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É tudo tão concreto

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Estou trabalhando na Cidade do Rio de Janeiro, esta é a vista da minha janela. Consigo por ela observar um pedacinho do céu, tão lindo é o céu. Nem praia, nem bondinho, nem pão de açúcar, nem floresta da Tijuca, nem Maracanã, nem Quinta da Boa Vista, nem Morro da Mangueira, como é lindo o Morro da Mangueira, nem nada.... Uma visão apenas de uma montanha de concreto, concreto por todos os lados .É como se fossem gaiolas, um montão de gaiolas. A minha gaiola é a 1201, a do meu vizinho é a 1202, tem gaiola para o médico, o advogado, o engenheiro, o contador, o funcionário público, o banqueiro, tem gaiola em cima, gaiola embaixo, gaiola ao lado, gaiola em frente, gaiola atrás, gaiolas e gaiolas. Estou louco de vontade de dar uma fugidinha da gaiola, ir lá embaixo, observar as árvores, as pessoas, o céu, o sol, a brisa... Que vontade de fugir da gaiola, mas agora não posso, tem telefone na gaiola, e o telefone não vai demorar para tocar, pode ser também que um outro engaiolado bata na ...

O Bicho da Goiaba

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Goiaba Vermelha Por esta eu não esperava. Inverno ainda, tudo seco, um bom tempo sem chuva, já estava cansado, preparando-me para ir embora, com sede e com fome, meus amigos, os cachorros vira latas já haviam partido,  e de repente... Passei ai do lado desta goiabeira, bem pequena ainda, pouco mais de 1 metro de altura, e não é que tinha uma bela goiaba bem ao alcance de minha mão. Pensei comigo: esta goiaba deve estar com bicho! Relutei, pensei em deixar o fruto no pé para os pássaros comerem, mas... Peguei a goiaba, comi com cuidado, estava doce, muito doce, sem um bicho sequer, foi um presente da goiabeira, eu acho. Como forma de agradecimento, separei algumas sementes e plantei, para que lá na frente tantas outras pessoas e bichos, também possam desfrutar desta coisa deliciosa, que é comer uma goiaba colhida no pé, sem o bicho, o bicho da goiaba.

O Ipê da Professora Isabel

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Estamos no final de agosto, final do inverno. O ipê da professora Isabel está florido, tem sido assim a alguns anos. A professora ficava tão alegre quando via seu ipê todo florido, às vezes perguntava-me: Será que ele vai florir este ano? Floriu Isabel, o ipê floriu. Olho para ele, passo em frente à sua casa, entro e não te encontro por lá, para batermos um papo, tomarmos um cafezinho, falarmos das suas pinturas, dos seus netos, de qualquer coisa...  Como você gostava do ipê, e creio também que ele gostava (e ainda gosta) muito de você também. Cresceu bem rápido, hoje alcança os 10 metros de altura, sabe Isabel, acho, tenho quase certeza, que ele cresceu tanto assim somente para olhar para você, para cuidar de você e te presentear com sua beleza e flores, as árvores são assim, tal como os cães, gostam de seus donos, amam a todos indistintamente. Como você não mais podia ir até ele pelas limitações impostas pela vida, ele resolveu ir até você, e por isto cresceu e sempre aparec...

A Árvore que a Cidade Esqueceu

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Avenida Presidente Vargas, Cidade do Rio de Janeiro Naquela manhã de primavera na cidade do Rio de Janeiro, o Agricultor Urbano passava pela Avenida Presidente Vargas, próximo à Candelária, quando ouviu uma voz: — Ei você, você aí... consegue ouvir-me? — O Agricultor olhou para o lado, percebendo de imediato uma infeliz árvore dentro de um enorme vaso de metal. — Sim, posso ouvi-la minha amiga, em que posso ajudá-la? — Bem... Talvez não haja muito mais o que fazer, podemos então conversar um pouquinho, só um pouquinho? Muitas pessoas passam por aqui todos os dias, porém, ninguém tem tempo, estão todas correndo. O Agricultor teria que chegar as oito horas em ponto no escritório na rua Uruguaiana, percebeu então com alegria que havia tempo, que seria possível conversar com a árvore. — Como você tem passado minha amiga? — Não estou  bem Senhor, no  passado os  humanos deixaram-me neste  vazo metálico no meio desta avenida barulhenta, naquela época eu era bem pequena....

Restô Dontê, ou se o Agricultor não vai à montanha...

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Imagine você a seguinte situação: Acordei 6:00 horas da manhã, caminhei 1 hora até o Centro do Rio de Janeiro, subi 215 degraus de escada, trabalhei mais de 9 horas, e no início do anoitecer, ainda peguei o metrô, fui ao Largo do Machado, participei de uma reunião, peguei o metrô de volta, de forma que cheguei em casa, bem cansado, lá pelas 22:00 horas. Imaginou? Agora imagine que você está sem pai, nem mãe, nem mulher, nem ninguém, e com uma fome daquelas. O Que fazer? A situação é esta, você está na república, bem longe do lar, doce lar, e a fome apertando... Ai o milagre acontece, ocorre a salvação: Você se lembra que cozinhou no dia anterior, que tem comida na geladeira... Junta tudo em uma panela, coloca azeite, um ovo, farinha, pimenta malagueta, dá uma mexida e o resto de ontem transforma-se no famoso prato francês Restô Dontê! Meu amigo da república, estupefato com o tamanho do prato pergunta se eu vou comer aquela montanha? Tranquilamente digo para ele: Se o Agricultor não...

Então os olhos dos bichos vão ficando entristecidos

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Nina Alegria Domingo à noite, está chegando a hora da minha partida para o Rio de Janeiro. Já é assim a alguns anos, faz parte da minha rotina, não me queixo, porém os bichos... Geralmente saio de casa lá pelas 19:00 horas, e lá pelas 5:00 horas da tarde os vira latas começam a mudar o comportamento, vão procurando os cantos da casa, param de latir, vão ficando quietos, estão captando alguma coisa. Não digo para eles que é domingo, que vou partir, que ficarei 5 dias fora, não digo nada disto para eles, porém, eles sabem, eles percebem algo que está além das palavras, além do tempo e do espaço. Se por exemplo, eu não tiver que partir no domingo, digamos que em função de um feriado na segunda feira, eles não ficam amuados... Será que eles conhecem o calendário gregoriano, ou o juliano, ou outro calendário qualquer? Não sei dizer, falo muito com eles, mas jamais obtive uma resposta objetiva, algo com sim ou não, ou não sei, ou concordo, ou discordo, e assim por diante. Ouvi uma ...

30 Km/h

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Eu era menino, e meu pai um caminhoneiro que dirigia uma Scania vermelha, grande,  imensa.... Meu pai Tinha por aquele caminhão um amor infinito, era sua segunda casa. Antes das viagens, acordava bem cedinho, ligava o motor e deixava o mesmo aquecer por um bom tempo. Dizia para mim:  - É para circular o óleo meu filho, o veículo funciona melhor assim, este processo simples aumenta o tempo de vida útil do motor. Possuía um martelinho de madeira, e verificava calmamente, a calibragem de todos os pneus, batendo em cada um deles. Na empresa onde trabalhava era considerado um motorista exemplar, manejava a lona da carroceria como poucos, dirigia sempre com muito equilíbrio e cuidado; quando fazia longas viagens sempre descansava, não tinha pressa de chegar, respeitava os seus limites e os limites da máquina também. Um dia, nas minhas férias fiz com ele uma viagem para o Rio de Janeiro, juntamente com o meu irmão. Esta foi a minha primeira lembrança da Rodovia Presidente...