O Agricultor e as Orquídeas

 Ao longo dos anos, o Agricultor andava pela mata  e de vez em quando deparava-se com uma espécie de planta pelo chão, geralmente nos lugares com menos sol e mais matéria orgânica. Ele olhava para aquilo que assemelhava-se a uma espada de são jorge, e na sua ignorância não dava lá muita importância para aquele vegetal. Este processo ocorreu durante alguns anos, a mata foi crescendo, a sombra chegando, a beleza surgindo de todas as partes, os pássaros cantando, frutos, flores, umidade, vários tons de verdes, as minhocas no fundo da terra, as cigarras com seu canto de primavera e verão... Até que em determinado dia, passando ao lado de uma árvore morta ele ficou maravilhado com uma flor que crescia ali, uma linda e solitária flor amarela, flor de rara beleza. Ele ficou contente com a visão, sentiu muita alegria, chegou pertinho, observou a flor, a planta... E então ele percebeu estupefato que, aquela planta ali produzindo aquele jóia da natureza, era a mesma que ele ao longo dos anos encontrava pelo chão, e que por desconhecimento desprezava, aquilo não era uma planta qualquer, aquilo era um orquídea, uma belíssima orquídea. O agricultor riu de si para si, ficou contente com a descoberta, pediu perdão à todas as orquídeas que havia desprezado até então, e daquele dia em diante, todas as vezes que andava pela pequena floresta, olhava mais atento para o chão, e quando encontrava orquídeas, pegava-as, e as colocava nas árvores, a fim de que pudessem crescer em paz, produzindo no futuro beleza através de suas flores. E aquele homem do campo, lá com os seus pensamentos, concluiu que a alegria de viver devia ser mesmo assim como uma orquídea desprezada em algum canto do coração, porém na correria do dia a dia, na dificuldade de percepção da vida, ele passava por ela, pela alegria, pela orquídea, sem senti-la, e continuava buscando e buscando, sempre fora, sempre longe, até que finalmente percebeu que a orquídea da alegria nunca deixou de estar dentro do seu próprio coração, e então ele finalmente sentiu a alegria, a alegria pela orquídea, a alegria pela alegria em si mesmo, a alegria pela vida, a alegria por Deus...

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