitária flor amarela, flor de rara beleza. Ele ficou contente com a visão, sentiu muita alegria, chegou pertinho, observou a flor, a planta... E então ele percebeu estupefato que, aquela planta ali produzindo aquele jóia da natureza, era a mesma que ele ao longo...

"Um Ser Oliveira"

Imagem
Um Ser Que Como as Árvores, Busca a Luz Ser Oliveira é ser capixaba, paulista, carioca, baiano, fluminense, é mesmo ser rural, é ser urbano, é ser estrangeiro até, é ser francês, é ser suíço, é ser americano também. Ser Oliveira é ser Cosandey, Vailant, Pereira, Motta, Ramos, Silveira, Gomes, Ferreira, Arantes, é ser da Costa, é ser da Silva, é ser da selva, é ser de tudo. Ser Oliveira é ser caixeiro viajante, lavrador, boiadeiro, costureira, cozinheira, motorista de ônibus, táxi e caminhão, balconista, eletricista, dona de casa, mecânico, biscateiro... Ser Oliveira é ser também médico, dentista, advogado, farmacêutico, professor, bancário, veterinário, matemático, músico, funcionário público, técnico, fotógrafo, artista, pesquisador... Ser Oliveira é um ser cheio de gratidão pelos Oliveiras que se foram e deixaram exemplos em nossas vidas, Ser Oliveira é olhar para o futuro, para os jovens Oliveiras de hoje, frutos dos Oliveiras de ontem, os Oliveiras dos Oliveiras, Oliveiras q...

Adelina de Deus

Imagem
Guapuruvu plantado pelo seu neto vovó Sua benção vovó Adelina, brevemente estarei passando perto de sua casa. Fique tranquila vovó, não precisa se preocupar, eu sei que a porta vai estar aberta, então entrarei silenciosamente, pisarei carinhosamente pelas tábuas do assoalho, ouvirei com alegria o ranger da madeira, e caminharei silenciosamente para a cozinha, descendo as escadas para encontrá-la lá dentro. Eu sei vovó querida, eu sei que vai ter mingau de fubá com bastante couve e alho, eu sei vovó querida que vai ter jiló com angu. Então trocaremos um infinito abraço vovó saudosa e amada, e juntos conversaremos e observaremos o movimento lento das águas do ribeirão descendo em direção ao laticínio, em direção ao leste, descendo em direção ao mar. Não se preocupe vovó, eu sei onde fica a casa, fica lá na Vila do Sul, casa inesquecível vovó, um ninho de ternas recordações, casa de Derly, Neracy, Jorcy, Nercy, Juracy, Nely, Derocy e Eguimar, uma pequena casa amarela, casa dos Ol...