Sinto Muito, Mas Não Pretendo Ser Um Imperador
Era uma manhã de domingo, verão ainda, princípio de março, quase outono; o morro era alto, muito alto, um dos maiores da cidade, e bem lá no alto dele, solitariamente, o Agricultor Urbano plantava suas árvores, acompanhado de Nina, Tição e Miúda, seus vira-latas e grandes amigos.
Naquele dia e naquela área, depois de combater com unhas e dentes o capim braquiária, que de tão resistente até parecia um rolo de fios metálicos, o Agricultor fez algumas covas e resolveu plantar algumas palmeiras. Plantou então dez palmeiras jerivás, planta nativa em grande parte da América do Sul, e também cinco palmeiras imperiais, palmeira de elevadíssimo porte, nativa da região do Caribe e da América Central.
Enquanto plantava as palmeiras imperiais o Agricultor lembrou-se, através de suas leituras, que aquelas plantas já haviam sido símbolo de grande prestígio social na época do império no Brasil. Suas sementes somente podiam ser cultivadas por ordens imperiais, e somente alguns poucos eleitos do imperador - Condes, Barões, Duques... -, recebiam, quando caiam nas graças do império, algumas mudas; naqueles tempos idos, possuir uma alameda de palmeiras imperiais era um símbolo de grande poder.
Já existia naquela época o famoso jeitinho brasileiro, então, muitos nobres não contemplados com o presente imperial, tentavam conseguir as sementes através do suborno das autoridades públicas, ou mesmo via direta com algum escravo, a quem prometiam liberdade através da alforria, em troca, obviamente, daquelas sementes tão preciosas.
Enquanto naquele dia ensolarado o Agricultor plantava aquelas mudas, ria de si para si daquela situação, e riu ainda mais ao perceber que todas as sementes daquelas palmeiras haviam sido coletadas em um dia de céu aberto, na cidade do Rio de Janeiro, à vista de todos, nos jardins do Palácio Capanema.
Seu riso foi interrompido pelo latido da Nina, que andando por ali no meio da capinzal, acabou caindo dentro de uma grande cova onde haviam sido plantadas algumas bananeiras. O Agricultor interrompeu então o plantio e o curso de seus pensamentos, e socorreu a sua amiga, que por gratidão e amizade latiu alegre para ele.
Sentiu então naquele momento muita paz - uma grande riqueza -, mesmo não sendo um Duque, um Conde, um Barão... A nobreza que ele buscava e cultivava era outra, era interior, ele não possuía em si o menor desejo de ser um Imperador do mundo, seu sonho de liberdade era outro; desejava mesmo era, dia a dia, conhecer e conquistar o pessoal e profundo império de suas próprias emoções, a fim de finalmente conseguir sua própria alforria, deixando de ser um eterno escravo de sua própria e milenar ignorância interior.
Muita boa essa crônica. Adorei essa mensagem de paz e humildade. Gratidão Aluísio .
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