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Num Canto Qualquer de Uma Certa Praça

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Não era uma vez, era um domingo e o Agricultor estava numa praça, mas por mais incrível que possa parecer, não estava plantando árvores, estava na verdade, à procura delas. Andava de cabeça baixa, observando com seus olhos atentos cada detalhe que via no chão, até que começou a encontrar o que estava procurando — minúsculas árvores em crescimento. Quando o Agricultor começou a aproximar-se das pequeninas árvores, notou um certo ar de preocupação e até mesmo um sentimento de medo entre elas. — Bom dia árvores mirins — falou o Agricultor. Uma das diminutas árvores começou a falar com o Agricultor; tudo indicava que era a porta voz de todas as demais. — Moço, estamos aqui e somos completamente desprezadas por todos; somos muitas vezes ignoradas, maltratadas, pisoteadas, e quando começamos a crescer, somos cortadas pelas serras ou arrancadas do solo pelas enxadas dos "jardineiros municipais". O que você deseja de nós? — Vocês gostariam de crescer livremente no meu quintal? Lá o ...

O Miado da Gata e o Rugido da Onça

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Naquela manhã de sábado de verão, o Agricultor Urbano solitariamente — seus vira-latas haviam partido desta para a melhor — plantava suas árvores numa área pública de sua cidade. Não demorou muito e foi abordado por um jovem que passava pela rua. — Moço, moço... — falou o rapaz — Por que o senhor planta sistematicamente árvores neste local por mais de 25 anos? O Agricultor interrompeu o seu trabalho — estava plantando uma paineira rosa naquele momento —, olhou para o jovem, abriu um sorriso e um diálogo. — Você é muito jovem, como soube disto? — Meus pais e todos os antigos moradores do bairro sabem disto, e as enormes árvores que crescem por aqui atestam de forma indubitável o seu trabalho. — Infelizmente eu não tenho agora a resposta para a sua pergunta. — Como assim? Não entendi! — Meu jovem, se me permite... você tem uma namorada? — Mais do que uma namorada moço, digamos que uma linda gata. — Você  visita a sua gata com frequência? — Ah moço... sempre que posso; estou indo ag...

O Menino Lelé, o Aqui e o Agora

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Era uma vez um menino de nome Lelé que ganhou de presente de seu pai dois lindos cachorrinhos, o Aqui e o Agora; indescritível era a alegria do menino Lelé na presença dos seus amigos. Mas um dia aconteceu uma coisa triste, muito triste; o menino Lelé adormeceu e na manhã seguinte  —  nunca se soube quem deixou o portão aberto  — , tanto o Aqui como o Agora haviam desaparecido. Grande foi o pesar do menino Lelé. Daquele dia em diante a vida do menino Lelé nunca mais foi a mesma; ele simplesmente perdeu o seu equilíbrio interior e contraiu uma doença emocional, não conseguindo mais viver em paz sem o seu presente, evadindo-se da realidade e passando a vagar melancolicamente pela ruas do mundo à procura dos seus amados cachorrinhos, o Aqui e  o Agora  — "O menino Lelé se transformou num lelé da cuca", comentavam tristemente aqueles que o conheciam . Era de doer o coração até das mais empedernidas criaturas o lamento angustiante do menino lelé da cuca vagando pelas...

O Feliz Servidor do Sol

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Nas minhas rotineiras estadas pelo campo vou  tocando em tudo, em tudo... toco com os dedos no chão e brota um ipê; toco com os dedos no solo e nasce um abacateiro; toco novamente com os dedos e cresce uma mangueira; toco mais uma vez e germina uma bananeira;  toco outra vez ainda na terra e na terra — que beleza! — germina milho, feijão, taioba, jaca, paineira, quiabo...  Continuo tocando, e conforme toco tudo vai brotando, tudo colorido, tudo bonito, tudo crescendo em direção ao céu, no entanto, apesar do meu toque sou também tocado, como se eu fosse apenas mais um instrumento dentro da grande orquestra da natureza, onde  o grandioso regente, o sol, tudo toca, trazendo para a terra a maravilhosa sinfonia da vida.  Não, não sou um adorador do sol, e nem tenho o dedo verde como o menino Tistu da obra literária de Maurice Druon, sou tão somente um  feliz servidor do sol. Plantar amorosamente sementes no solo através do toque dos meus dedos, nada mais é ...

A Caixa de Fósforos na Janela e o Ponto Final

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Era uma vez um marido, uma mulher e uma caixa de fósforos. Pelos protocolos da casa onde viviam somente os dois, nos dias mais frios do ano a caixa de fósforos não podia ficar sobre o beiral da janela da cozinha, pois pegava umidade e os fósforos ficavam frios e quase sem vida, com uma enorme dificuldade de irradiarem o fogo pelas suas cabeças altamente inflamáveis  — seriam os palitos de fósforos temperamentais?  Mas muito frequentemente esta regra era quebrada pela mulher; o marido então, de tão neurótico que era, reclamava sobre aquilo, dizia que já havia pedido milhares de vezes, que não adiantava falar, que isto, que aquilo...Depois da ladainha ele sempre contava a história de um ônibus que circulava pela cidade e que, por ser um circular, não tinha um ponto final; então ele dava a cartada final: Mulher, amada mulher, esta história não terá nunca  um ponto final? A mulher nunca respondia nada; simplesmente sorria. Este incidente da caixa de fósforos na janela, d...

O Agricultor Urbano e o Seu Dilema

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Naquela manhã de quarta-feira de fevereiro do ano da graça de 2022, o Agricultor Urbano havia acabado de chegar do campo  onde, como de costume, havia plantado de tudo um pouco; tudo bem pertinho, tudo junto e misturado. Seu desejo mais profundo era voltar na manhã seguinte e fazer tudo novamente. Enquanto degustava o seu café no silêncio de sua casa, viu-se  frente a frente o Agricultor Urbano com as duas faces da sua mente; ele simplesmente observou seus próprios pensamentos... "Lá vem minha mente doente e descontente dizendo para eu não retornar ao campo; lá vem minha mente, mente mentirosa, mente preguiçosa, mente enganosa, mente sinuosa, mente fantasiosa, mente ardilosa, mente falaciosa..."  — fotografia da primeira observação mental do Agricultor. "Lá vem minha mente coerente e contente dizendo para eu retornar ao campo; lá vem minha mente, mente engenhosa, mente maravilhosa, mente talentosa, mente fabulosa, mente voluntariosa, mente gloriosa..."    — foto...

As Pegadas do Agricultor Urbano

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Era uma vez um menino — um americano do sul — que soltava pipa no alto de um morro; nas suas andanças, o menino encontrou e se encantou com duas grandes e profundas pegadas no chão  —    o menino conhecia aquelas pegadas. Por sentir muita beleza naquilo, resolveu fotografar e postar nas redes sociais, comentando simplesmente que havia encontrado as pegadas do Pé Grande, um grande amigo seu. Com a rapidez da internet as imagens rapidamente correram o mundo. Quando os americanos do norte observaram a foto, logo mandaram um especialista para fazer uma análise mais detalhada. Havia ali indícios muito fortes de que aquelas pegadas pudessem ser do Yeti, o Pé Grande, um ser lendário que deixou suas marcas nas montanhas rochosas americanas e canadenses, porém jamais foi visto por viva alma. Chegando o especialista norte americano ao local, que já estava devidamente isolado da curiosidade dos nativos  —    sugestão da embaixada norte americana  — , com a presen...