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O Sonho da Floresta Verdejante

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— Sábia Coruja, venho tendo um sonho recorrente; gostaria muito que você pudesse interpretá-lo para mim. — Qual é o seu sonho Peregrino? — Sonho, praticamente todas as noites, com uma linda floresta no alto de uma colina, repleta de muitas variedades de árvores e uma infinidade de passarinhos empoleirados nos seus galhos sem fim. — Qual o seu sentimento ao recordar-se do sonho todas as manhãs? — Um misto de alegria e tristeza; alegria por aquela floresta tão verdejante e bonita, e tristeza pelo fato de que não passa de um sonho. Eu poderia simplesmente não pensar mais nisto, mas acontece que sonho todas as noites, e consequentemente sinto a mesma estranha angústia e frustração todos os dias, com meu pensamento teimosamente fixo naquele constante sonho noturno. — Desta forma seu belo sonho noturno acaba transformando-se num constante pesadelo diurno. — Exatamente isto Sábia Coruja. — Peregrino, nas proximidades de sua casa existe uma colina? — Sim, existe; moro numa colina com um enorme...

As Duas Mensagens de Alegria

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A primeira mensagem de alegria eu recebi alguns dias antes do Natal; estava solitariamente no alto de um morro plantando árvores, quando em minhas dependências emocionais fui visitado por um amado mecânico da Rua 7 de Setembro da cidade de Alegre, meu amado e inesquecível tio e padrinho, com um bombom em suas mãos, um daqueles deliciosos bombons da Garoto embalado em um lindo papel amarelo — eu conhecia muito bem aqueles bombons. O mecânico estava feliz e sorria abertamente, e ao afastar-se e sem uma única palavra sequer, deixou em mim um pouco de sua alegria interna. Fiquei muito feliz com aquele incidente e pensei lá com os meus botões: "Preciso de alguma forma retribuir esta presença e este antecipado presente de Natal". Passou o Natal e o ano novo começou a avançar, e eu simplesmente esqueci completamente do incidente da feliz visita do meu padrinho; chegou então a segunda mensagem de alegria, ocorreu quando dirigia o carro num sábado chuvoso de janeiro, um dia depois do ...

O Invisível Social Num dia de Natal

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Meus pais compraram uma casa em um novo loteamento há alguns anos atrás; o local ficava no alto de uma grande colina completamente cercada por pastos degradados, de onde era possível avistar muitos lugares distantes na linha do horizonte. Costumava visitá-los de forma costumeira, e me recordo agora que sempre avistava naqueles pastos um homem solitário com um bastão de ferro nas mãos. Ele andava por aquele campo com aquele bastão, parava em determinado ponto, batia o bastão no chão, agachava-se, enfiava a mão em seu bolso, tirava algo de lá para em seguida depositar sobre a terra, levantando-se em seguida para revolver a terra sob os seus pés com suas botas. Aquele processo era repetido por algumas horas ao longo das manhãs. Sempre tive a curiosidade de parar um dia e perguntar para ele o que ele fazia ali, mas nunca fiz isto de fato. Num dia de Natal passei por lá e observei aquele homem na sua costumeira rotina com o bastão. Até no Natal meu Deus do céu, pensei eu, o que afinal d...

As Mãos que Fecundam o Solo

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O auditório estava lotado e muitos discursaram, afinal de contas não era sempre que alguém reflorestava solitariamente uma praça inteira, trazendo de volta as árvores, os pássaros, os insetos, as crianças, os atletas, os botânicos, os biólogos, os casais de namorados... Naquele dia o Agricultor Urbano deixou de ser invisível,  era ele o convidado de honra, e muito foi falado sobre o seu grandioso e anônimo trabalho de reflorestamento das praças públicas municipais. Discursou o prefeito, falou o secretário de meio ambiente, falou o presidente da associação de moradores do bairro, falaram alguns vereadores, falaram autoridades civis, militares e eclesiásticas... Depois de muito falatório, finalmente passaram a palavra para o Agricultor Urbano  —  um homem de poucas palavras; sem muitos comentários agradeceu a todos pela homenagem, dizendo que praças degradadas como aquela existiam às dezenas cidade afora, e que o trabalho de replantio de árvores nestes locais era uma inici...

A Sábia Coruja, o Peregrino, o Céu e o Inferno

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Contam que na cidade de Delfim Moreira, no alto da Serra da Mantiqueira, existia um Peregrino que anualmente ia a Aparecida do Norte, e que tinha o sincero desejo de descobrir qual era a real diferença entre o céu e o inferno. Depois de muito peregrinar e procurar pela resposta, ouviu de um simples lavrador que na floresta havia uma Sábia Coruja que certamente saberia responder ao seu questionamento. O homem adentrou a floresta repleta de araucárias à procura da Sábia Coruja, até finalmente localizá-la num final de tarde pousada num dos galhos de um majestoso ipê amarelo da serra.  — Bom dia Sábia Coruja, prazer em conhecê-la.  — O prazer é todo meu, que bons ventos o trazem até aqui. — S ou um Peregrino que busco incessantemente descobrir a qual diferença entre o céu e o inferno. — O inferno é um grande campo com solo degradado e nenhuma vegetação; chega neste local um dia um certo homem de braços cruzados e passa a viver ali, mas as condições de vida são degradantes, n...

O Agricultor Urbano e Seus Representantes

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Naquele mês de outubro o Agricultor urbano saiu para votar, precisava eleger os seus representantes. Para os solos brejosos elegeu jabuticabeiras, ingás, guapuruvus e paineiras; para os solos pobres, arenosos e secos, elegeu ipês de vários partidos: O partido branco, o partido rosa, o partido roxo e o partido amarelo; para as abelhas e os amantes das flores, elegeu girassóis, jacarandás, sibipirunas, quaresmeiras, resedás e manacás; para aqueles que trabalham nas ruas sob o sol, elegeu árvores com largas sombras: Figueiras, amendoeiras, jamelões e jambeiros  —  os garis agradecem ; para os meninos que saem das escolas em grandes grupos, e os transeuntes de um modo geral, elegeu as mangueiras, tão acostumadas a receberem pauladas e pedradas pelos caminhos por onde trafegam os humanos  —  misericórdia Senhor ; para as praças com grandes espaços, elegeu árvores de grande porte: Jatobás, jequitibás, cedros e sumaumas; Com o passar do anos o Agricultor foi acompanhado cad...

Vivo Atirando Por Aí

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Na minha simplicidade de Agricultor Não quero armas em minhas mãos Nelas prefiro as sementes das árvores O tiro das armas mata e assusta Até mesmo os passarinhos do céu Vivo atirando por aí Não projéteis de armas mortais Mas tão somente sementes ao chão Atiro e nasce uma paineira Atiro e nasce uma pitangueira Atiro e nasce uma gameleira Tiros de sementes Tiros de Abundância Tiros de vida Tiros de amor Para que então os tiros das armas dos insensatos? Tiros de projéteis Tiros de miséria Tiros de morte Tiros de dor