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Os Fios da Emoção

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Ninguém soube ao certo como aconteceu, foi tudo muito rápido, talvez uma revolução, ou um devaneio qualquer, ou quem sabe ainda um curto circuito; sabe-se somente que naquele dia, naquele primeiro momento de consciência, houve para aquele homem um rompimento com o canal de suas emoções, canal por onde passavam seus sentimentos, ligando sua mente ao seu coração através de minúsculos fios. Ocorreu então uma ruptura entre o seu pensar e o seu sentir, e desde então, passou ele a viver somente de forma mental, não vivenciando mais nenhuma, ou quase nenhuma das emoções existentes em si mesmo.  No momento em que o canal foi fechado, isolando o seu coração, nem todos os fios condutores das emoções foram rompidos, restou ainda intacto o fio da angústia, de forma que daquele dia em diante, com o seu coração quase transformado em um local abandonado, quase um deserto, o homem passou a viver somente com a sua mente e esta única emoção restante.  Transformou-se então em uma...

A Professora dos Cafezais

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A Professora amava o céu, as flores... O Sul do Espírito Santo é cortado por uma rodovia, a BR dois meia dois, que liga sua capital Vitória, à capital dos mineiros, Belo Horizonte. Quem segue por esta estrada no sentido capixaba, a certa altura passará por uma região cafeeira, próxima à serra do mar, lá pelas proximidades de Lajinha, Espera Feliz, Iúna e outros municípios mais. Contam os antigos que nesta região, na cidade de Ibatiba, outrora distrito de Iúna, a algum tempo atrás viveu uma professora de nome Egmar, filha de trabalhadores rurais lá das bandas de Alegre, que após concluir o seu curso normal, ainda na flor da idade, foi ministrar suas aulas naquele local ermo e desolado, um fim de mundo, uma terra de plantadores de cafés e pistoleiros, onde posteriormente contraiu matrimônio, fincou suas raízes e constituiu sua família. Contam ainda os mais velhos que, Iúna no passado era considerada umas das cidades mais violentas do Brasil, tendo mesmo ganhado fama nacional em funç...

O Agricultor e as Orquídeas

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  Ao longo dos anos, o Agricultor andava pela mata  e de vez em quando deparava-se com uma espécie de planta pelo chão, geralmente nos lugares com menos sol e mais matéria orgânica. Ele olhava para aquilo que assemelhava-se a uma espada de são jorge, e na sua ignorância não dava lá muita importância para aquele vegetal. Este processo ocorreu durante alguns anos, a mata foi crescendo, a sombra chegando, a beleza surgindo de todas as partes, os pássaros cantando, frutos, flores, umidade, vários tons de verdes, as minhocas no fundo da terra, as cigarras com seu canto de primavera e verão... Até que em determinado dia, passando ao lado de uma árvore morta ele ficou maravilhado com uma flor que crescia ali, uma linda e solitária flor amarela, flor de rara beleza. Ele ficou contente com a visão, sentiu muita alegria, chegou pertinho, observou a flor, a planta... E então ele percebeu estupefato que, aquela planta ali produzindo aquele jóia da natureza, era a mesma que ele ao longo...

"Um Ser Oliveira"

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Um Ser Que Como as Árvores, Busca a Luz Ser Oliveira é ser capixaba, paulista, carioca, baiano, fluminense, é mesmo ser rural, é ser urbano, é ser estrangeiro até, é ser francês, é ser suíço, é ser americano também. Ser Oliveira é ser Cosandey, Vailant, Pereira, Motta, Ramos, Silveira, Gomes, Ferreira, Arantes, é ser da Costa, é ser da Silva, é ser da selva, é ser de tudo. Ser Oliveira é ser caixeiro viajante, lavrador, boiadeiro, costureira, cozinheira, motorista de ônibus, táxi e caminhão, balconista, eletricista, dona de casa, mecânico, biscateiro... Ser Oliveira é ser também médico, dentista, advogado, farmacêutico, professor, bancário, veterinário, matemático, músico, funcionário público, técnico, fotógrafo, artista, pesquisador... Ser Oliveira é um ser cheio de gratidão pelos Oliveiras que se foram e deixaram exemplos em nossas vidas, Ser Oliveira é olhar para o futuro, para os jovens Oliveiras de hoje, frutos dos Oliveiras de ontem, os Oliveiras dos Oliveiras, Oliveiras q...

Adelina de Deus

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Guapuruvu plantado pelo seu neto vovó Sua benção vovó Adelina, brevemente estarei passando perto de sua casa. Fique tranquila vovó, não precisa se preocupar, eu sei que a porta vai estar aberta, então entrarei silenciosamente, pisarei carinhosamente pelas tábuas do assoalho, ouvirei com alegria o ranger da madeira, e caminharei silenciosamente para a cozinha, descendo as escadas para encontrá-la lá dentro. Eu sei vovó querida, eu sei que vai ter mingau de fubá com bastante couve e alho, eu sei vovó querida que vai ter jiló com angu. Então trocaremos um infinito abraço vovó saudosa e amada, e juntos conversaremos e observaremos o movimento lento das águas do ribeirão descendo em direção ao laticínio, em direção ao leste, descendo em direção ao mar. Não se preocupe vovó, eu sei onde fica a casa, fica lá na Vila do Sul, casa inesquecível vovó, um ninho de ternas recordações, casa de Derly, Neracy, Jorcy, Nercy, Juracy, Nely, Derocy e Eguimar, uma pequena casa amarela, casa dos Ol...

José Arantes, O Eletricista Iluminado

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A Terra é Azul O Homem toca no interruptor na casa de seu pai, e a luz acende, que beleza. E então ele recorda que cada fio condutor de eletricidade daquela casa passou pelas mãos de seu tio, um certo José Arantes, um grande eletricista... E sua memória então viaja para Barra Mansa, a cidade vizinha, no Sul do Estado do Rio de Janeiro, e ele agora é um menino que passa por uma ponte em arcos que cruza um grande rio de águas límpidas, cheio de pescadores debruçados sobre sua murada, lançando suas varas em busca de seus peixes, e continua seguindo, seguindo, até chegar na Rua da Imprensa. E naquele dia de domingo na casa de seu tio, construída sob uma grande encosta, ele aprendeu com o eletricista que a lua girava em torno da terra, e este giro durava vinte e sete dias, e que a terra girava em torno de si mesma, e este giro durava um dia, e que ao mesmo tempo em que girava, também viajava pelo espaço, contornando o sol, e esta viagem espacial durava um ano, e descobriu também que ...

Segure suas Lágrimas Professora Lourdinha

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Segure suas lágrimas professora Lourdinha, os Oliveiras estão chegando. Vão os de Neracy, Nely, Juracy e Eguimar, que se juntarão com os de Derly, Jorcy e Derocy. Trocaremos abraços profundos, mataremos a infinita saudade provocada pelo tempo e a distância, falaremos com respeito e gratidão daqueles que se foram, e que mesmo ausentes tornaram possível este encontro. Creio que a rua ainda é a mesma, a rua 7, rua de profunda e doce lembrança em minha vida, rua de sua casa titia, casa que sempre me recebeu tão bem, rua dos meus primos, rua do meu amigo, tio, padrinho e eterno amigo, o Mosquito, rua da oficina e da casa amarela. Segure suas lágrimas titia, está chegando a hora do abraço, e nesta hora professora, fique tranquila, pois não segurarei lágrima nenhuma, deixarei que elas corram dos meus olhos e molhem o meu rosto e toquem o chão onde um dia pisou João de Oliveira e Adelina, meus avós, pois serão titia, lágrimas de alegria e gratidão, lágrimas pela Senhora, lágrimas por todos ...