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As Mãos que Fecundam o Solo

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O auditório estava lotado e muitos discursaram, afinal de contas não era sempre que alguém reflorestava solitariamente uma praça inteira, trazendo de volta as árvores, os pássaros, os insetos, as crianças, os atletas, os botânicos, os biólogos, os casais de namorados... Naquele dia o Agricultor Urbano deixou de ser invisível,  era ele o convidado de honra, e muito foi falado sobre o seu grandioso e anônimo trabalho de reflorestamento das praças públicas municipais. Discursou o prefeito, falou o secretário de meio ambiente, falou o presidente da associação de moradores do bairro, falaram alguns vereadores, falaram autoridades civis, militares e eclesiásticas... Depois de muito falatório, finalmente passaram a palavra para o Agricultor Urbano  —  um homem de poucas palavras; sem muitos comentários agradeceu a todos pela homenagem, dizendo que praças degradadas como aquela existiam às dezenas cidade afora, e que o trabalho de replantio de árvores nestes locais era uma inici...

A Sábia Coruja, o Peregrino, o Céu e o Inferno

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Contam que na cidade de Delfim Moreira, no alto da Serra da Mantiqueira, existia um Peregrino que anualmente ia a Aparecida do Norte, e que tinha o sincero desejo de descobrir qual era a real diferença entre o céu e o inferno. Depois de muito peregrinar e procurar pela resposta, ouviu de um simples lavrador que na floresta havia uma Sábia Coruja que certamente saberia responder ao seu questionamento. O homem adentrou a floresta repleta de araucárias à procura da Sábia Coruja, até finalmente localizá-la num final de tarde pousada num dos galhos de um majestoso ipê amarelo da serra.  — Bom dia Sábia Coruja, prazer em conhecê-la.  — O prazer é todo meu, que bons ventos o trazem até aqui. — S ou um Peregrino que busco incessantemente descobrir a qual diferença entre o céu e o inferno. — O inferno é um grande campo com solo degradado e nenhuma vegetação; chega neste local um dia um certo homem de braços cruzados e passa a viver ali, mas as condições de vida são degradantes, n...

O Agricultor Urbano e Seus Representantes

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Naquele mês de outubro o Agricultor urbano saiu para votar, precisava eleger os seus representantes. Para os solos brejosos elegeu jabuticabeiras, ingás, guapuruvus e paineiras; para os solos pobres, arenosos e secos, elegeu ipês de vários partidos: O partido branco, o partido rosa, o partido roxo e o partido amarelo; para as abelhas e os amantes das flores, elegeu girassóis, jacarandás, sibipirunas, quaresmeiras, resedás e manacás; para aqueles que trabalham nas ruas sob o sol, elegeu árvores com largas sombras: Figueiras, amendoeiras, jamelões e jambeiros  —  os garis agradecem ; para os meninos que saem das escolas em grandes grupos, e os transeuntes de um modo geral, elegeu as mangueiras, tão acostumadas a receberem pauladas e pedradas pelos caminhos por onde trafegam os humanos  —  misericórdia Senhor ; para as praças com grandes espaços, elegeu árvores de grande porte: Jatobás, jequitibás, cedros e sumaumas; Com o passar do anos o Agricultor foi acompanhado cad...

Vivo Atirando Por Aí

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Na minha simplicidade de Agricultor Não quero armas em minhas mãos Nelas prefiro as sementes das árvores O tiro das armas mata e assusta Até mesmo os passarinhos do céu Vivo atirando por aí Não projéteis de armas mortais Mas tão somente sementes ao chão Atiro e nasce uma paineira Atiro e nasce uma pitangueira Atiro e nasce uma gameleira Tiros de sementes Tiros de Abundância Tiros de vida Tiros de amor Para que então os tiros das armas dos insensatos? Tiros de projéteis Tiros de miséria Tiros de morte Tiros de dor

Cadê os Passarinhos?

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Como sempre faço todos os dias, peguei o ônibus no ponto, como sempre correndo; o motorista dirigia feito um louco, freando bruscamente, reclamando, buzinando, acelerando... Todos ao meu redor com pressa de chegar, todos fechados em si mesmos, por todos os lados internet, inflação, corrupção, eleição, futebol, jornais, revistas, propagandas, carros, vendedores ambulantes... Cheguei no meu ponto no Largo da Carioca, desci e atravessei a rua correndo, pois o motorista na sua pressa poderia mesmo passar por cima de mim, que loucura meu Deus — seriam os motoristas cariocas meus inimigos figadais? Na Rua 7 de Setembro com a Avenida Rio Branco queria pegar o sinal verde, mas não foi possível, o danado fechou, que droga, vou perder três minutos da minha apressada vida! Parei, observei as pessoas do meu lado, todas olhando para lugar nenhum, todas querendo ir a algum lugar, meu Deus o que faço agora parado nesta esquina junto com todos os outros? Olhei para cima, olhei para o céu, e que marav...

O Amor nos Tempos dos Extraterrestres

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Era uma vez uma bela jovem que acreditava em ET's — seres extraterrestres. A bela jovem muitas vezes visitava uma comunidade na região central do Brasil, bem como outros inúmeros jovens que também acreditavam em ET's. Na comunidade havia um grande líder, um iniciado, que era o único homem sobre a face da terra — segundo ele mesmo afirmava —, que conseguia comunicar-se com estes tais ET's através de um singular idioma conhecido apenas pelos grandes iniciados, o idioma dos ET's  — o grande líder era o único iniciado sobre a superfície do mundo onde pisam minhas botas. Uma coisa que a bela jovem notou quando visitou a comunidade dos convictos na existência dos ET's, é que havia lá uma quantidade enorme de gerânios, quase uma floresta deles. A explicação era simples: Segundo o líder da comunidade, os ET's haviam dito para ele que o final do mundo estava próximo, e quando esta data fatídica chegasse, todos os humanos que tivessem gerânios plantados em suas casas se...

O Amor é Verde Olívia

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Lá se vão quase 40 anos, mas a doce lembrança continua viva dentro mim; de vez em quando ela — a lembrança — faz uma visitinha, e então vem o quadro do prato com arroz, feijão, bife e uma salada de alface retocada de tomates vermelhinhos. Por trás daquele prato saboroso  — o amor é o melhor tempero do mundo —  uma senhora sorridente e, obviamente amorosa, uma inesquecível senhora. Morava longe de minha terra natal, de minha mãe, de minha gente, estava agora na capital dos cariocas tecendo os novos fios de minha vida, tudo era ainda muito estranho, as grandes cidades costumam assustar muito os forasteiros do interior. Nesta época, fazia um curso de especialização em informática na PUC Rio que era, e creio que ainda seja, muito rigorosa, e aqueles que não se aplicassem nos estudos não tinham a menor possibilidade de conseguirem o tão sonhado certificado de conclusão. Na PUC, sob um pé de tamarindo, conheci o filho da inesquecível senhora, e através dele consegui o meu prime...