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Um Amor de Passarinho

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Bosque por Onde Voa o Passarinho Era uma vez um homem que era muito solitário, fechado em si mesmo, triste e cheio de medo de viver. Num certo dia ele passou a sentir um incômodo no peito, havia algo de estranho ali, não era uma dor, era um leve movimento, ou ainda, um sentimento.  Então ele descobriu que dentro dele, do seu próprio peito, ou melhor, dentro do seu coração habitava um passarinho, e ele ficou encantado com a descoberta.  O pássaro era alegre, colorido, belo, bonito, simples, sincero, bondoso, feliz, era enfim, o oposto dele, ou daquilo que ele julgava ser.  O encanto do homem pelo passarinho foi grande, a ave possuía ao mesmo tempo força, graciosidade e uma infinita leveza, e o homem, por intuição, descobriu que tendo em si aquele ser, poderia viver de forma muito harmoniosa e feliz consigo mesmo; aquela ave o preenchia, era um grande tesouro,  e a convivência mútua trazia para ele sempre muita paz e felicidade.  Aos poucos, porém, ...

O Abiu Pequenino

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O pé de abiu já tinha mais de 8 anos de idade, porém mal passava de um metro de altura, havia sido plantado em um local muito seco, onde o solo era muito pobre. O agricultor já havia colocado bastante folhas sob a pequena árvore, nos meses mais secos do ano jogava muita água nela, mas nada da planta crescer. Suas companheiras de mesma idade -  as árvores ao redor -  já estavam bem altas, algumas com mais de doze metros de altura, o ambiente estava ficando todo sombreado e bonito, no entanto, o pequeno abiu continuava lá, se sofria, sofria calado, e o agricultor desejava tanto que ele se desenvolvesse como as demais plantas, chegava mesmo a falar com ele - cresce meu amigo, cresce - e no entanto, lutando contra a pobreza do solo, o pequeno abiu ia resistindo, ano após ano, crescendo muito devagar.  E num dia, o agricultor estava fazendo uma faxina geral no bosque, cortando galhos laterais, retirando o capim que ainda crescia, fazendo aceiro, quando, de repente, passando...

O Manacá da Tia Lourdes

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Manacá da Serra, árvore nativa da Mata Atlântica O agricultor andava feliz da vida entre árvores que ele havia, ao longo dos anos plantado nos fundos do seu quintal. Havia lá uma grande variedade delas, muitas já com vários metros de altura, atraindo pássaros, produzindo sombra, beleza, frescor, abundância... Lá estava a paineira rosa, o ingá, a sibipiruna, o pau ferro, o pau jacaré, a embaúba, e tantas e tantas outras, árvores de sua infância, árvores da mata atlântica, tão amada por ele, árvores da sua vida. Aos poucos, por puro gesto de amor e gratidão, ele ia montando o quebra cabeças daquilo que havia sido no passado uma exuberante floresta, com uma infinidade de variedade de plantas, tudo destruído ao longo de décadas de exploração pelas necessidades, ou não, bicho homem, as árvores foram, uma a uma caindo para o café, para o gado, para a indústria, para o fogo, para as casas, para a ganância, gradativamente a beleza da mata foi dando lugar a aridez do pasto. Quando o agricu...

Primeiro de Março em um Rio de Janeiro

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Largo da Carioca, Rio de Janeiro Sua Benção mãe. Hoje é o dia do seu aniversário, primeiro de março. Confesso mãe que havia mesmo esquecido da data, nunca da senhora, e a irmã ligou para mim e lembrou-me. Lá embaixo agora mãe, no Largo da Carioca, a bandinha está tocando a música cidade maravilhosa, é que mãe, hoje também é aniversário da cidade do Rio de Janeiro, cidade que eu aprendi a amar. A saudade é muita mãe, é profunda, é eterna, tão frondosa como uma velha paineira, tão densa como a sombra de uma mangueira em um dia de verão, tão grande quanto um velho jatobá, sinto às vezes vontade de vê-la, de ouvi-la, de dar um abraço, de ficar ali pertinho, quieto, contemplando a plenitude de sua presença. Sua ausência muitas vezes dói em mim, dói fundo, e eu vou mesmo assim, seguindo adiante, cheio de gratidão por tudo que recebi de ti. Sabe mãe, sinto às vezes que você, de alguma forma vive dentro de mim, quando vou para a cozinha ou para o campo, ou quando ando pelas ruas e convers...

Rua Ibituruna, um Rio em Minha Vida

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Rua Ibituruna, Maracanã, Rio de Janeiro Vejo ao longe a serra do mar e o dedo de Deus, vejo bem pertinho de mim inúmeros e belos oitis, a brisa da tarde me visita agora, o apartamento é grande, arejado, com muita luz natural, um local agradável para se morar. Invariavelmente em todas as manhãs, as maracanãs lá pelas seis, seis e dez passam por aqui, pousam em alguns pinheiros próximos e fazem uma bela algazarra, um espetáculo de som, coreografia e beleza.  O apartamento fica perto do metrô, do trem, da praça, fica perto de tudo, nas ruas adjacentes passam ônibus para a zona norte, zona sul, centro, são tantos os ônibus que passam, deve mesmo passar ônibus até para o céu, bem como para qualquer ponto onde se queira ir.  Olho agora para a janela, se não fosse por um ou dois prédios, poderia avistar o morro do Corcovado e o Cristo Redentor, contudo, vejo o horizonte, vejo outros morros, inclusive o da Mangueira, vejo também algumas árvores lá na Quinta da Boa Vista, vejo ca...

O Agricultor e o Pregador

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Pau Cigarra, uma palavra plantada no chão Cotidianamente, indo para o seu trabalho no centro do Rio de Janeiro, o agricultor desce do metrô na estação do Largo da Carioca e vai em direção à saída do convento de Santo Antônio, onde, subindo a escada tem acesso ao largo, e à rua da Carioca, ali pertinho. E enquanto ia subindo as escadas, diariamente o agricultor ouvia, e logo em seguida via um pregador no largo, lendo a bíblia e falando com as pessoas sobre Deus. Por muito tempo o agricultor, como os demais, simplesmente passava, sem dar muito importância ao fato, como a cidade tem muita vida e muitas pessoas também, tudo acaba mesmo ficando comum, pode-se encontrar um pregador, um cantor, um malabarista, um musico, um pintor ou um artista qualquer, é só andar um pouquinho pela cidade e logo logo alguém assim aparece. Mas um dia, não se sabe porque razão, ele resolveu quebrar a rotina, saiu então do seu mundo e de seu caminho, aproximou-se do pregador, deu para ele um bom dia e o cu...

Os Cães Também Amam

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Nina, a irmã do Billy Billy, um dos vira latas partiu, deixando uma lacuna na casa e muitas saudades. O agricultor, seu filho e sua esposa sentiram muito a falta do animal, a cozinha ficou mais espaçosa, a casa ficou mais triste e vazia. O agricultor foi para o campo, nos fundos do quintal, Nina, Miúda e Tição, os filhotes da Alegria e irmãos do Billy seguiram juntos, sempre foi assim. Enquanto ele ia cuidando do campo, semeando, plantando, carpindo, roçando, feliz da vida, estava sempre rodeado pelos cães que corriam de um lado para o outro e ficavam constantemente por ali próximos ao seu dono. E com o passar do tempo, o agricultor é incansável, podendo mesmo ficar no mato por muitas horas, os cães, um por um vão deixando o homem da terra, e voltando para a sombra da varanda e o conforto e o calor da cozinha, onde adoram ficar sob a mesa. Havia uma exceção, Billy, o que partiu, ficava sempre por ali, até mesmo o cair da noite, sempre próximo, e mesmo fora do seu campo de visão o ...