O Agricultor e a Bougainvillea Atropelada
Era primavera; como o Agricultor não cultivava trigo, numa certa tarde foi até a padaria para comprar pão. No seu caminho encontrou caído na rua um pequeno galho de Bougainvillea com algumas escoriações — a planta havia sido atropelada por uma, duas ou mais vezes.
A cena daquele galho de planta estendido, esquecido e ferido no asfalto tocou o coração do Agricultor, que o pegou, percebendo que ele ainda tinha seiva e vida.
— Bougainvillea, Bougainvillea, você consegue ouvir-me?
Não obteve nenhuma resposta, os ferimentos eram graves. Resolveu levar a planta ferida para sua casa e cuidar dela. O ramo atropelado foi colocado num saquinho com terra bem fértil e regado diariamente por algum tempo, e três meses depois estava cheio de brotos e pronto para ir para o campo, onde foi plantado em um local bastante ensolarado — as bougainvilleas amam o sol.
Dois invernos depois, numa manhã de sábado fria e ensolarada de sábado, enquanto cuidava de seus canteiros o Agricultor ouviu alguém chamá-lo...
— Agricultor, Agricultor...
O Agricultor achou que estivesse sozinho no campo, olhou para um lado e para outro e não viu ninguém, "deve ser minha imaginação", pensou ele enquanto voltava tranquilamente ao seu trabalho.
— Agricultor, Agricultor, você consegue ouvir-me?
— Quem está falando? — Questionou o Agricultor.
— Sou eu Agricultor, a Bougainvillea atropelada.
O Agricultor caminhou até a planta ali pertinho, e sentiu uma imensa alegria ao deparar-se com a mesma cheia de seiva e vigor.
— Louvado seja Deus Bougainvillea, você está simplesmente linda.
— Louvado seja Deus Agricultor — respondeu a pequenina Bougainvillea exibindo com humildade e simplicidade seu belíssimo vestido de gala vermelho.
— Está vestida para uma festa Bougainvillea?
— Sim Agricultor... meu vestido vermelho de gala expressa minha gratidão pela vida e pelo magnífico baile da primavera que se anuncia; obrigada por tudo.
— Não há de quê Bougainvillea, guarde a certeza de que bailaremos juntos quando a primavera chegar.
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