A Criança, o Velho Manuscrito e a Linguagem do Coração

Aquele manuscrito exposto em um museu, havia sido encontrado em alguma caverna nas proximidades do mar morto, e por décadas, nenhum arqueólogo, bem como nenhum outro ser vivente, havia ainda conseguido traduzi-lo. 

Numa certa tarde, num grande esforço mundial, todos os grandes sábios do mundo foram chamados para tentar desvendar o grande enigma do manuscrito; tudo em vão, ninguém conseguiu ler aquele documento desbotado e amarelado.

Então, aconteceu algo inusitado; um velho arqueólogo havia levado para a conferência um de seus netos, que era uma criança. Quando todos estavam desanimados pelo fracasso generalizado na tentativa da tradução, a criança foi até o documento, olhou para ele, olhou para o seu avô e os demais, e disse:

  Vovô, eu consigo ler o que está escrito aqui.

O Avô, que era sábio, ao ouvir aquilo não ficou constrangido, apenas sorriu, e sorrindo, disse ao neto:

 Em que língua está escrito criança?

 Está escrito na linguagem do coração vovô.

 Por favor, leia então para nós  solicitou o amoroso avô.

Fez-se no  museu um grande silêncio, e no silêncio a criança leu:

"O nome do velho era Orgulho; depois de um tempo, que de tão longo, perdeu-se pelas veredas da eternidade, o velho Orgulho estava finalmente exausto, não suportando mais tanta escuridão.  Então, olhando pela primeira vez para si mesmo, percebeu que sua missão estava cumprida, e que estava na hora de retirar-se. 

Pela primeira vez em sua vida, deitou-se na relva o velho Orgulho e, instantes antes de entregar-se aos braços de Morfeu, o deus do sono, percebeu encantado no firmamento uma infinidade de brilhantes estrelas.

No adormecimento do velho Orgulho, veio o despertar da jovem Humildade, e com ela, a aurora cheia de claridade, que iluminou para todo o sempre toda a escuridão do viver do velho, cansado e adormecido Orgulho".

Terminada a leitura, em sinal de reverência, cada  sábio ali presente retirou do bolso sua estimada e rara caneta Parker 51, ofertando-a à sábia criança  eles haviam entendido plenamente a linguagem do coração. 



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